Capítulo 23 - Sala Escura.

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Silêncio. Inquietante e tortuoso silêncio. Mas este, porém, perdurou apenas poucos segundos e logo fora preenchido pelo tique-taque continuo de um relógio. Pelo barulho do ar se movendo pela tubulação. Pelo estalar de insetos se chocando contra alguma lâmpada. Pelo som entrecortado que emanava de alguma estação de rádio... Todo aquele conjunto de pequenos barulhos mais parecia sussurros irritantes sendo despejados em meus ouvidos. Eu queria poder falar, gritar, até mesmo abrir os olhos, no entanto, minhas pálpebras pareciam pesadas demais e o estado em que eu me encontrava era de uma sonolência absurda. Era como se eu estivesse preso a uma incansável montanha-russa de sentimentos instáveis e inoportunos. Eu não conseguia descrever aquela sensação, era algum tipo de vazio, mas que ocasionalmente se tornava barulhento demais em minha consciência recém recobrada, misturando-se aos meus pensamentos confusos e incertos. Minha mente parecia fervilhar com aspirações profundas de questões dolorosas e situações difíceis que eu havia acabado de enfrentar, como flashes, sendo disparados em formas de imagens torturantes do que havia acontecido.

Katniss...

O nome da morena veio como um sopro desesperado em meus tímpanos, e como resposta, meus olhos se abriram de modo súbito. Era como se meu corpo inteiro houvesse levado um choque, ou como se minha alma houvesse retornado ao corpo após algum evento atordoante. Senti vibrações de energia percorrerem cada centímetro de meus músculos e minhas retinas fervilharam devido à claridade excessiva. Tudo girou diante os meus olhos naquele momento. Quando consegui novamente me situar, me vi ainda mais perdido do que antes, só que agora estava em uma sala toda em tons de cinza equipada por câmeras e instrumentos de produção. Foi então que, como um insight perfeito, o reconhecimento surgiu em minha mente. Eu estava na maldita Sala Escura.

Uma fisgada um tanto incomoda acabou atingindo a lateral esquerda de meu pescoço quando tentei mover minha cabeça, o que não foi uma boa ideia, já que a mesma pareceu pesar uma tonelada. Entretanto, ainda incomodado com a dorzinha na lateral de meu pescoço, tentei erguer minha mão até o local para verificar, foi então que veio a surpresa. Eu estava firmemente amarrado em uma cadeira sem qualquer chance de fuga. O desespero então começou a tomar posse de todo o meu ser e, juntamente com todas as sensações inoportunas, me vi sufocado, agonizando em meus próprios sentimentos oscilantes.

— Tem alguém aí? Por favor, socorro! — peço em um quase grito, obtendo como resposta apenas um gemido baixinho.

Em um movimento um tanto brusco, giro meu pescoço em direção ao som, e meu olhos prontamente se arregalam ao capturar a imagem desacordada de Glimmer jogada no chão, apenas alguns paços de distância a minha esquerda.

— Glimmer... Hey, acorde. Vamos, acorde! — minha voz sai embargada e rapidamente tenho minha visão embaçada por contas das lágrimas ao ver que ela não reage — Mas que droga! — praguejo. Seneca provavelmente havia nos dopado com a mesma droga utilizada em Madge.

Deixando que um suspiro cansado e impotente me escapasse pelos lábios, acabei avistando um carrinho com objetos como: álcool, luvas de látex, pequenos sacos de algodão e uma caixa com seringas ainda intactas. Aquilo acabou me arrancando uma breve careta juntamente com uma embrulhação no estômago. Mas o objeto responsável por prender completamente a minha atenção, foi uma fotografia que ali em cima repousava. Uma fotografia minha, onde eu me encontrava desacordado no chão daquela sala, em uma posição quase igual à de Glimmer. Após analisar a fotografia por alguns segundos, percebi que a mesma parecia ter sido tirada a pouco menos de uma hora. E nas condições em que me encontrava, voltar no tempo seria a única maneira de encontrar uma saída, mesmo que eu tenha prometido a mim mesmo nunca mais fazer aquilo.

Limpando minha mente de qualquer pensamente torturante que insistia em me atormentar, foquei toda a minha atenção somente naquela fotografia. Milésimos de segundos, este fora o tempo que levou até que as luzes se tornassem fortes demais para meus olhos suportarem e então, gradativamente e de repente, me vi sendo sugado para dentro daquela imagem.

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