— Erick Valens. —
Entrei e me sentei na cadeira à frente da sua secretaria, como sempre, ele estava virado para à janela e permaneceu assim.
“Como foram os anos na cadeia?” Disse ríspido como sempre.
“Foram bons três anos. Sem vistas. Me diz como é que o senhor conseguiu privar até a mamãe de ir me visitar?”
“Estavas em uma viagem de trabalho inesperada e urgente, extremamente importante e sem contato com o exterior.” O sarcasmo na sua voz era evidente.
“Não esperei diferente do seu lado.” Eu disse.
“Alvin?” Ele finalmente se virou para mim. Eu levantei, servi um copo de whisky para mim e para ele e depois me aconcheguei na cadeira.
“Ele depôs contra mim.” Falei ao sentar.
“Mas não foi o motivo de seres preso.” Ele deu um longo gole.
“Claro, o motivo foi o teu protegido Matt.” Disse e ele me olhou furioso. “Não sabias?” O desafiei.
“Matt não teve nada a ver com isso.” O defendeu sério porém sem alterar a voz.
“Claro. Como poderia aceitar? Ele é mais seu filho que eu.”
“Já não estás na idade de demostrar ciúmes Erick.”
“Não se preocupe. Eu sei bem liderar com os meus ciúmes.” Acabei o meu whisky e me levantei da cadeira.
“Senta!”
“Para ouvir uma de suas histórias a lhe defender? Não obrigado.”
“Isso é assunto do passado, ele estava assustado e foi persuadido pela polícia. Não foi nada de mais.” Ele levantou e voltou a encher o seu copo. A sala estava escura o que tornava quase difícil ver o seu rosto.
“Nada de mais?” Sorri. “Fiquei preso por três anos e o senhor me diz nada de mais?”
“Sim.” Disse ele ao se sentar.
“Quando Zen Watson foi persuadido pela polícia o senhor não disse isso, o senhor quis matar-lo. Pelo simples facto dele ter acabado com uma grande entrega.”
“Ele me fez perder muito dinheiro. São assuntos diferentes.” Se justificou.
“Eu vou dizer uma coisa que o senhor talvez não saiba.”
“Eu não quero ouvir.”
“Ele fez isso apenas para ficar perto do senhor, se armou em coitadinho só para ser o braço direito do idiota que o senhor está a ser.” Eu já estou farto desse garoto, demais.
“Chega Erick!”
“Não!” Me aproximei a mesa dele e bati com as mãos na mesma o que me fez o encarar de cima. “Chega o senhor que só o defende como se ele fosse seu filho. Eu fui preso por um crime que não cometi.” Me concentrei para não derramar lágrimas. “Não sei por quê que o defendes tanto mas não se preocupe. Já entendi o recado.” Dei costas a ele e me dirigi a porta. Não entendo como um pai age de maneira tão fria com o próprio filho.
“Estás a me desafiar? Esse foi o teu pior erro.” Parei de andar.
“O meu pior erro, papai. Foi trazer o Matt aqui.” O olhei nos olhos e esperei uma reação.
“Erick, senta.” Respirei fundo, ajeitei a minha roupa e o olhei indiferente.
“Já não estás na idade de me dar ordens Richard.” Sai da sala sem esperar uma resposta. Me direcionei ao meu escritório. Chamei a minha assistente que continua sendo a mesma e pedi para ela trazer o meu saco de treino. Os dias na prisão me deram uma rotina de exercícios que não quero perder. Com certeza um pouco de treino me ajuda a se acalmar.
Para além de ser traficante o meu pai também tinha uma empresa multiuso, tudo em nome da família. Valens. Porém, os assuntos da máfia de maneira nenhuma se podem relacionar com os assuntos do trabalho de família, a não ser claro, na parte financeira. Sempre fomos cuidadosos nesse aspeto. Matt é o protegido do meu pai porém fui eu que o encontrei e o ajudei. Ele tinha 16 anos e eu 17, ele pedia esmola então resolvi o ajudar para que ele pudesse ganhar o próprio dinheiro, contudo o tempo passou e ele começou a se virar contra mim e até agora tenta ser o braço direito do meu pai, por quê? Eu ainda não sei mas estou quase a descobrir. Anna trouxe meu saco de treino e eu fui ao ginásio.
— Chloe Valens. —
Cheguei do treino muito cansada, exausta na verdade, conseguimos montar uma coreografia muito boa, fantástica na verdade, entrei em casa mas estranhamente não encontrei mamãe na cozinha. Ela ama cozinhar e tudo que tem a ver com cozinha, é estranho não a encontrar nela. Fui direito para o quarto, atirei minha mochila em qualquer lado do quarto, tomei um banho demorado. Me deixei levar pela calmaria que a água trouxe, apoiei as mãos na parede e relaxei. Depois de alguns minutos tomei um banho lento e me preparei para sair do banheiro porém meu coração congelou quando ao pisar o pé fora do poli-banho me deparei com Noah me observando da cabeça aos pés sem ao menos demonstrar vergonha. Suas pupilas estavam dilatadas e a respiração um pouco alterada. Ele estava praticamente a me comer com os olhos. Peguei uma toalha e me enrolei nela.
“Por quê que estás no meu banheiro?” Falei envergonhada.
“O outro estava ocupado então, tipo, eu não sabia que estavas em casa.”
“E por quê que estás em minha casa?”
“Dona Miranda chamou.”
“Claro.” Típico da minha mãe. Revirei os olhos.
“Não quis te chatear.” Ele disse. No entanto permaneceu quieto no mesmo lugar.
“Quem mais está em casa?” Eu apertei mais a toalha no meu corpo.
“Só eu, a dona Miranda e agora você.”
“Então... Quem ocupou o outro banheiro?” Ele não respondeu. “Pois.” Revirei os olhos e sai do banheiro.
“Eu só quis te ver, não achei que estivesses no banho mas quando vi não consegui parar de olhar.”
“Sim, sim, não precisas explicar nada, agora sai do meu quarto por-favor.” Abri a porta do quarto para que ele pudesse sair. Ele me olhou triste e saiu.
Eu quis abraça-lo assim que passou por mim mas o meu orgulho foi mais persistente, ele prometeu não brincar comigo ainda assim me traiu. Sem pensar duas vezes.
°°°°°°
Acabei de comer e fui até a sala onde voltei a encontrar o Noah, eu o evitei o dia todo, não sei nem o quê que ele ainda faz aqui. Me sentei no sofá e comecei a assistir o mesmo que ele. Assim que ele percebeu a minha presença se levantou para ir embora.
Eu quero falar com ele, faz muito tempo que evitamos essa conversa porém eu sinto que me vou magoar de novo.
“Eu vou dormir aqui hoje. Só para não ficares surpresa quando me vires amanhã.” Ele disse.
“Podes ficar, não precisas se incomodar.” Eu disse.
“Eu já estava a sair mesmo então não faz diferença.”
“De certeza? É que o filme mal começou.”
“Eu já vi.”
“Ok.”
“O que foi, disse alguma coisa errada?”
“Sabes que não gosto de assistir filme de terror sozinha.”
“Então acho melhor trocar.” Ele disse e me deixou sozinha. Levantei, desliguei a televisão e fui dormir. Não ia ficar a assistir e fazer o papel de trouxa.
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Chloe Mansfield.
RandomPlágio é crime A sua maior preocupação é a dança e depois a universidade, mas como pode ela se concentrar nisso se o ex-namorado não a deixa em paz, o irmão mais velho - que tem um caso com a melhor amiga dela - sai da cadeia, o pai fica em coma, a...