Capítulo 21 - Antes da Tempestade (Bônus).

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Outubro de 2011

Como descrever Johanna Mason? Eu estou tentando encontrar as palavras certas desde que a gente se conheceu. O louco da Johanna é que eu tinha tudo pra odiá-la com todas as minhas forças. Digo, ela é uma aluna nota 10, amada por todo mundo na escola – alunos e professores, inclusive –, muito diferente da minha pessoa. Ela adora atuar, e assim como o meu ex-melhor amigo de infância, Peeta Mellark, Johanna possui um olho para imagens e artes. Considerando todo o seu desempenho escolar e o seu esforço em se tornar uma modelo, ela é uma pessoa muito ambiciosa. Recebe todo o apoio do pai promotor e da mãe dona de casa exemplar. Parece a receita perfeita de pessoa insuportável. Mas mesmo assim, Johanna consegue fugir totalmente do estereótipo de menina de ouro riquinha. Aliás, ela foge de todos os estereótipos. Ela deve ser a pessoa menos previsível que eu já conheci em toda a minha fatídica vida. E não é só porque, quando eu a conheci, ela me ajudou a acabar com uns babacas em um show de rock. É por causa da energia que ela emite. Quando você está com ela, parece que tudo é possível.

Se existe uma coisa certa sobre a vida, é que ao longo de seu corso ela irá tentar derrubar você inúmeras vezes, e em muitas delas irá conseguir. E você vai se machucar, vai se ferir gravemente. Mas chegará um ponto em que, ou você se entrega a miséria e a ruína total, ou vai aprender a aceitar que o que aconteceu no minuto anterior é passado, e que tudo o que irá acontecer dali em diante será a sua escolha de ser forte e seguir em frente. Por muitas vezes, a vida fará você acreditar que está sozinho, mas então, o universo e toda sua bondade acontecem. Um ano antes, eu havia recusado a ruína e repudiei a miséria. Aprendi que eu podia me fortalecer em meio aos tropeços do caminho novo e desconhecido pelo qual passei a andar depois que Johanna apareceu, e, como um anjo, curou parte das feridas que revertiam o meu coração. No início eu não sabia o que pensar e muitos menos como deveria agir diante a sua presença, mas sabia que ela era tudo o que eu precisava para não surtar novamente. E foi ali, naquele show de rock, enquanto seus olhos me analisavam com tanta profundidade que pareciam ler a minha alma, que nos tornarmos melhores amigas.

Johanna sempre foi muito observadora, conseguia decifrar o comportamento e os sentimentos alheios com apenas um olhar. Além de tudo era uma excelente amiga, simpática, inteligente, extrovertida; traços que chamavam atenção e resultaram em sua popularidade na escola. Porém, ao mesmo tempo, ela era uma pessoa muito difícil, facilmente irritável, principalmente quando as coisas não aconteciam da maneira que ela queria. Isso era visível nas brigas que já havíamos tido, tendo a mais recente delas acontecido a cerca de dois dias, quando fazíamos um passeio pelo Parque e avistamos o seu pai, James, aos beijos com outra mulher. No começo eu não o havia reconhecido e Johanna se irritou quando questionei sua mudança súbita de humor. Nossa briga havia sido feia e, consequentemente, acabamos magoando uma a outra. Éramos duas pessoas completamente diferentes e ao mesmo tempo muito iguais. Tínhamos o pavio curto e qualquer faísca poderia resultar em uma grande explosão. Só existia dor dos dois lados e quando isso se juntava causava surtos de loucura, raiva, felicidade, e principalmente tristeza. Tudo intenso demais, prestes a transbordar. Entretanto, por mais contraditório que pudesse ser, as discussões não nos afastavam, muito pelo contrário, elas nos aproximavam ainda mais.

Naquele mesmo dia, após nos desculparmos uma com a outra, Johanna pediu o meu isqueiro, colocando fogo em uma fotografia sua ainda criança ao lado do pai, para segundos depois jogá-la em uma lixeira. Eu nunca a tinha visto tão desolada e amargurada quanto naquele momento. Seus olhos cor de avelã brilhavam em fúria enquanto as lágrimas desciam sem controle algum por suas bochechas. Então o inesperado aconteceu. Eu nunca sabia o que esperar de Johanna Mason, e naquele momento não foi diferente. Sua fúria e fragilidade eram tantas que, após soltar um berro descontrolado, a morena chutou a lixeira onde a fotografia queimava, fazendo o vento soprar as chamas para as árvores mais próximas, dando início a um incêndio que há dois dias se alastrava pela floresta de Arcadia Bay.

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