Capítulo 6

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Johnny fez um movimento, aguardando a vez de seu oponente. O idoso do outro lado da mesa mexeu uma peça preta do tabuleiro de damas e sorriu triunfante. Johnny elevou a mão ao queixo, pensando na próxima jogada.

– Ganhei meu jovem! – sorriu o simpático velhinho.

– Calma, o jogo ainda não terminou.

Parecia estar tudo perdido naquele tabuleiro, e realmente estava. Johnny rendeu-se com um movimento obrigatório, acompanhado de um sorriso de derrota. O idoso terminou com uma jogada fantástica, derrotando quase todas as peças brancas de uma só vez.

– Ganhei de novo! – comemorou.

– Você é o cara! Mas esta foi a última vez, preciso ir agora.

– Obrigado pela companhia.

– O prazer foi meu – Johnny sorriu e emendou: – Não espere moleza na próxima vez!

– Pode deixar. Depois de vinte vezes te vencendo, não espero moleza mesmo! – brincou o vovô.

Aqueles idosos se reuniam no "Baixo Vovô", como era apelidada aquela praça com muitas árvores e mesas de cimento desenhadas para jogos de damas estampadas em preto e branco, e o sol tardio típico do horário de verão iluminava alguns adolescentes que arriscavam manobras de skates. Em especial, havia um morador de rua, que ali vivia, e Johnny sempre o visitava, e lhe trazia um gordo lanche.

Johnny o procurou, perguntando a alguns passantes, mas ninguém sabia onde ele estava.

– Viu o Mostarda?

– Vi mais cedo. Agora não sei! – Todos tinham a mesma resposta.

Ele vasculhou todos os cantos, até que chegou numa área com uns trapos característicos do andarilho, jogados ao chão, mas não havia sinal dele. Virou-se para um idoso e perguntou:

– Viu o Mostarda?

– Acho que foi até a padaria ver se consegue algo para comer. Deve estar com fome.

Mal terminaram a conversa e lá vinha Mostarda bufando, voltando à passos largos, virando-se e apontando para trás, resmungando e falando sozinho:

– Pão duro! Pão duro!

Johnny segurou o sorriso, e intrigado esperou até que ele retornasse e, enfim, finalmente se encontraram.

– O que aconteceu? – perguntou confuso.

– Aquele filho da... – O andarilho era muito desbocado e sempre se controlava perto de Johnny, por respeito ao jovem que tanto admirava. – Aquela coisa linda lá da padaria!

Johnny sorriu, achando hilário.

O andarilho continuou:

– Ele me ofende! Mandou eu sair da porta da padaria, dizendo que eu incomodo os clientes dele! – demonstrava raiva. – Também sou filho de Deus, ora!

– Isso é típico do ser humano – Johnny falava e ao mesmo tempo desembrulhava um lanche. – Mas nem tudo está perdido. Tome, trouxe pra você.

– Você é o melhor, Johnny. Já estava com saudades! – Ele alegrou-se.

Mostarda agarrou-se àquele pão reforçado com queijo, requeijão, alface e muito salame, do jeito que adorava, e sentou-se na grama, comendo prazeroso, enquanto Johnny apenas o acompanhava.

– Sabe... A vida não é fácil para um andarilho. As pessoas têm medo de nós. Elas pensam que somos animais – lamentou-se cabisbaixo.

– E pensar que você tinha tudo isso fácil, né, Mostarda! – disse um idoso que passou debochando.

★ JOHNNY [DRAMA/CRISTÃO/CCB]Onde histórias criam vida. Descubra agora