Capítulo 15 - Realidade Alternativa (Parte 1).

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O vento que soprava do horizonte bagunçava por completo tanto os meus cabelos como os de Katniss, que por sinal estavam mais curtos, um pouco acima dos ombros para ser mais exato. As gaivotas voavam livremente sobre nossas cabeças enquanto as ondas se chocavam contra os rochedos, trazendo consigo a brisa marítima que naquele momento era a responsável pela minha calmaria. Katniss e eu andávamos tranquilamente pela trilha de madeira sobre a areia, em completo silêncio, enquanto o sol deslizava pelo céu até o horizonte, pronto para se por. Vez ou outro eu a encarava, sentindo aquele aperto sufocante em meu peito ao vê-la sentada naquela cadeira de rodas elétrica.

O que eu fiz, meu Deus?

Tudo o que eu havia feito era pensando exclusivamente na família Everdeen, em como seus dias poderiam ser mais felizes por terem Thomas novamente em suas vidas. Mas as coisas haviam dado completamente errado. Katniss havia sido feliz sim, mas aquilo durou somente até os seus dezessete anos, que foi onde o grave acidente aconteceu e a mesma se viu dependente de uma cadeira de rodas, tendo sua vida mudada por completo. Eu só queria que as coisas fossem diferentes, com menos sofrimento e menos angústia, e em parte eu até havia conseguido, mas a outra ainda continha a sua dose um tanto quanto dolorosa. Geralmente diziam que, errava-se mais quem decidia cedo do que quem decidia tarde, e naquele exato momento eu sentia na pela o peso de uma decisão precipitada. Não que eu estivesse arrependido de ter alterado os acontecimentos, definitivamente não, pois a morena até parecia estar relativamente feliz por ter sua família reunida outras vez. Mas a que custo? A verdade era que o preço a ser pago pelas minhas ações estava se saindo caro demais.

— É estranho sair com você de novo. — comenta quebrando o silêncio.

— Eu sei... Mas estou feliz por sairmos. — sorrio minimamente, sentindo-me um pouco desconcertado.

— Foi legal você ter me enviado cartas. Isso é mais do que qualquer outro amigo já fez... — sua voz sai um pouco baixa — E você até escreveu naquele papel manteiga maneiro. Isso é tão Peeta. — completa, arrancando-me uma leve risada.

— Isso é tão pretensioso, mas eu adoro escrever nele, como um poeta inglês. — brinco, e então a encaro — Você merece a melhor carta.

— Provavelmente é mais fácil escrever do que me visitar. — solta e acabo desviando meu olhar, sentindo-me completamente culpado — Não estou falando como se estivesse reclamando. Não completamente. — se apreça em dizer — Você provavelmente queria evitar conversas incômodas como essa.

— Ahn... Bem... — levo uma de minhas mãos até a nuca, nervoso, e sem saber ao certo o que dizer — Basicamente... sim.

— Olha, a pior coisa que você pode fazer é me tratar como um bebê. — ela me encara e sorri de maneira um tanto quanto melancólica — Eu ainda quero rir e falar merda com o meu melhor amigo. — acabo sorrindo com suas palavras, e então paramos próximos a uma encosta, tendo uma visão mais ampla do oceano e das diversas baleias ali encalhadas — Essa é com certeza a melhor vista do pôr do sol. Como os fotógrafos chamam isso?

— A hora dourada. — respondo.

— Está vendo? Sem você aqui, eu não faria ideia. — solta de maneira divertida — Aposto que você poderia tirar algumas fotografias incríveis. — completa e o silêncio volta a reinar sobre nós, enquanto encaramos o horizonte e toda a mesclagem de cores proporcionadas pelo entardecer.

Eu estava me sentindo completamente perdido, desconcertado. O destino era algo realmente imprevisível e completamente irônico. Ele parecia gostar de ver como nos ferrávamos a cada passo dado pelo caminho da vida, ou talvez fossem somente as escolhas impensadas que fazíamos e que geravam consequências não muito boas.

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