Capítulo 40 - Silêncio

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— É verdade? — Minha mãe perguntou

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— É verdade? — Minha mãe perguntou. — De todos os homens do mundo, você escolheu transar justo com o seu próprio chefe?

— Mãe, eu não consigo acreditar que você está do lado do Lucas — falei. —Você não viu o que ele está fazendo conosco?

— Então ele mentiu sobre o chefe, certo? Você não está com ele.

Respirei fundo.

— Isso não é mentira.

— E você não jogou um vaso na cabeça dele?

— Também é verdade. Mas...

— Jéssica, como você sempre faz tudo errado? — Ela colocou as mãos na cabeça e andou pela sala em um gesto teatralmente trágico. — Justo quando as coisas começavam a se acertar.

— Com todo o respeito, mãe — tentei manter a calma. — Mas as coisas só estavam se acertando por causa do meu trabalho.

— Trabalho que você está prestes a jogar fora! — Ela se exasperou. — Sabe o que acontece com a mulher que o chefe pega? Ela não é só mal vista pela empresa inteira, como também é descartada pelo chefe assim que a relação deixa de ter graça.

— Mãe, o Bob não é assim. Nós temos uma conexão e...

— Ai meu Deus! Como você não aprende a se dar um pouco, só um pouquinho, de respeito!

— Do que VOCÊ está falando? Se quisesse se dar respeito você não passaria a vida inteira vivendo com o dinheiro dos outros!

A frase escapou, foi rápida, certeira e venenosa. No segundo em que a disse, desejei não ter dito. Mas, é impossível. As palavras são como os dias, nunca voltam.

A sala ficou inteira ficou em silêncio. Minha mãe não ficou em estado de choque pelo o que acabou de ouvir, Emily estava no canto sem emitir uma palavra, completamente constrangida por ter que presenciar uma briga familiar. Até mesmo Ícaro parecia entender a gravidade do que acontecia.

— Eu preciso tomar um ar — minha mãe falou. — Vou sair um pouco, não precisa me esperar.

— Mãe, eu não quis dizer isso — tentei consertar a situação em vão. — Eu só estou assustada com tudo que está acontecendo...

— Tudo bem, não precisa se desculpar — e saiu.

Tentei segurar minhas lágrimas. Sentei no sofá e assimilei tudo que acabou de acontecer.

— Bom, está ficando tarde... — Emily disse, mal lembrava da sua presença. — Estou chamando um UBER para mim, mas qualquer coisa que você precisar é me mandar uma mensagem, ok?

— Ok. Muito obrigada, Emily. De coração. E mil desculpas por ter visto o que aconteceu.

— Relaxa, eu e minha mãe também brigamos o tempo todo — ela disse. — Um dia ela até me ameaçou com um facão. Na verdade era uma baguete, mas ela era cega e achou que era um facão. Até hoje tenho medo que ela confunda um facão com uma baguete.

Eu ri.

— Você acha que as pessoas vão me tratar diferente amanhã?

— Estamos no século vinte e um, convivendo com pessoas com a mentalidade do século vinte e um. Eles vão te tratar bem. O meu UBER chegou, me acompanha até a porta?

— Sim, claro.

Fomos para o lado de fora, onde o motorista já estava a esperando. Antes de entrar no carro, Emily apontou para o outro lado da rua, onde havia um carro preto de janelas escuras:

— Aquele carro é seu? — Perguntou.

— Não — respondi.

— Que estranho... Ele está aqui desde que eu cheguei e as lanternas estão ligadas.

— O dono deve ter esquecido assim mesmo.

— Pode ser. Até amanhã, miga!

— Até mais!

E partiu.

Entrei para casa e passei alguns minutos colocando Ick para dormir. Enquanto o observava pegar no sono lentamente, pensei: "pois é, parece que no final das contas seremos sempre só eu e você".

O meu telefone tocou. Chequei, mas era número privado. Atendi.

— Quem é? — perguntei.

— Você fodeu com tudo, Jéssica — a voz respondeu. — Por que você fez isso?

Reconheci quem falava.

— Lucas?

— Você viu a postagem?

— É claro que eu vi! Por que você fez isso? Não tem coragem de resolver as coisas cara a cara?

— Eu fui um idiota na postagem, eu sei.

— Então apaga!

— Não.

— Droga, Lucas. O que você quer de mim?

— Eu te amo, Jéssica. Eu te amo muito!

— Vá a merda com o seu amor! — gritei. — Vamos resolver isso como adultos.

Ele não respondeu.

— Você ainda está aí? — Perguntei.

— Você sabe que vai se arrepender — ele disse. — Você escolheu o homem errado. Agora vai se arrepender!

— Do que você está falando?

— Eu te amo tanto. Eu sou um idiota por te amar tanto!

— Cara, você está me assustando.

Silêncio.

— Você está aí?

Podia ouvir a sua respiração, mas ele não dizia mais nada. Tentei conversar, mas ele não respondia, apenas ouvia.

— Vai parar de falar?

— Eu te amo, Jéssica.

Desligou. Ouvi o barulho de um motor sendo ligado no lado de fora, olhei pela janela e o carro de janelas escuras estava saindo. Não consegui enxergar quem estava dentro dele.

Olhei em volta. Todos os cômodos da minha casa estavam escuros e vazios, exceto pelo quarto em que eu meu filho estávamos.

Eu senti medo. Muito medo.

***

Nota do autor

Eu sei, atrasado de novo! Uma das razões para isso, é que a medida que a história avança os capítulos estão ficando mais complexos e difíceis de escrever.

Lembrando que, na Bienal do Livro, teremos um encontro especial só para fãs de Wattpad e Fanfic. Será um evento no palco principal onde eu estarei acompanhando da Aimee Oliveira, Clara Savelli, Babi Dewet e vários outros autores. Seria ótimo se pudesse encontrar vocês por lá!

E, para quem leu o primeiro capítulo de Não me Olhe Assim aqui no Wattpad (ainda não leu? Corre! Está no meu perfil), o livro completo estará disponível em breve! Sim, vocês saberão mais sobre a vida de Elena, a namorada de Ick (o adulto, é claro), como eles se conheceram e tudo mais.

É isso!

Beijos

Felipe Sali

JÉSSICA - MÃE AOS DEZESSETE (HISTÓRIA COMPLETA)Onde histórias criam vida. Descubra agora