Capítulo 47

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Hermínio sentia-se só, Michele Júlia não conseguiam completar o vazio em seu peito. Novamente, às três da manhã, Hermínio estava na sala, vendo TV e ouviu Johnny conversar com alguém dentro do quarto. Levantou-se correndo e abrindo a porta nada viu. Ninguém além de Johnny.

Desolado, retornou a sala e lembrou-se da voz que o chamou.

– Não vai me chamar? Agora eu é que tenho que te chamar, é? – Ironizou.

Na tarde seguinte, num lugar bem distante, as dezenove e trinta, o cooperador da igreja levantou-se para atender o culto:

– Deus seja louvado!

– Amém! – respondeu a igreja.

Marquinho sentou no último banco da igreja e Hermínio ao seu lado. Era uma igreja realmente distante, onde ninguém os conhecia. Hermínio buscava todos os lados, procurando pela menina, mas ela não apareceu.

Cantaram três hinos, oraram e ouviram os testemunhos, mas Hermínio não prestava atenção. Ele se concentrava apenas em encontrá-la. No momento da palavra, o cooperador perguntou se alguém ali possuía a revelação e ninguém se manifestou. O cooperador esperou um pouco mais.

Hermínio entendia que a palavra era o momento que Deus falava ao povo, porque Marquinho havia o explicado, e ficou mais nervoso, procurando-a. Num piscar de olhos a menina entrou pelo átrio, sorrindo para Hermínio e cruzando o corredor central, em direção ao púlpito.

– Lá está ela! – Hermínio sorriu.

– Mas... Não há ninguém, Seu Hermínio – comentou Marquinho.

Ela subiu as escadinhas e tocou a mão do cooperador, e naquele momento ele aproximou-se do microfone declarando a revelação da palavra:

– Deus seja louvado!

– Amém! – Todos responderam.

– Deus me revelou, neste exato momento, a palavra no livro de São Mateus, no Novo Testamento, no capítulo 27, versículo 32 em diante.

Todos abriram suas bíblias para acompanhar a leitura. Porém Hermínio apenas continuava a observá-la.

Ela abria a boca e falava, o cooperador repetia exatamente o que era dito por ela e Hermínio espantou-se, arrepiando-se todo.

– Se todos têm achado, leremos com a ajuda de Deus e de seu bom espírito:

"E quando saíam, encontraram um homem cireneu, chamado Simão, a quem constrangeram a levar a sua cruz. E chegando no lugar chamado Gólgota, que significa Lugar da Caveira, deram-lhe a beber vinho misturado com fel; mas ele provando-o, não quis beber. E havendo-o crucificado, repartiram suas vestes, lançando sortes, para que cumprisse o que foi dito pelo profeta: Repartiram entre si as minhas vestes, e sobre a minha túnica lançaram sortes. E, assentados, o guardavam ali. E, por cima de sua cabeça, puseram escrita a sua acusação: ESTE É JESUS, O REI DOS JUDEUS. E foram crucificados com ele dois salteadores, um, à direita, e outro, a esquerda. E os que passavam blasfemavam dele, maneando a cabeça e dizendo: Tu, que destrói o templo e, que em três dias, o reedificas, salva-te a ti mesmo; se és o filho de Deus, desce da cruz. E da mesma maneira também os príncipes dos sacerdotes, com os escribas, e anciãos, e fariseus, escarnecendo, diziam: Salvou aos outros e a si mesmo não pode salvar-se. Se é o rei de Israel, desça, agora, da cruz, e creremos nele; confiou em Deus; livre-o agora, se o ama; porque disse: Sou o Filho de Deus. E o mesmo lhe lançaram também em rosto os salteadores que com ele estavam crucificados. E desde a hora sexta, houve trevas sobre toda a terra, até a hora nona. E perto da hora nona, exclamou Jesus em alta voz, dizendo: Eli, Eli, lema sabactâni, isto é, Deus meu, Deus meu por que me desamparaste? E alguns dos que ali estavam, ouvindo isto, diziam: Este chama por Elias. E logo um deles, correndo, tomou uma esponja, e embebeu-a em vinagre, e pondo-a numa cana, dava-lhe de beber. Outros, porém, diziam: Deixa, vejamos se Elias vem livrá-lo. E Jesus, chamando outra vez com grande voz, entregou o espírito. E eis que o véu do templo se rasgou em dois, de alto a baixo; tremeu a terra, e fenderam-se as pedras. E abriram os sepulcros, depois da ressurreição dele, entraram na Cidade Santa e apareceram a muitos. E o centurião e os que com ele guardavam a Jesus, Vendo o terremoto e as coisas que haviam sucedido, tiveram grande temor e disseram: Verdadeiramente, este era o Filho de Deus. E estavam ali, olhando de longe, muitas mulheres que tinham seguido Jesus desde a Galileia, para o servir, entre as quais estavam Maria Madalena, Maria, mãe de Tiago e José, e a mãe dos filhos de Zebedeu.".

