— Está me ouvindo bem?
— Como se estivesse do meu lado.
Estava deitada na minha cama, segurando o celular acima do rosto e fazendo uma chamada de Skype com Ick, o meu amigo, que estava no seu quartinho alugado na capital.
— E aí, Jéssica — Ick disse. — Como está o meu xará?
Era muito fácil entender o meu melhor amigo. A forma como ele sorria e perguntava sobre o meu filho despreocupadamente mostrava que não viu o post viral de Lucas (que já contava com mais de duzentos compartilhamentos até então) que certamente o deixaria irritado o suficiente a ponto de encarar uma viagem só para colocar os pingos nos is com o pai do meu filho.
De qualquer forma, era de se esperar que a polêmica não chegasse aos olhos de um cara tão avesso ao mundo das redes sociais como Ick.
— Ele está ótimo! Eu te contei que andou outro dia? Ele ainda tropeça, cai, mas está pegando o jeito!
— Que sensacional! — Os olhos de Ick brilharam. — Eu queria muito ter visto isso!
— Da próxima vez eu filmo para você.
— Obrigado! Mais alguma novidade?
— Bom, ao que tudo indica, agora estou oficialmente namorando!
— Não brinca!
— Não brinco.
— Com o Bob?
— Sim!
— Eu adoro aquele cara! Tipo, muito mesmo!
— Pois é, já entendi.
— Ele te pediu em namoro como?
— Então, não foi oficialmente um pedido em namoro, mas ele subiu em uma cadeira no meio do escritório e gritou para todo mundo que estava apaixonado por mim.
— Uau! Então, foi melhor que um pedido de namoro.
— Também achei... E a sua namorada? Como está indo?
— Um horror. Eu odeio aquela mulher agora.
— Sério?
Ele começou a rir:
— Estou brincando! Na verdade, ela está aqui agora.
Ick virou a câmera para mostrar a menina sentada do outro lado do quarto, em frente a uma mesa, escrevendo no computador. Ela se virou e acenou para mim. Vestia um moletom do Ick que ia até metade das suas coxas e nada mais. Dava para notar que não usava sutiã, pois os seios faziam desenho por trás do pano e era possível determinar o contorno dos seus mamilos. Também não usava calças e seu cabelo absurdamente ruivo estava preso em um coque frouxo. Apesar de tudo, não parecia se intimidar com a visão, passando a impressão de ser a pessoa mais despreocupada do mundo:
— Ouvi falar muito sobre você! — Ela disse.
— E eu de você! Quando vamos nos conhecer pessoalmente?
— Vem para São Paulo! Existe um milhão de lugares legais por aqui e podemos sair juntas para nos conhecermos melhor. Nem precisamos levar o Ick junto, conviver demais com homem pode até fazer mal.
Eu ri.
— Por mim, tudo bem.
— Combinadíssimo.
Ick interviu:
— As duas novas melhores amigas poderiam ter um pouco mais de consideração por mim.
— Quinze segundos de conversa e o rapaz já está com ciúmes — Elena disse. — Foi você que acostumou esse menino assim?
— Pois é, peço perdão por isso — brinquei. — Ele é um mimado!
— Por que eu fui juntar vocês duas? — Ick atiçou de volta.
Enquanto todos nós riamos, a campainha tocou.
Desde que recebi o telefone estranho de Lucas, sentia um frio na barriga cada vez que a campainha ou o telefone tocavam. Mesmo sem vê-lo, sentia a sua presença, como se eu fosse um animal que ele estivesse caçando de maneira furtiva e silenciosa. Tão silenciosa que nem a polícia me deu ouvidos.
Olhei da janela do meu quarto para saber quem chamava. Para o meu alívio, não era Lucas. Para a minha confusão, era um senhor de idade, usando terno preto e de pé em frente a uma limusine.
— Que estranho — comentei.
— O que foi? — Ick perguntou.
— Alguém que lembra muito o Alfred do Batman está parado na frente da minha casa com uma limusine.
— Bom, você lembra o que aconteceu da última vez em que entramos numa limusine, né? Só coisas boas acontecem!
— Acho que ele se embaralhou com os endereços. Vou lá avisá-lo que eu não sou o milionário que ele procura.
— Ok, tchau!
Desligamos.
Desci as escadas e abri a porta:
— Oi, senhor. Tudo bom? — Falei. — Desculpe, mas acho que você se enganou. Eu não pedi nenhuma limusine.
— O nome da senhora não é Jéssica? — Ele perguntou.
— É sim.
— Então é a senhora quem procuro. Bob me pediu para te buscar neste endereço.
***
Nota do autor
Elena, que aparece rapidinho neste capítulo, é a personagem principal de Não me olhe assim, um dos livros que mais tenho orgulho de ter escrito, que fala sobre o romance dela com Ick e, principalmente, sobre saúde mental e o valor da vida. Basicamente, é o que eu gostaria que 13 Reasons Why tivesse sido, mas não foi.
Eu sei que vocês estão morrendo para saber como poderão ler o livro e matar a saudade de Ick. Aguardem só mais um pouco, AMANHÃ tudo será revelado. Adianto apenas que não será no Wattpad.
Fiquem atentos ao meu instagram (felipesali)
Até mais!
Felipe Sali
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JÉSSICA - MÃE AOS DEZESSETE (HISTÓRIA COMPLETA)
ChickLitHISTÓRIA VENCEDORA DO WATTYS 2020. Jéssica vivia num conto de fadas, com amigas puxa-saco, uma família rica e a atenção de todos os rapazes do colégio. Aos dezessete, seu mundo vira de cabeça para baixo quando descobriu que estava grávida e a sua fa...