Capítulo 26

2.7K 311 26
                                    

—Não encontramos nada. —disse Bia ao resto do grupo.

—Nós encontramos. — anunciou Rosa, sorrindo.

—Nem me diga. "Um completo sonho". — zombou Emma a Rosa, imaginei que seria uma piada interna das duas.

O resto do grupo se olhou, confusos com o que as duas murmuraram, eu nem as escutava direto. Fiquei olhando discretamente pra Tyler, ainda não acreditando no que me contaram.
Ele ia me convidar.

Ele olhou de relance para mim e nossos olhos acabaram se encontrando, mas logo desviamos o olhar para outro lado.
Nós fazemos isso muito bem, fingimos que algo constrangedor não aconteceu.

—É bem perto. — escutei Rosa falar.

—Então vamos. — concluiu Kety.

*
*
*

Emma e Rosa haviam achado outra pousada (dessa vez inteira), com sinal de celular e vários quartos. Pena que não tínhamos nada a negociar dessa vez. Entramos no lugar rústico e simples, coberto por carvalho e tapeçaria.

—Boa Tarde. — disse o recepcionista do local. Senti que ele tinha um sotaque diferente, não era britânico e nem americano. Ele acenou para todos com um gesto. — Em que posso ajudar?

Os que não falavam inglês conversavam entre si, murmurando possíveis coisas a qual o rapaz poderia estar falando.
Rosa se aproximou da bancada, com um sorriso maior que o mundo, o recepcionista sorriu de volta, no mesmo tamanho.

—¡Usted de nuevo muchacha hermosa! Dama española, estoy a su disposición. — falou o rapaz.

Reconheci que ele era bilingue e que falava espanhol, provavelmente estava no país há muito tempo, pois havia fotos dele quando criança no Big Bang espalhadas por todo lugar.
Tenho um certo conhecimento da lingua espanhola, conclui rapidamente que não havia entendido nada do que disse. Inglês e Espanhol são totalmente direfentes.

—Você é um docê Nico, mas só estou aqui para fazer uma ligação. — disse Rosa um pouco triste.

Fiquei me perguntando quanto tempo aquela poção durava. Era estranho ouvir Rosa falar em inglês e o rapaz responder em espanhol.

—Puede hacer lo que quieras. Yo siempre estaré aquí para ti, Rosita.

—Você é um encanto. — disse ela ao possível elogio que ele soltara.

Ela acabou de conhecer ele e já está rolando mais romance do que na minha vida inteira. E isso não é muito.

Nos reunimos todos na sala de estar da pousada. Emma com o celular na mão, pronta para digitar os números que Lucas decorara todo esse tempo. Tinha que dar certo.

—198 00845 - 443388019. — recita ele, sem nem gaguejar.

Emma vai digitando na maior velocidade que já vi. Sua habilidade com tecnologia a ajuda, ela vai digitando com o dedo e com a mente ao mesmo tempo.

Incrível.

—Ta chamando! — dispara Emma, sorrindo.

Todos ficaram em silêncio.
Dava para ouvir de fora o barulho do telefone, chamando e chamando... Até que.

—Oi, é... —Emma tentou segurar a alegria —... Somos do antigo acampamento, o da Rússia. Somos os amigos da Riley Losmivuce, conhece ela?... — ela faz uma pausa, escutando o que a outra pessoa do outro lado da linha tem a dizer — Inglaterra...., Eu não sei...

Emma se direcionou pra Rosa.

—Rosa, — disse ela, tapando o telefone para dar uma pausa. — poderia por favor perguntar ao seu namorado em que estado estamos?

—Ele não é m... Nico, pode me falar em que estado estamos?

De longe, o jovem mexicano gritou:

—¡Claro mi señorita, estamos en Freslopoya!

—Estamos em Freslopoya. — repetiu Rosa ao grupo.

—Freslopoya. — repetiu Emma, voltando ao telefone. — Londres? Claro, estaremos lá em cerca de três dias..., Perto do Big Bang, entendi..., Sério?..., Okay, Obrigada.

Emma desligou o celular e se voltou para o grupo, que a olhava com os olhos arregalados.

