Capítulo 46 - O suficiente para você

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É difícil entender como o medo funciona

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É difícil entender como o medo funciona. Você tem vontade de correr, mas também sente que movimentos bruscos podem trazer consequências ruins. Não importa quantos cenários trace na mente, todos parecem terminar da pior maneira.

— Por favor — falei baixinho. — Por favor, me deixa viver em paz. Eu só peço isso.

— Jéssica, como eu vou te deixar partir — ele disse. — Se você é a minha vida.

— Eu não sou a vida de ninguém.

— Você nunca amou ninguém como eu te amo, porque é uma menina egoísta e mimada. Então, não tem como saber o que estou sentindo. Não tem como saber como é deixar de respirar por alguém.

Uma imagem invadiu a minha cabeça. Nela, Lucas agarrava meu filho nos braços e saía correndo com ele. Eu não teria fôlego para alcança-lo porque meu corpo foi prejudicado pelo parto e cansaço enquanto Lucas levava uma vida saudável com oito horas de sono e exercícios regulares.

Puxei o carrinho de mercado para mais perto de mim, lentamente coloquei minhas mãos no Ick.

— O que você quer de mim?

Ele se aproximou e respondeu baixinho:

— Eu quero você.

Quando eu pensei que fosse desmaiar, vi um rosto conhecido se aproximando. Vanessa, a minha amiga antiga, vinha na nossa direção. Sabia que ela poderia me salvar, me puxar para longe, afastar Lucas ou apenas servir de escudo.

Mas, ao invés disso, ela se aproximou e cruzou seu braço com o de Lucas, juntou seu corpo ao dele e repousou sua cabeça em seu ombro:

— Oi, Jéssica — ela disse. — Tudo bem com você?

Foi como um pesadelo. A noção dos dois lado a lado como amantes, somado ao que ele havia acabado de dizer, pareciam fazer parte de universos diferentes, sem relação direta uma com a outra.

— Oi... — foi só o que consegui responder.

— Ah, o Lucas ainda não te contou? — Vanessa disse ao notar a minha expressão confusa. — Eu e Lucas estamos juntos.

— Pois é — Lucas disse. Segurou o queixo da minha amiga e lhe deu um selinho na boca.

— Nós deveríamos sair juntos! — Vanessa exclamou. — Você pode levar o Bob para nós conhecermos!

— Seria ótimo! — Lucas sorriu.

— Ah... Eu ando muito ocupada, mas podemos marcar qualquer dia... — Eu não sabia o que fazer. Estava atordoada, como quem é atingido por um soco na cabeça.

***

Quando cheguei em casa, fiquei sentada no sofá, com meu filho no colo, encarando o teto por horas e tentando entender o que aconteceu. Lucas está cercando as pessoas que eu gosto de propósito para fazer com que eu me sinta sozinha? O que eu fiz para merecer isso além de ter transado uma vez com ele?

***

— Conta tudo para a sua amiga! — Emily exclamou, no trabalho, depois que relatei com detalhes o encontro no supermercado.

— Será que ela vai me ouvir? — Àquela altura, a minha insegurança era tão alta que eu não acreditava mais em alguém me levando a sério. — As pessoas tendem a ficar do lado do Lucas.

— Se ela ficar do lado do macho, você pode manda-la catar coquinhos em Havana com a Camila Cabello, mas é o seu dever se amiga alertá-la sobre o psicopata que está levando para a cama! Você gostaria que alguém fizesse isso se fosse com você, certo?

— Se alguém tivesse me alertado anos atrás, a minha vida seria muito melhor hoje...

— Exatamente! Faça o que deve ser feito!

Emily, definitivamente, me convenceu.

Meu celular vibrou

Bob

Se você ficar até mais tarde aqui no escritório e transarmos na minha mesa depois do horário de trabalho, tecnicamente, não estaríamos fazendo nada de errado.

Eu ri.

Eu

Não posso, tenho que buscar Ick na creche.

Bob

Desculpa, erro meu.

Eu

Tudo bem.

Bob

É que eu não paro de pensar em você...

Eu

Também não consigo.

Bob

Estou com a garota mais gata do colégio!

Eu

Querido, você pegou a Kate Upton

Bob

Ela não chega aos seus pés.

***

Resolvi o conselho de Emily e da creche fui direto para a casa de Vanessa. Toquei a campainha, sentindo o meu coração saindo pela boca. "Talvez Vanessa chore", pensei. "Terei que ser forte para demonstrar apoio".

Ela abriu a porta, com o cabelo preso e uma camiseta larga. Não sorriu ao me ver:

— O que é?

Fui pega de surpresa:

— Oi... não vai me convidar para entrar?

— É que estou um pouco ocupada.

— Ah... tudo bem. Eu só queria te fazer um alerta sobre o Lucas. De verdade, ele não é flor que se cheire. Aquele cara está me perseguindo e...

— Olha Jéssica, eu vou ter que te cortar aqui — Vanessa disse, estendendo a mão em sinal de "pare". — Lucas já me contou tudo o que está acontecendo, então não vou acreditar em nada que você possa dizer.

— O que? Você vai acreditar nele?

— Eu lembro bem de você aqui no meu sofá, comendo brigadeiro e toda derretida por ele. Mas, agora o cara partiu para outra, estamos juntos e felizes. Acho que você deveria deixá-lo em paz.

— Não é nada disso! Você não entende! Ele é LOUCO! Segundos antes de você chegar ele estava dizendo que me amava e...

Vanessa forçou uma risada seca e sarcástica:

— Você bem gostaria que isso acontecesse, não é?

— Vanessa, por favor, você está em perigo com ele...

— Jéssica, você já está com a droga do seu chefe! Quantos homens é o suficiente para você?

E bateu a porta na minha cara. 

***

Nota do autor

Olá, pessoal! 

O capítulo atrasou um pouquinho por conta da Bienal do Livro. Foi sensacional! Amei encontrar vários de vocês por lá, tirar fotos e assinar exemplares de Mais Leve que o Ar.

Obrigado por todo carinho. Estou exausto, mas feliz!

Até a próxima!

Felipe Sali

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