Capítulo 13

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(Tac, tac, tac.)

O som do tiroteio era desesperador e a comunidade de Antares ficou deserta em plena tarde de sábado. Alguns moradores saíam de casa e paravam nas esquinas, assistindo tudo naturalmente, como se fossem à prova de balas.

– Entra, merda! – gritou o PM com um morador que teimava conversar com outro no portão.

– Corre! Os canas estão na ponte amarela! – gritava um traficante.

– Ele correu pro beco! – Um policial gritava, enquanto outros correram atrás do traficante.

– Meu pai deve estar preocupado! – Marcelo comentou assustado.

Johnny e os jovens estavam ali novamente, para visitarem uma irmã paralítica que não congregava.

– Luiz, por favor, saia da porta! – Johnny chamava sua atenção.

Para completar, aquela tarde o calor foi intenso, com temperatura de quarenta graus dentro daquela apertada sala. As casas de Antares não possuem quintal, somente uma área de serviço nos fundos, com aproximadamente seis metros quadrados. A porta da frente é a única saída para o beco e as paredes laterais são divididas com os vizinhos, e por isso não há ventilação. Um gigantesco amontoado de telhas de amianto cobria todas as casas, formando um mar cinzento, como um manto, começando na frente da casa, com a altura de dois metros, e subindo até a última parede da cozinha. A sala pequena mal cabia um conjunto de sofá com uma instante de madeira, e os quartos pequenos e escuros, quentes como fornos. Esse é o sofrimento dos moradores de Antares.

– Tadinhos de vocês! – A irmã idosa se entristeceu ao vê-los em desespero. – Por minha causa estão passando por tudo isso.

– Que isso, irmã Maria. O mesmo Deus que nos trouxe nos levará em paz – Marquinho a consolou.

– Misericórdia, Senhor – Luiz sentou-se no sofá recolhendo-se.

– Acho que acabou! – Diogo conferiu. – Os PMS se foram.

– Glória a Deus! – glorificou Marcelo.

– É sempre assim, irmã? – Luiz perguntou ainda assustado.

– É meu filho, sabe como é: quando tem operação na favela, só Deus para nos guardar – respondeu ela, sentada em sua cadeira de rodas.

– E os traficantes? – Marcelo perguntou curioso. – Eles são maus?

– Meu filho... Qual é o espírito que está em uma pessoa que usa arma e drogas?

– Com certeza um espírito maligno – Luiz arregalou os olhos.

– Tem uns que são até legais. Eu conheço alguns desde crianças. Eles brincavam aqui na porta com os meus filhos, e me respeitam e a outros moradores também.

– E os irmãos da Congregação? Quando eles vêm, fazem visitas ou evangelizam? – Luiz continuou.

– Bem, meu filho, como eu irei te explicar... Só vocês vêm aqui. Às vezes Deus prepara uns irmãos de longe, de São Paulo, mas daqui é difícil... O povo tem medo.

– Poxa irmã... Que triste – Johnny sentiu o desprezo.

– Então os irmãos que moram aqui não recebem visitas? – Marcelo ficou curioso.

– Recebem... Mas são os próprios irmãos daqui que fazem. E pra complicar, um dos gerentes da comunidade está morando nessa casa ao lado – Ela apontou para a casa à esquerda.

– Misericórdia, Senhor! – Marcelo deu um pulo forte do sofá, desgrudando-se da parede que coincidia com a casa do homem.

– E como são eles? – Johnny perguntou.

★ JOHNNY [DRAMA/CRISTÃO/CCB]Onde histórias criam vida. Descubra agora