Terminada a leitura, a menina abria a boca e o cooperador a espelhava, idêntico, pregando e exortando à igreja:

A EXORTAÇÃO DA PALAVRA

Queridos irmãos.

Hoje Deus nos enviou esta palavra, pois para tudo que ele faz há um propósito. Nós desconhecemos, mas Deus não!

Ele é onisciente, ou seja, sua ciência é única e total sobre todas as outras. É onipresente, ou seja, está em todo o lugar. E onipotente, ou seja, dono de toda a força e poder que há na terra.

Vemos nesta leitura, que ele entregou seu único filho, pelo amor de nossas almas. Qual pai suportaria ver seu filho em um estado desses, morrendo, e o deixaria assim sem fazer nada?

(Hermínio sentiu a dor no mesmo instante).

Deram-lhe vinagre, escarneceram dele, colocaram fel em sua boca quando teve com sede. Você aguentaria isso, pai que nos visita?

Você diz que Deus te abandonou no passado. E na verdade foi você que me abandonou! Por que me odeia tanto?

(Hermínio percebeu algo diferente ali, pois a menina o encarava).

Eu te fiz um convite: disse que se viesse aqui, eu sentaria ao teu lado, te daria a minha mão e te ajudaria! E te fiz uma proposta: eu falaria com a minha voz e minha boca as palavras de seu filho, conforme ele quer que eu te fale, eu sendo ele, ou como se ele estivesse aqui!

(Hermínio ficou bastante assustado e olhava para Marquinho. O jovem apenas glorificava a Deus).

E Deus enviou um anjo onde ele está, e está o perguntando o que ele quer que eu te fale. Porque todas as noites o meu anjo conversa com ele.

(Hermínio entendeu o que eram as conversas de Johnny pela madrugada).

Eis o que ele pediu-me para te falar:

Pai. Estou feliz por você estar na igreja, ouvindo a palavra. Fique em paz, estou nas mãos de Deus. Você é o meu herói, pai!

(Hermínio e Marquinho choraram).

Filho, eu estou aqui, e sinto por ti imenso amor. Se tu choras por teu filho, também choro por ti! Apenas venha me servir, este caminho seguir, e terás uma certeza: um dia entrarás no céu, naquele mesmo céu que eu te mostrei.

(Hermínio não conteve suas lágrimas e desabou).

Eu te fiz uma proposta e a cumprirei, pois não sou homem para que minta. Ele tem conversado comigo todas as noites.

Creia nisso: daqui a alguns dias, eu te darei um último momento, uma única noite. Então firmaremos o nosso acordo.

A partir de hoje, início uma obra de conversão em sua alma, e conhecerás os meus mistérios. Será um novo homem. O teu passado eu apagarei.

Esta é a palavra, Deus seja louvado!

Hermínio levantou sua cabeça, e a menina desapareceu, como antes. Eles retornaram para o carro e a ninguém saudaram. Hermínio deixou Marquinho em sua casa, e foi-se embora. Em casa, foi direto para o quarto de Johnny e o viu deitado. A fé entrara em seu coração, ainda que timidamente e chamou pelo filho:

– Johnny.

Ele não respondeu e imóvel permaneceu em sua cama.

– Johnny.

Hermínio insistiu, mas sem resultados.

– Só queria que soubesse... Eu fui à igreja.

Hermínio chorou ali, segurando a mão do filho. Preparou-se para levantar-se e sentiu o filho apertar sua mão de forma bem fraca.

– Johnny! Johnny! – Ele sorriu e chorou.


★ JOHNNY [DRAMA/CRISTÃO/CCB]Onde histórias criam vida. Descubra agora