Capítulo 16

52 7 0
                                    


A noite tomou os céus, e Johnny retornou para casa. Hermínio não estava, e ele sentiu-se em parte aliviado, não queria debater aquela noite. Johnny deu uma volta pela sala e encontrou Michele sozinha. Curioso, ele perguntou:

– Onde ele está?

– Ele quem?

– Meu pai.

– Ora... Pensei que ele estivesse com você!

– Por que diz isso? – Johnny não entendeu.

– Porque ele saiu de carro atrás de você.

– Pai do céu!

Johnny correu para o portão, tentando pegar um taxi e retornar para Antares, imaginando o pior.

– O que está acontecendo? – Michele não compreendeu.

– Já viu o carro do meu pai, Michele?

– Todos os dias...

– Um carro grande daquele, com película escura... Os traficantes podem confundi-lo com um policial.

– Ai, meu Deus! – Michele desesperou-se.

Hermínio dirigia lentamente no centro da Avenida Antares, procurando por algum sinal de Johnny, e uma estranha movimentação aconteceu sem que ele percebesse. Alguns fogos de artifícios foram lançados ao céu, em sua direção, e ele não deu muita importância.

Alguns homens armados de um fuzil Ak-47 saltaram bem à sua frente, gritando e apontando:

– Sai do carro! Sai do carro!

Hermínio abriu a porta e levantou suas mãos.

– Calma, estou saindo!

– Você é pulícia! – um deles gritava.

– Não sou policial, sou diretor de um...

– Cala a boca, seu verme! Vai morrer hoje! – ele o empurrava, fazendo-o bater com as costas na lateral do carro.

– Está me confundindo!

– Acha que não sei que é cana? Com um carrão desses por aqui, vigiando a comunidade?

Hermínio foi obrigado a abandonar o carro na estrada e foi escoltado para dentro da favela, recebendo tapas nas costas:

– Vai morrê, cana!

Johnny desesperou-se. Nenhum taxi aceitou entrar na Avenida Antares àquela hora. Com muito esforço conseguiu pegar um ônibus que passou milagrosamente, e desceu ao ver o carro do pai largado na estrada, com a porta aberta, e alguns curiosos. Ele aproximou-se e espantou a todos. "Meu pai está em perigo!", pensou ele.

Johnny encontrou a chave na ignição, e deu partida, dirigindo e o procurando. Um traficante o parou, apontando um fuzil para ele.

– Hei! Hei! Ta indo pra onde?

– Onde é a boca de fumo? – perguntou Johnny.

– Tu é pulícia ou quer dar um teco?

– Não sou policial e nem quero usar drogas. Eu estive aqui na casa da irmã Maria, que tem uma cadeira de rodas, para fazer uma visita, e meu pai veio me procurar. Achei o carro dele na pista.

– A irmã Maria lá do beco?

– Ela mesma! Somos da mesma igreja!

– Ela é boazinha! Uma vez me deu um prato de cumida e...

– Então? – Johnny o apressou.

– Foi mal! Eu to sabendo de um papo, de um pulícia que foi pego lá na pista ainda agora.

– Meu pai não é policial. Isso é um engano!

– Eu vou passar a visão e descobrir onde ele está.

O traficante pegou um rádio tipo walkie-talkie e tentou falar com outros traficantes, mas ninguém o respondeu.

– Acho que a bateria acabou!

Dentro de uma casa suja e quebrada, um bandido socava Hermínio, obrigando-o a confessar:

– Bora! Fala logo! Tu é pulícia ou miliciano?

– Não sou policial, menos ainda miliciano – respondia seco.

– Tu é muito marrento mermo! Deve ser daqueles pulícias que mata sorrino! – dizia um traficante doido para judiá-lo.

– Vamo matá ele! – afobado, um deles apontava a arma para sua cabeça.

– O chefe não liberou ainda.

– Está com medo de morrer, pulícia? – Outro tentava aplicar terror psicológico.

– Já disse... Não sou policial. Estou aqui procurando meu filho – justificava.

– Cala essa boca, seu farsante! Teu tempo já era! – zombava um deles batendo em sua nuca com a coronha.

– O único merdinha aqui é você. Bandido bom é bandido morto – Hermínio o provocava.

– Filho da puta abusado! – o traficante enfurecido o socou e engatilhou sua pistola cromada e preparou-se para atirar. – Quero ver se tu é macho agora!

O homem ajeitou seus dedos para disparar, porém uma mão segurou seu braço, impedindo-o.

– Fique tranquilo...

Era Rambo, acompanhado de Alice e Johnny.


★ JOHNNY [DRAMA/CRISTÃO/CCB]Onde histórias criam vida. Descubra agora