Capítulo 32 - Pontos pretos

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Uma salva de palmas

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Uma salva de palmas. Os alunos se levantaram para aplaudir e gritavam palavras de apoio. O discurso surtiu o efeito desejado.

Bob sorria de cima do palco, visivelmente aliviado. Depois de passar alguns minutos nervoso enquanto falava, ele pareceu interpretar a boa aceitação da plateia como uma permissão para, finalmente, relaxar.

Eu tentei ir até o seu encontro para abraçá-lo, dizer que foi ótimo e que estava orgulhoso dele, mas foi impossível. No mesmo segundo em que desceu do palco ele se viu cercado por alunos e professores que brigava pela sua atenção. Resolvi deixá-lo curtir o seu momento de glória.

Decidi tomar um pouco de ar. Uma das saídas dava direto para uma sacada, fui até lá e me debrucei enquanto observava o campus. Era um lugar bonito, cheio de verde e de pessoas felizes lendo e conversando por todos os lados.

Quando me disseram que iríamos para uma universidade, inconsciente imaginei um auditório lotado de pessoas muito mais jovens do que eu, o que obviamente não é verdade. Eu tinha a mesma idade que qualquer um daqueles estudantes, até mesmo mais nova do que alguns. Enquanto eles desfrutavam do luxo de serem jovens, inconsequentes, aventureiros e leves, eu me vi fadada a me tornar uma adulta em nove meses.

Nunca aproveitei aquela sensação da liberdade da juventude, pois parti direto da proteção dos meus pais para a responsabilidade de uma mãe. Fui nova demais e velha demais, mas nunca jovem.

Observei um grupo de meninas abaixo de mim. Elas conversavam e riam alto enquanto andavam em direção ao portão. Fisicamente, não éramos tão diferentes, mas algo dentro delas era muito mais verde e bonito. Senti inveja.

As horas foram passando, o auditório esvaziando e a luz do sol foi aos poucos sendo substituída pelas luzes artificiais das lâmpadas do prédio.

— Parece que as pessoas gostaram!

Bob apareceu atrás de mim, orgulhoso de si mesmo.

— Sim, eu sabia que você ia arrasar! — Dei um abraço. — Parabéns.

O sorriso dele foi se desmanchando aos poucos:

— Você está bem? Parece triste.

Parecer triste é um eufemismo. Só quando ele disse aquilo é que notei que o meu olho marejava, prestes a chorar.

— Ah, sei lá — não quis mentir. — Eu fiquei pensando demais, acho. Comecei a me dar conta de que não tive uma juventude de verdade, sabe?

— Acho que entendo o que você quer dizer — ele se encostou no parapeito da sacada. — É claro que são situações completamente diferentes, mas eu também não sinto que tive ou tenho uma juventude como a das outras pessoas por conta da responsabilidade de abrir a empresa e tudo mais.

É verdade, eu nunca havia pensado por aquele lado. Eu e ele estávamos presos na vida adulta cedo demais.

— Acho que ser jovem não é para qualquer um.

JÉSSICA - MÃE AOS DEZESSETE (HISTÓRIA COMPLETA)Onde histórias criam vida. Descubra agora