Capítulo 40

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No dia seguinte, após sair do hotel, Hermínio retornou para casa, abatido e calado. Ligou seu rádio em uma estação de rock para descontrair e subiu a serra que divide o Recreio dos Bandeirantes e Ilha de Guaratiba. Na descida, a rádio chiou e nada descente ouviu-se, porém após um quilômetro ou mais, o chiado sumiu e a rádio retornou, tocando novamente aquela música: "Knockin' on Heaven's Door". Hermínio esticou a mão por impulso, para desligar, mas deixou tocar, lembrando-se do bar, decidindo passar lá mais uma vez, para rever os amigos, beber alguma coisa, talvez se entender um pouco com a depressão.

Estacionou e olhou ao redor e para o céu, encarando aquele dia bonito. O lugar estava calmo e silencioso, e ele estranhou. Entrando, encontrou um círculo de motoqueiros e roqueiros em torno da mesa de sinuca de mãos dadas, e pareciam orar. O que orava, vendo Hermínio, parou e todos levantaram suas cabeças. Então, miraram a porta do bar e viram Hermínio paralisado.

Ronaldo o chamou:

– Que bom que chegou! Junte-se a nós!

Ronaldo buscou Hermínio, segurando-o pelo braço. Trouxe-o e o juntou a eles. Hermínio não entendeu, e ficou atordoado. Ainda perdido, viu sobre a mesa de sinuca a foto de Johnny, e arrepiou-se, deixando uma lágrima cair de seus cansados olhos.

O que orava, retornou a falar, e Hermínio tremeu as pernas, querendo sair, porém algo maior o prendia.

– Jesus. Tome esse jovem em suas mãos.

Aqueles homens juntaram-se para orar por seu filho. Ele nunca os viu praticarem algo semelhante em todos esses anos, e isso o abalou profundamente.

– Deus! Aquele menino é bom, ajuda a todos, coração de ouro! A gente até que não presta! – Alguns riram baixinho. – Johnny, não! Ele é especial e diferente!

Outro tomou a palavra:

– Verdade, Deus. A gente o viu crescer! A gente nem sabe orar direito, mas é de coração! Até o pai dele está aqui! E eu vou passar a vez pra ele! – O homem apontou para Hermínio.

Hermínio arregalou seus olhos e engoliu saliva. Suas mãos suavam e pernas tremiam, e olhava para todos, perdido e espantado. A foto de seu filho reluzia ao centro, e todos o esperavam falar. Como faria isso? Como ele tendo o coração duro rejeitaria sem ofensas, afinal, aquela atitude mexeu com sua alma.

– Bem, eu...

Os motoqueiros sorriam e o estimulavam:

– Vamos! Você consegue!

Hermínio soltou uma pequena frase trêmula:

– Obrigado por tudo!

– Amém! – responderam todos.

Hermínio retornou rapidamente para o carro, e não conseguia dar a partida, pois sua mão tremia.

– O que está acontecendo? – Ele secou o rosto, virou sua cabeça para trás, encostando-a no banco e fechou seus olhos. Suspirou forte por um instante, tentando recompor o seu espírito. Olhou em todas as direções como um louco, e finalmente deu partida, seguindo para casa.

Na porta de sua casa, algumas senhoras idosas de uma igreja católica conversam. Elas amavam Johnny e tentavam visitá-lo. Michele as recebeu no portão e permaneceu aflita, vendo-as ali, com medo de Hermínio aparecer e maltratá-las.

– Viemos vê-lo, minha filha – disse uma delas.

– Ele é um jovem tão bom! – disse outra.

– Obrigado.

– Como ele está? – perguntou outra.

– Está no hospital, em coma.

– Meu Deus! Que triste!

– Nós faremos uma reza, aqui, rapidinho, por ele – sugeriu uma delas.

– Mas...

Michele não conseguiu impedi-las, e rezaram em frente ao portão, pelo jovem que tanto as ajudava com serviços, cestas básicas, e outras coisas. Ela não as desprezou, menos ainda as reprimiu.

Um dos vizinhos que estava do outro lado da calçada sinalizou para Michele, desesperado e assustado, e ela, percebendo, deu-o atenção. Ele apontava para a o início da rua, e o carro de Hermínio se aproximava. Michele ficou tensa, com medo da reação dele ao ver as bondosas senhoras no portão. Ela acelerou a despedida, mas não deu tempo, Hermínio parou o carro e saltou rápido e curioso.

– O que está acontecendo aqui?

– Elas já estão de saída, meu amor – Michele apresava as idosas.

– Meu bom homem, seu filho é um herói! – comentou uma delas.

– Herói? – Ele perguntava e ao mesmo tempo encarava Michele, que implorava com os olhos para ele não maltratá-las.

– Sim. Ele sempre nos ajudou levando mantimentos e cobertores aos pobres. Acompanhava-nos até a praça para recuperação de alguns necessitados e auxiliava os idosos.

Hermínio ouvia do filho com tanto orgulho, que engoliu seco.

– Ele também ajudou minha irmã a levantar o muro.

– E levou o meu filho ao hospital – disse outra. – A idade não deixa a gente se lembrar direito, né, meu bom homem, mas muita coisa boa ele fez.

Uma delas tocou seu braço e ele estagnou-se, sem palavras.

– Ele é o nosso menino! E Jesus e Maria ajudarão a sua família!

"Agora ferrou!", pensou Michele, esperando pelo pior. O momento da matança, como num pelotão de fuzilamento, e abaixou sua cabeça esperando ele dar o primeiro tiro. Porém, para a surpresa dela, Hermínio pronunciou-se com uma frase completamente estranha e diferente do habitual:

– Sejam sempre bem vindas. As portas estarão sempre abertas! – E entrou após.

Michele arregalou seus olhos e nada entendeu.

– Mas... – gaguejava ela.

– Obrigado, minha flor! Você é tão linda! – A idosa agradeceu. – Que bom que seu marido gosta que os cristãos venham visitar seu filho! – E se foram, deixando Michele muda e perplexa.

– O que está acontecendo? – Michele olhou para o céu, tentando entender.


★ JOHNNY [DRAMA/CRISTÃO/CCB]Onde histórias criam vida. Descubra agora