—Era a diretora do acampamento de lá, ela disse que se chama Kora e que vai nos encontrar em Londres daqui a três dias, perto do Big Bang. —Emma fez uma pausa para respirar. — Ela disse que Riley está desesperada atrás de nós. Disse também que pediram a um menino para nos encontrar mas ele não aceitou, ela ficou aliviada ao ligarmos.

Todos pulavam de alegria com a notícia, logo voltariam para um lugar com comida e conforto, junto com seus amigos e família.

Eu me sentia um pouco deslocada, me fechei e quase não disse uma palavra. Era estranho estar no mesmo cômodo que dois garotos a qual você gosta, dois garotos ao qual gostam de você.
Esse triângulo amoroso parecia não ter fim.

Mavrick interrompeu meu pensamento ao se sentar ao meu lado, com aquele sorriso convencido de sempre.

—Parece triste gatinha, não está feliz que vamos voltar para o acampamento?

—Estou, só estou um pouco... pensativa... — respondi, com um sorriso forçado. — Está acontecendo muitas coisas ultimamente.

—É... e sobre o Halloween... sinto muito não ter acreditado em você. Eu tenho que adimitir, eu achei que você estava louca.

Eu ri, as vezes eu pareço louca mesmo.

—Isso é passado, não importa mais.

Eu destrui o meu sorriso. Citar o passado me fazia lembrar de tudo o que aconteceu no acampamento e ficou no acampamento. As coisas boas e as ruins.
A rosa de Tyler.
O xaveco de Mavrick.
A festa do pijama.
A pegadinha.
Tantas coisas boas a se lembrar, tudo deixado pra trás por causa de uma empresa psicopata que mata pessoas para fazer pesquisas.

*
*

Rosa conseguiu convencer Nico a nos dar quartos por uma noite, só para não dormirmos na rua fria. Nico com certeza não recusou o pedido, deixar a garota bonita dormir na rua não seria ético, e com tantos quartos, caberia seus amigos também.
Rosa ficou receosa antes de pedir, aquilo seria suborno, e ela odeia subornos, mas acabou aceitando.

Havia um quarto para cada dessa vez, não precisaríamos de dividir. Eu achei ótimo, um pouco de privacidade de vez em quando não faz mal.

O quarto era pequeno e apertado, contendo apenas uma cômoda e uma cama de solteiro, que apesar de parecer apertada, era muito confortável.
Abri a janela para deixar o ar entrar. Já era tarde da noite, a lua redonda não brilhava tanto como no acampamento, mas as estrelas faziam seu trabalho.
Fiquei sentada na cama por um tempo, de frente a janela, olhando para o nada e pensando ao mesmo tempo.

Eu sinto falta das coisas.
Sinto falta da minha mãe;
Do meu pai;
Da minha irmã;
Da minha antiga escola;
Da minha antiga amiga Amanda;
Da minha playlist do celular;
Sinto falta da minha vó Zori.

Senti uma lágrima escorrer pela minha bochecha. A mesma bochecha que contia uma cicatriz, que me lembrava da minha incompetência e ao mesmo tempo do meu esforço.
Quando me dei conta, várias lágrimas escorriam no meu rosto. Caiam sobre o meu colo e escorriam nas minhas pernas frias.

Aquilo era bom.

Deixar todo o extress sair de mim era fundamental, e a quantidade as lágrimas me mostrou que eu guardava muita coisa em no meu interior, muita coisa mesmo.

"Pare de chorar Minna, se você não parar de chorar agora nunca vai parar." A voz de minha mãe ecoou pela minha cabeça.

Sequei as lágrimas com os pulsos o mais rápido que pude e arrumei a postura. Minha mãe disse que eu tinha uma postura péssima, eu sempre tentei conserta-la e só agora eu estou melhorando.

Me deitei na cama e me cobri completa, tampando até a cabeça. Eu queria chorar mais, e estar sob a janela aberta dava impressão de que minha mãe me vigiava.
Não queria que ela me visse fraca. Denise Evans me criou para ser forte. Eu tinha que ser forte, mas naquele momento tudo o que queria era ser fraca.

♥♥♥♥♥♥♥♥♥♥♥♥♥♥

Acampamento De Magia [Livro 1] Onde histórias criam vida. Descubra agora