Capítulo 34

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Todos os empregados haviam retornado para suas casas, e ouvindo ele aquela voz animou-se, pensando ser Michele, Continuou no sofá, esperando-a passar pela porta.

– Que bom que voltou amor – animou-se ele, aguardando-a, porém ninguém apareceu.

Novamente a voz o chamou, um pouco mais alto:

– Hermínio!

Ele levantou-se irritado, e seguiu até lá para descobrir quem o importunava. Era a vizinha, Dona Marlene.

Hermínio raramente recebia visitas de seus vizinhos, e nem é preciso explicar o porquê. Ele abriu o portão e esnobou a aflita senhora que balançava todo o seu corpo, esperando para lhe falar.

– Em que posso ajudá-la? – disse em tom arrogante.

– Seu... Seu... – Ela gaguejava nervosa e tremendo-se.

– Seu o quê, Dona Marlene. Vamos, fale logo! – zangou-se ele.

– Seu... Seu...

– Eu vou te ajudar: É Seu Hermínio! Pronto! Fica só nesse "seu, seu, seu"! Agora fale de uma vez!

– Seu filho Johnny...

Ela completou a frase perdendo a voz, deixando-o trêmulo:

– O que aconteceu com o meu filho? Vamos! Fale logo velha! – ele a sacudia.

– Ele caiu na rua, está desmaiado! – Ela conseguiu terminar a fala.

– Meu filho? Onde?! Onde?! Fale!

– Na rua de trás!

Hermínio correu, deixando o portão e toda a casa aberta, e rapidamente chegou ao local que ela havia indicado. Johnny estava desmaiado ao chão. Ao seu redor estavam seus amigos, chorando, tentando acordá-lo, desesperados.

Ele empurrou todos, abaixando-se e chamando pelo filho:

– Johnny! – A multidão multiplicou-se, lotando o espaço ao redor. – Estou aqui, filho! Acorde!

– A gente o trouxe até aqui, e paramos para nos despedir e então ele desmaiou! – Marquinho tentou explicar.

– Você de novo?! – apontou para Marquinho.

– A gente tentou socorrê-lo! – Luiz comentou.

– Não te perguntei nada, seu crentezinho filho da puta! – A ira de Hermínio acendeu-se.

– Hei! Calma aí, meu Senhor! – Um homem que estava ao redor tentou defendê-los. – Eles não têm culpa, só tentaram ajudar!

– Ajudar?! – Hermínio abraçava o filho caído. – A culpa disso tudo é deles! Culpa deles!

– Somos amigos dele, Seu Hermínio! – Marquinho justificou. – Não temos culpa se gostamos dele!

– Não têm culpa? Pelo contrário, a culpa é de vocês! Desde a primeira vez, com Helena! Falsos! Hipócritas! (Ele gritava) Por causa de vocês ele não foi ao médico! Não se tratou, porque estava perdendo tempo na igreja, com essa maldita história de visita, e oração, e culto.

– Deus vai ajudar ele, senhor – falou alguém na multidão.

– Deus? Onde ele está agora? Não é Johnny amigo dele como vocês falam? E por que o amigo do meu filho está de mãos atadas, enquanto o meu filho morre?

Na multidão, ouviam-se frases como: "Como ele pode falar isso?", "Misericórdia Senhor!", "Senhor, não o ouça! Ajude o moço!", "Cuidado com a mão de Deus!", "Deus vai pesar a mão nesse imbecil!", "Filho da puta é ele!" e Hermínio se enfurecia com o que ouvia. Porém o desespero pelo filho tornou-se maior, e chorou.

– Filho! Acorde!

Marquinho contemplou cenas que abalariam até os mais fortes: de um lado um pai chorando pelo filho em seus braços, em outro canto, Mari, Marcelo, Diogo e Luiz se abraçaram, chorando, e ao redor a multidão lamentando-se pelo jovem. A fina chuva caiu e chorou com eles e Marquinho olhou para o céu, abatido, engolindo saliva misturada a pequenas gotas que saltavam em seus lábios. Uma ambulância apareceu, e os paramédicos colocaram Johnny sobre uma maca. Hermínio entrou e permaneceu ao lado do filho, segurando sua mão.

Hermínio estava nervoso, e seu medo aumentava a cada minuto que passava. Sentia-se torturado ao aguardar os exames, e passando uma hora, o médico responsável veio falar com ele, confirmando o trágico estado de seu filho:

– Ele ficará internado, e se piorar, teremos que colocá-lo em coma induzido, porque a dor está aumentando.

– Não! Meu filho não! – Hermínio não acreditava.

Perder seu filho era inaceitável, e de forma nenhuma se conformava. Ele andava de um lado ao outro, sussurrando maldições, resmungando, irando-se quando se lembrava de Deus e acalmando-se quando pensava no filho. Foi liberado para vê-lo na UTI e correu, encontrando-o em tubos e agulhas, e lembrou-se de Helena.

– Filho! – Hermínio segurou sua mão.

– Pai... Está doendo... – Johnny falava devagar.

– Está tudo bem. Vai dar tudo certo.

– Que bom que está aqui.

– Estaremos sempre juntos!

– Eu sei.

– Você é um rapaz forte. Tem uma vida linda pela frente. Vai sair dessa!

– Pai. Quero te pedir uma coisa.

– O quê, meu filho? Pode pedir... Qualquer coisa!

– Se os meus amigos vierem... Deixe-os entrar e não os reprima, por favor!

– Mas...

– Prometa, por favor.

Hermínio abaixou a cabeça e assentiu.

– Quero dizer mais uma coisa – continuou Johnny.

– Pode dizer meu filho!

– Eu te perdoo. Eu te amo, pai.

– Não fale assim. Não se atreva a se despedir.

– O senhor sempre foi um bom pai e um bom homem. Hoje, eu entendo.

– Entende?

– Tudo que fez, no fundo foi para me proteger dos seus medos e temores. Há feridas em seu coração que ninguém entende, nem mesmo eu. Você é o meu herói, pai.

– Filho...

– Mas quero que saiba uma coisa.

– O quê? Pode falar.

– Escute com atenção: Deus não é culpado. Não é culpado pela morte da mamãe. Não é culpado por você o odiar. Não é culpado por eu estar assim.

– Johnny, por favor...

– Apenas escute...

Johnny suspirou e recuperou o fôlego para continuar:

– Deus te ama como amou a mamãe, do mesmo jeito que me ama. Ele enviou seu filho, para morrer por nós, ele nos lavou, e nos remiu. Somos todos pecadores e mentirosos, maldosos e hipócritas, porque ensinamos o que não somos, falamos do amor, mas desprezamos os necessitados, desprezamos os doentes.

Johnny parou um minuto e continuou:

– Vamos à igreja e ouvimos que temos que ajudar ao próximo, mas quem nunca fez o próprio muro dizendo que é para economizar? Não tiramos então o pão de uma família que clamou por essa oportunidade? No fundo somos mesquinhos e pensamos em nós, e é isso o que somos, é a nossa natureza. Estamos mais preocupados em debater religião do que praticar a verdadeira.

– E qual é a verdadeira religião? – Hermínio deu atenção às palavras do filho. – Católica, evangélica, espírita? Qual?

– Nenhuma delas, pai.

– Não entendo.

– Verdadeira religião é visitar os órfãos e as viúvas, pai, e guarda-se da corrupção do mundo.

Hermínio calou-se, ouvindo o filho. Não forçou a barra, não poderia, mesmo não aceitando


★ JOHNNY [DRAMA/CRISTÃO/CCB]Onde histórias criam vida. Descubra agora