ÚLTIMO CAPÍTULO

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Emily foi quem secou as minhas lágrimas

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Emily foi quem secou as minhas lágrimas. Passei o primeiro domingo desde a partida de Bob na casa dela, comendo chocolate e chorando:

— Nunca mais vou permitir que alguém me deixe — falei emburrada. — Quando Ick começar com o papinho de que vai para a faculdade, vou prendê-lo no pé da cama! Tem que ficar do meu lado!

— Oh, Jéssica. Minha querida — Emily falou passando a mão pelos meus cabelos e me acalmando. — Você sabe que eu serei a primeira a chamar a polícia quando isso acontecer.

— Nunca mais vou encontrar ninguém tão legal quanto o Bob — choraminguei. — Onde existe outro homem tão educado, sensível, bonito, inteligente e fofo quanto ele?

— Ah, você sabe... Muitos peixes no oceano.

— Não, Emily. Simplesmente não existe outro cara igual a ele. Acho que vou ter que virar lésbica.

— Quer começar agora?

— Quê?

— Oi?

— Como?

— Nada.

***

A Divide continuou no Brasil normalmente, mas com a saída de Bob, fui realocada para assistente de um executivo administrativo chamado Flávio, um cara simpático e que solicitava a minha presença muito menos do que meu antigo chefe.

Ick já andava pela casa sem precisa se escorar em mais nada, mas ainda não emitia uma única frase, por mais que eu o estimulasse a tal. Ele nem tentava emitir som algum, apenas olhava para mim confuso quando falava com ele.

Os dias se passavam de maneira lenta e cinza, me sentia como uma formiga confusa que não sabe muito bem qual rumo tomar. Em um sábado a noite, abri o Instagram e encontrei um storie do Bob no Rio de Janeiro. A janela do seu quarto dava vista para o Cristo Redentor. Não aguentei e mandei uma mensagem:

Eu

Quando você vai para a França?

Bob

Amanhã

Eu

Vai logo e acaba com o meu sofrimento!

Bob

O meu sofrimento ainda continuará quando eu estiver lá.

Eu

Mentira! Você vai namorar uma supermodelo e esquecer de mim!

Bob

Vou praticar o celibato daqui para frente.

Eu

Hipócrita!

***

No dia seguinte acordei imaginando que a qualquer momento o amor da minha vida entraria no avião, cruzaria o oceano e desapareceria para sempre. Decidi que faria qualquer coisa para pensar o mínimo possível na tragédia que se arrastaria ao longo do dia. Livros! Eu poderia voltar a ler, hábito que perdi desde que Ícaro nasceu. Na casa do meu amigo Ick havia uma coleção linda da Clarice Lispector e eu adorava aqueles livros. Talvez, eu pudesse passar na livraria da cidade e comprar uns dois ou três títulos para devorar enquanto o meu pesadelo não termina.

JÉSSICA - MÃE AOS DEZESSETE (HISTÓRIA COMPLETA)Onde histórias criam vida. Descubra agora