Eu já podia sentir a leveza tomar posse do meu corpo e aos poucos fui abrindo minhas pálpebras, não conseguindo enxergar muito do ambiente por minha visão estar um tanto embaçada. A dor em minha cabeça ainda se fazia presente, tornando-se mais forte a cada segundo, como se o meu crânio estivesse sendo esmagado por uma sequência de marteladas. Mas nenhum daqueles aspectos me intrigou tanto quanto o fato de eu sentir algo quente molhar minha camisa, deixando-a pegajosa em meu corpo. Foi então que eu abaixei o olhar, deparando-me com boa parte da minha camisa coberta pelo sangue que escorria em um fluxo relativamente intenso de meu nariz, deixando-me apavorado. Mas aquilo ainda não era o ápice das consequências, longe disso. Quando minha visão se tornou clara o bastante para que eu pudesse examinar o cômodo onde estava, me vi ainda mais apavorado. Eu havia voltado para o meu quarto na Blackwell, no entanto, o intrigante naquilo tudo era o fato de ele não parecer mais o mesmo. As paredes, a mobília, os livros descansando nas prateleiras, estava tudo sendo consumido por uma espécie de onda vibratória que deturpava o ambiente e fazia dele algum tipo de caixa cósmica. Em outras palavras, era como se o tempo e o espaço estivessem sendo distorcidos, como se a realidade estivesse se partindo ao meio, bem ali, diante os meus olhos.
Em uma tentativa frustrada de concertar as coisas, eu havia criado somente o caos. Apenas o caos dentro do caos. Consequências catastróficas e possivelmente irreversíveis. E como se algo estalasse em meu interior, rapidamente girei meu corpo, deparando-me com a fotografia responsável pela minha estadia naquele momento de um passado próximo. Eu precisava destruí-la, precisava alterar o curso dos fatos para evitar minha ida a São Francisco quando o tornado chegasse à cidade. Foi então que, com as mãos tremulas e os pensamentos se tornando parcialmente nublados, segurei a fotografia por entre meus dedos, rasgando-a ao meio em uma tentativa de expressar minha dor física e mental. Eu já podia sentir a moleza tomar posse de meu corpo, e por mais que eu tentasse permanecer consciente, meus olhos haviam se tornando pesados demais para que eu permanecesse com os mesmos abertos. Eu estava cansado, esgotado, na verdade, sem forças nem mesmo para respirar. Então meus pés simplesmente perderam o equilíbrio e eu me vi indo de encontro ao chão, sentindo tantas coisas que nem conseguia nomear corretamente enquanto era calorosamente abraçado pela escuridão.
[...]
Sussurros abafados, desconexos, misturando-se ao zumbido irritante que incomodava meus ouvidos. Aos poucos minha consciência ia sendo recobrada e juntamente com ela as dores em meu corpo. Era como se eu tivesse sido atropelado por um caminhão, como se meu corpo estivesse sendo rasgado ao meio. Era uma dor excruciante, mas que com o passar dos minutos fora sendo amenizada, tornando-se mais suportável. Por sorte, as pontadas em minha cabeça já não eram mais sentidas, o que de certo modo me causava alivio, mas ainda sim, não deixava de ser preocupante. Aquelas manipulações no tempo estavam me destruindo física e psicologicamente.
Depois de algumas tentativas falhas, finalmente consegui abrir minhas pálpebras, piscando algumas vezes até que minhas retinas houvessem se acostumado com a claridade. E quando este feito foi alcançado, senti toda a força se esvair de meu corpo ao me dar conta de onde estava.
— O quê...? Puta merda! — praguejo, sentindo um calafrio tétrico percorrer minha musculatura.
Eu não sabia bem como descrever o que estava sentindo naquele momento, mas era uma mistura de raiva e pavor, juntamente com algumas doses de desespero. Se por algum momento cheguei a pensar que havia consertado tudo, aquele pensamento fora terrivelmente esmagado pela dura realidade diante os meus olhos. Eu havia retornado a Sala Escura.
— O que você disse, Peeta? — acabo me sobressaltando quando Seneca praticamente se materializa a minha frente. Mas que porra! Aquilo só poderia ser algum tipo de pegadinha de muito mau gosto pregada pelo o universo — Quer saber? Esquece. Só responda a minha pergunta, por favor.
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Efeito Borboleta
FanficAlgumas pessoas querem esquecer o passado, outras querem mudá-lo. Há momentos na vida que optamos por não lembrar, mas a algumas lembranças que jamais podemos esquecer. Mas, e se você pudesse voltar no tempo? Pense que é como um filme, onde você pod...