Abby
"Eu escutava atentamente os barulhos que estavam vindo do andar de baixo. Eu sabia que estava sozinha e que precisaria ser inteligente para sair dessa viva. Meus olhos permitiam que lágrimas salgadas escapassem deles, fazendo com que cada uma delas pingasse na minha camisola fina. Eu sentia minha garganta queimar e eu sabia que algo muito ruim estava para acontecer. Eu já não aguentava mais gritar e implorar por socorro, mas as pessoas não pareciam ligar muito pra isso. Minha cabeça parecia querer explodir.
Quando eu sequer tinha mais forças para continuar gritando, eu puxei o meu travesseiro e me escondi em baixo da minha cama. Tapei os meus ouvidos, enquanto tentava abafar ao máximo os gritos que vinham dos andar de baixo. Eu não sabia o que estava acontecendo e também não estava ansiosa para saber.
- Tudo bem, Abby. Tudo vai ficar bem. - Eu respirei fundo e repeti isso diversas vezes, apenas para me acalmar.
- Não dessa vez, querida! - Eu escutei uma voz masculina mais próxima de mim. Ele caminhou pelo quarto com passos lentos, enquanto eu tremia em baixo da cama. Estava tentando fazer o mínimo de barulho possível. - Eu já cansei dos seus gritos! Que inferno! Vem aqui! - Senti meus cabelos serem puxados para trás, enquanto eu tentava me debater para me livrar das mãos de seja lá quem fosse.
- Me solta! - Eu gritei outra vez, mas apenas senti os dedos apertarem mais a minha pele. Quando finalmente o encarei, eu engoli em seco. Sabia que não haveria jeito. Eu estava pronta para morrer ali mesmo. - Desculpa...
- Acho que você merece uma punição por ter berrado tanto, docinho! - Ele me jogou no chão com brutalidade e avançou a faca para o meu pescoço. Eu gritava com a dor estridente que aquela lâmina pressionava contra a minha garganta. Parecia que eu estava tendo um pesadelo infernal, mas a dor tornava tudo real. Eu não estava sonhando.
Ele continuou cortando, enquanto eu não parava de gritar. Quando finalmente não encontrei mais forças, ele parou. Com um olhar total de desprezo, ele começou a abrir a fivela do cinto. Eu não tinha mais forças para me mover, então apenas continuei jogada no chão em meio ao meu próprio sangue. Eu escutei sirenes de polícia no andar de baixo, e o homem pareceu escutar também. Ele afivelou o cinto outra vez e saiu correndo.
Era o começo do meu inferno pessoal."
Isso foi há três anos. Hoje completavam três anos, para ser exata. Foi assim que eu perdi a minha voz. Era um saco, mas eu aprendi a conviver com isso. Muitas pessoas me disseram que ia durar apenas um momento, mas cá estou eu. Sentada na cama do meu quarto, com os cilindros de oxigênio ligados ao meu nariz e uma grande cicatriz no pescoço. Eu não tinha voz e uma parte do meu pulmão estava comprometido pela fumaça do incêndio que aquele maldito homem causou na minha casa. Por isso, hoje eu preciso viver em um hospital.
Não é tão ruim, na verdade. Eu tinha aulas com uma professora particular até ano passado, agora eu pratico piano todos os dias. Não posso fazer muito esforço físico, mas ainda assim posso passear pela cidade duas vezes na semana. Não foi o que eu sonhei pra mim, mas foi o que o destino me deu.
Eu sempre fui uma criança alegre e pé no chão. Meus pais prezavam que eu tivesse uma educação magnífica, eu precisava ser a melhor. Eu acreditava que era a melhor. Sempre fui muito vaidosa também e gosto dessa parte em mim. Gosto de pentear meus cabelos escuros que despencam pelos meus ombros como uma perfeita cortina. Minha pele tem uma cor única que sempre se intensifica com o verão caloroso da Espanha. Em geral, tirando as partes ruins, eu gosto da minha vida.
- Abby! - A enfermeira, encarregada de cuidar do meu caso, entrou sorrindo. Ela me encarou positiva e eu sorri pra ela de volta. - Como está se sentindo?
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𝗥𝗘𝗔𝗗 𝗠𝗬 𝗟𝗜𝗣𝗦.
Romance𝙍𝙀𝘼𝘿 𝙈𝙔 𝙇𝙄𝙋𝙎: 𝘁𝘄𝗼 𝗵𝗲𝗮𝗿𝘁𝘀, 𝗼𝗻𝗲 𝗹𝗼𝘃𝗲. "Você é tão calada! Essa garota é estranha! Ela nunca diz nada. O gato comeu a sua língua princesa? Oh já sei, está me admirando!" Eu me impressionava cada vez mais com ele. Todas...