Capítulo 8 - O outro de mim

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— Bom

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— Bom... eu...

— Não é uma pergunta difícil...

— Eu sou dedicada e...

— Jéssica, isso não é algo que você sabe fazer. O nome disso é característica.

Eu sabia que ele estava se divertindo com aquilo. Não foi difícil entender o que estava acontecendo. Bob Esponja Calça Borrada, o nerd humilhado, cresceu na vida e encontrou a maneira ideal de se vingar da patricinha popular que tornou a sua vida um inferno durante a época do colégio.

— Jéssica, eu quero te ajudar, mas você precisa ter ao menos alguma experiência de carreira.

— Eu não tenho experiência ainda, mas...

— Você precisa ter se quiser trabalhar em algum lugar.

— Como vou conseguir experiência para trabalhar se preciso trabalhar para conseguir experiência e nenhum lugar me contrata sem experiência?

Ele riu.

— Essa é uma equação difícil de se fazer na sua idade. Deveria ter tentado entrar no mercado de trabalho mais cedo.

Segurei as lágrimas.

— Então acho que não consegui a vaga.

— Desculpa, Jéssica.

Respirei fundo, tentei manter a compostura, agradeci educadamente e me levantei para me retirar. Andei em direção a porta sentindo o seu olhar nas minhas costas e, subitamente, senti um calor subindo pelo meu corpo e a necessidade de falar algo.

 Virei-me para ele:

— Então aquela história clássica do nerd que fica rico e tem a oportunidade de humilhar as pessoas que praticam bullying com ele é verdade, parabéns para você! Deveriam escrever um livro com a sua história de superação! Olha, eu sinceramente peço desculpas pelas piadas que fiz com você e toda vez que ri de você e por te tratar como alguém pior do que eu com base em critérios que sabe lá Deus quem foi que inventou. Desculpas! Mas, eu também sou vítima aqui, sabia? Eu estive jogada no mesmo mundo de merda que você, só que vivendo merdas diferentes. As pessoas me ensinaram que se eu passasse fome e acordasse três horas antes para passar a maquiagem mais desnecessária do mundo eu ficaria linda e isso seria o meu passe para ser feliz da maneira que eu quisesse. Ninguém me ensinou o que era certo e errado até porque o meu pai é o maior babaca que já conheci e a minha mãe é simplesmente uma versão mais velha de uma Barbie que está ficando murcha e flácida e está observando o seu valor estético, a única maldita coisa que ela prezava, a deixando. Sabe o que vai sobrar? Uma casca feia e vazia, porque ela não aprendeu a colocar nada lá dentro. Eu não vou ter o mesmo destino que ela, eu aprendi com os meus erros e estou mudando, eu sei que estou mudando e não preciso da aprovação de ninguém para isso, MUITO MENOS DE VOCÊ!

Quando terminei de falar, percebi que estava gritando e ofegante. Bob me encarou boquiaberto, sem reagir.

— Tchau, Bob Esponja — falei antes de sair do escritório.

JÉSSICA - MÃE AOS DEZESSETE (HISTÓRIA COMPLETA)Onde histórias criam vida. Descubra agora