Capítulo 2

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1997

Johnny era tipo aquele irmão legal e o seu dom era fazer sorrir. No auge de seus vinte e três anos, animado, enérgico, chamando atenção e cativando pessoas por onde passava. Um jovem de afeição carismática, e em sua face sempre havia sorriso, ocultando seu sofrimento e suas provações e jamais resplandecia suas tristezas, amarguras ou desilusões. De classe média alta, porque seu pai era diretor de um grande hotel muito influente na zona sul do Rio de Janeiro e pagava suas contas e sua faculdade de odontologia.

Sua casa era um espetáculo à parte: toda feita em pedras e madeira, três andares, muitos quartos, uma gigantesca sala bem arejada, bem mobiliada, piscina e um lindo jardim que cruzava o terreno frontal. Um Tempra dezesseis válvulas, zero quilômetro era a sensação da época e seu pai adorava, e na garagem havia espaço para mais três, se quisesse. Um jardineiro, uma passadeira e uma empregada doméstica cuidavam de tudo, para que Johnny focasse em seus estudos e no estágio onde ele trabalhava. Entretanto nada disso importava para ele. Andava simples, de chinelos, misturando-se com todos, de qualquer classe, raça ou religião.

Certa vez, foi visitar um irmão de sua igreja, vestindo calça jeans, blusa de moletom com tênis, e um dos presentes, daqueles que se acham superiores, questionou o porquê daqueles trajes. O homem alegou que um verdadeiro servo de Deus deve vestir-se adequadamente para missões espirituais, quando estiver em nome da igreja. Johnny tinha ternos aos montes, e até doava alguns para membros que estavam em dificuldades, e respondendo-o, disse que um verdadeiro servo de Deus precisa andar bem vestido em seu coração, e que em vão são ternos para quem está com as vestes espirituais sujas ou manchadas. E isso aborrecia os fanáticos dentro da igreja, e contorciam-se de ira, desejando o seu mal, para provarem suas imposições e falsas doutrinas. Mas Johnny sempre fora justificado por Deus, e saía vitorioso, mesmo sem o terno, mesmo sem as vestes apropriadas, e a alegria visitava os corações de quem o recebia, e no final, algo novo surgia em suas vidas como um novo emprego, uma doença sendo tratada ou curada, ou simplesmente sendo eles animados pelas palavras de sabedoria que ele tanto pregava, e isso desequilibrava todos os conceitos religiosos, pois como poderia Deus o abençoar tanto se realmente estivesse espiritualmente desalinhado?

Johnny cursava o terceiro período de odontologia, e estudava na faculdade no mesmo bairro onde morava, contrariando seu pai, que desejava a ele uma formação em administração, e que seguisse seus caminhos, em sua carreira hoteleira.

Solteiro, havia terminado seu namoro com uma jovem antes de ser cristão, e com ela ficou por três anos, até perceberem que a relação não caminhava bem e decidiram terminar. Na verdade ela terminou, e viajou para a Espanha, dificultando qualquer reaproximação de ambos, já que se gostavam bastante, e com certeza teriam grandes chances de reatarem o namoro, caso se reencontrassem.

Batizado na Congregação Cristã no Brasil desde seus dezoito anos de idade, ele iniciou sua carreira de crente, servo de Deus, firme, e amava visitar os pobres e necessitados, sempre sorrindo e carismático, carinhoso e afetuoso, juntando jovens e amigos para o acompanharem, e sempre pedindo a Marquinho, seu amigo e companheiro, que levasse o violão para cantarem aonde fossem. Johnny cedia a liberdade para algumas composições avulsas dos companheiros de sua irmandade cristã, e por mais que respeitasse a doutrina da igreja (porque os mais velhos da Congregação aconselham a não fazer esse tipo de ação musical nas visitas, para proteção da igreja, pois essas músicas não pertencem oficialmente ao hinário), ele acabava permitindo, dando vazão a alguns espíritos fofoqueiros que se apressavam em contar ao ministério, a fim de prejudicá-lo.

★ JOHNNY [DRAMA/CRISTÃO/CCB]Onde histórias criam vida. Descubra agora