Capítulo 9 - Ser melhor

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Sempre evitei ver os traços de Lucas no meu filho

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Sempre evitei ver os traços de Lucas no meu filho. Meu coração tentava negar que eles eram, de qualquer forma, relacionados. No entanto, naquele segundo, vi como as suas bocas são parecidas. Aquilo me doeu como uma facada.

— Solte o meu filho agora! — Exclamei, assustando o Ícaro.

— Ele também é o meu filho! — A voz de Lucas me causava medo, como se ele pudesse me ferir de dentro para fora.

— Então onde você esteve esse tempo todo?

Corri na sua direção e tirei o meu filho dos seus braços. Ele não resistiu.

— Jéssica, eu quero que você me ouça! — Ele disse. — Eu sei que é esquisito, mas eu estou tentando mudar e acertar as coisas com você e...

— Tarde demais! Tarde demais! Agora sai da minha casa!

— Eu não vou sair daqui! — Ele respondeu. — A sua mãe me convidou e a casa é dela também, até onde sei.

Assim que me virei, encontrei minha mãe parada no batente da porta, de braços cruzados e parecendo assustada.

— Jéssica, por favor... — ela disse. — Seja compreensiva. Estamos tentando agir como adultos aqui.

— Você que convidou este traste? — Perguntei apontando para Lucas.

— Olha a forma como você está falando do nosso convidado, essa não foi a educação que te dei! — Ela respondeu. — Por que não sentamos, comemos e conversamos civilizadamente?

— Eu vou ser bem clara — disse. — Ou você manda essa pessoa embora daqui ou eu vou sair.

— Jéssica, ele é o nosso convidado.

— Mãe...

Ela foi tomada por um surto de coragem e ousadia.

— Ele fica.

— Ótimo.

Eles tentaram me impedir, mas nem um furacão conseguiria me convencer a ficar.

Carreguei o meu filho comigo e ele começou a chorar com a agitação.

Desci a rua, andando sem rumo, com o bebê aos prantos, com cara de poucos amigos e ainda usando a roupa da entrevista de emprego. Podia sentir o olhar das pessoas a minha volta me julgando. Não me importava.

Só me dei conta de como os meus pés estavam me levando longe quando cheguei à praça do centro da cidade. Ela era arborizada, cheia de crianças brincando e pais sentados em seus bancos de madeira.

Sentei e tentei acalmar Ícaro em vão. O seu choro assustou os pombos.

— Meu amor, por favor, se acalme — supliquei, o ninando em meu colo.

Parei para analisar o seu rosto contorcido em choro.

Ele era eu, ele era meu. Eu não queria enxergar o Lucas nele, mas era possível ver a sombra de seu pai em pontos específicos do seu rosto. A boca, como mencionei, lembrava muito. Lábios finos, que se contraem com facilidade, com o mesmo formato.

— Você promete que não vai ser como os outros homens, Ícaro? — supliquei baixinho. — Promete que vai ser melhor?

Em parte, o batizei com o nome do padrinho porque Ick foi o único homem realmente bom que conheci. Foi o único que não quis me faze mal, me abocanhou, me abandonou ou me humilhou. Todos os homens que passam pela minha vida querem me deixar algo de ruim, como um repositório.

Eu queria ter uma filha menina. Assim poderíamos compartilhar os mesmos medos, as mesmas angústias, e nos proteger mutuamente.

Quando soube que teria um menino, uma parte de mim temeu que ele crescesse e entrasse no mundo dos homens, onde sou, aparentemente, uma inimiga e uma escrava. Mas um Ick não faria isso, um Ick me entenderia.

— Eu te amo — falei para ele.

E passei a chorar.

Chorei muito. 

Descarreguei o peso que estava dentro de mim.

Nem sei quanto tempo passei chorando.

Vi uma senhora se aproximar. Ela era um cigana, ou ao menos se vestia como tal.

— Olá, moça bonita — ela disse. — Não chore! Você quer tirar a sua sorte?

E então me estendeu uma caixinha repleta de papéis dobrados.

E então me estendeu uma caixinha repleta de papéis dobrados

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JÉSSICA - MÃE AOS DEZESSETE (HISTÓRIA COMPLETA)Onde histórias criam vida. Descubra agora