Continue Em Frente

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Quando eu abraço
O calor do seu corpo
Não há mais ninguém
Que eu gostaria de abraçar
Beautiful War _ Kings Of Leon

Eu simplesmente não consegui dormir, todos aqueles comentários que li ficaram pairando na minha mente. Já imaginava que haveria pessoas contra o meu romance com o Maddox, mas não pensei que elas seriam tão agressivas a ponto de me ferirem psicologicamente, me ameaçarem. O ódio gratuito é doentio e deixa marcas profundas. Todas as vezes que tentei fechar os olhos a imagem daquelas ofensas no Instagram apreciam me impedindo de descansar um pouco. Por consequência estou com o corpo dolorido de tanta tensão e olheiras profundas, tenho sorte de ter uma boa maquiagem em mãos.

Comi muito pouco no café da manhã e nem consegui manter contato visual com ninguém, nem mesmo com o Mad. Claro que eles desconfiaram. Rocco pensou que o meu jeito distante de agir foi causado pela nossa conversa, mas eu disse que não tinha relação. Ry pensou que Mad tinha feito algo contra mim e Jason pensou que Mad tinha voltado a beber, eu disse que o guitarrista não fez nada de errado comigo e estava sóbrio. Eles não pareceram muito convencidos. Maddox pensou que era saudade da minha mãe ou a pressão de namorar uma pessoa pública, antes fosse, tudo isso seria menos doloroso.

Tenho que resolver isso logo, mandar os prints para a polícia e fazer um boletim de ocorrência. Porém, estranhamente estou com vergonha de falar com com os garotos que fui alvo de ataques racistas, isso é tão insólito que a vítima quer esconder o fato por causa de uma vergonha inexplicável. O racismo é algo tão complexo que mexe muito com a mente de quem sofre, tanto que a pessoa para de fazer certas coisas por medo. E as vezes ele vem de formas tão sutis e quase implícitas em ações ou expressões que a maioria considera como normais, mas nos atinge sem dó.

Isso me remete a minha infância, estudei em uma escola cheio de pessoas de classe média alta, sim, eu era bolsista em uma das melhores instituições de ensino do Dallas. Grande parte dos alunos eram brancos e não gostavam de ver alguém “diferente” ocupar o seu espaço, além do mais eu era aluna destaque, afinal, tinha que ser duas vezes melhor. As ofensas no corredor faziam parte da minha rotina, os xingamentos eram bem cruéis e deixaram marcas profundas em mim. Algumas vezes as agressões não eram feitas só por meio de palavras.

_ Vai me dizer o que está acontecendo?

Tirei a almofada do meu rosto e virei, ficando de costas para o guitarrista.

_ Não é nada._ murmurei.

Senti a cama se afundar e logo fui envolvida pelo braço musculoso do Mad.

_  O nada não te faz ficar distante. Parecíamos desconhecidos na mesa de café.

Me virei e encarei seus olhos castanhos e secos.

_ Eu vi algumas fotos nossas no Instagram e alguns comentários… Ah, deixa para lá.

_ Ah Sol, preciso que me fale. Temos que dividir coisas, já que estamos em um relacionamento._ ele disse com um sorriso leve.

O celular do Mad começou a tocar e vibrar sem parar, ele o pegou e ficou um bom tempo encarando o aparelho em sua mão. Sua expressão ficou indecifrável e um pouco maçante de se olhar. Até que ele se levanta irado, maxilar travado, olhar sombrio e respiração um pouco acelerada. Já imagino a razão de sua mudança repentina.

_ É por isso que você está assim?_ disse com a voz baixa._ Jason acabou de me enviar e ele não está nada feliz.

Maddox se aproximou e me mostrou a tela do celular, lá está mais comentários maldosos, racistas e cortantes. Não demorou muito para os meus olhos se encheram de lágrimas, Mad chegou mais perto e me abraçou forte. Deixei as lágrimas saírem e me afundei em seu peito largo. Suas mãos me afagaram, tentando me deixar mais calma.

Burn ItOnde histórias criam vida. Descubra agora