viii.

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Abby.

boy.friend.

Ares reservou a mesa do centro para nós dois, o que me causou um certo desconforto. Mais uma vez, eu era o centro das atenções, fico feliz que dessa vez não seja por conta da minha deficiência.

Peguei o telefone e entrei no aplicativo que serve como minha "voz". Digitei rapidamente e levei o aparelho ao ouvido de Ares.

Por que estão todos nos encarando? — Ele apenas sorriu e apertou a minha mão, como se quisesse me passar confiança.

Nos sentamos na mesa e Ares pediu um champanhe. Eu nunca havia bebido e ele percebeu, já que em seguida pediu uma outra taça com água. Eu sorri em agradecimento.

Coloquei minha mão em cima da mesa e olhei em volta. Alguns rostos eram bem conhecidos, já outros eu nunca havia visto na vida. Quando digo alguns, quero dizer o menor pedaço da metade. Porque eu passei quase minha vida inteira presa naquele hospital e os poucos rostos que identificava eram de ex amigos ou colegas de trabalho dos meus pais.

Me surpreendi com Ares pondo a mão, sobre a minha. Ele sorriu e abaixou a cabeça. Eu fiz o mesmo porém acabei corando.

— Você é tão fofa, baby — Seus dedos acariciaram os meus. Ele entrelaçou nossas mãos e riu nervoso. — Vou ser sincero, estou morrendo de ansiedade! — Ele abaixou o olhar. Pela primeira vez, eu vi Ares Hollow com vergonha de algo. — Que se dane, vou falar agora mesmo! — Ares diz depois de alguns segundos pensando consigo mesmo. Ele volta o seu olhar para mim e eu sorrio para que ele prossiga. — Acho que é a primeira vez que eu amo alguém em toda a minha vida. Na verdade, eu não acho, tenho a certeza! Quando me aproximei eu não pensava em algo mais do que amizade, mas quando eu fui te conhecendo eu percebi que você despertava sentimentos em mim que eu nunca senti por ninguém antes. Eu falei com a minha mãe, eu disse que estava me sentindo estranho e que toda vez que te via eu tinha uns troço na barriga. — Ri. Digitei no celular e encostei em seu ouvido.

Era fome, né? — Ele riu e negou.

— Não, babe. Não era fome! — Ele suspirou. — Era amor. Eu percebi que tinha ciúmes quando as pessoas te olhavam estranho, eu tinha raiva quando as pessoas zombavam de você. — Meu coração palpitava, pulando algumas batidas. Ares estava dizendo que me ama. — Eu percebi que não queria só ser próximo. Que eu não queria só ser o seu confidente. Eu queria ser a pessoa em quem você pensasse em primeiro lugar. Eu percebi que eu quero ser seu namorado. Então, eu te trouxe aqui. — Ele se levantou e deu a volta na mesa. Ele se abaixou ficando de joelhos e sorriu abrindo uma caixinha vermelha de veludo. — Senhorita Menendez, futura Senhora Hollow, você aceita ser a minha namorada? Eu prometo que seremos como Romeu e Julieta, sem segredos e sem diferenças.

Meus dedos tremiam, meus olhos estavam úmidos e meu sorriso quase rasgava meu rosto. Todos me olhavam fazendo minhas bochechas ficarem vermelhas. Ares me encarava com um sorriso ansioso, seus olhos ofuscavam o brilho de qualquer um ali.

Eu peguei o celular e digitei com dificuldade, pelas mãos trêmulas e os olhos úmidos. Aproximei o celular do ouvido dele calmamente, apenas para deixar que ele fique mais ansioso.

Eu estaria mentindo se dissesse que não aceito. Já te disse tantos sim que ainda me impressiono que você continua me perguntando! — Ele retira o anel da caixinha e encaixa no meu dedo anelar. Ares se levanta e arranca um beijo maravilhoso dos meus lábios e só então nos demos conta de que tínhamos platéia.

Quando nos separamos, ele me abraçou e a minha reação foi simples. Eu enfiei o rosto no pescoço dele, enquanto pessoas se aproximavam e diziam coisas como; felicidades ou parabéns para o casal.

— Agora, nós estamos oficialmente juntos. — Ele beija meus lábios e se senta novamente.

Não sei para Ares, mas para mim nunca foi preciso um anel para validar o nosso relacionamento. Gosto da ideia do anel, mas acho que não deve ser o nosso ponto de partida. Enfim, nós comemos normalmente e na saída eu me lembro de uma coisa.

Eu tenho que contar sobre o Jeremy.

Ares — Ele me olhou quando entramos no carro. — Eu tenho que te contar uma coisa, mas você precisa me prometer que não vai surtar.

— Claro, babe. Pode falar. — Eu respirei fundo. Falar sobre aquilo é difícil ainda mais quando é o pai do meu namorado.

Na festa da Jude, quando eu voltei e estava tremendo muito e chorando. Você me perguntou porquê, mas eu te disse que nada havia acontecido. Mas aconteceu uma coisa. — Ares franziu o cenho com um grande ponto de interrogação. E sua confusão aumentou mais ainda, quando me viu deixar uma lágrima cair. — Você prometeu que não iria surtar.

— Continua, Abby.

Voltei a digitar com rapidez.

Eu fui á uma praça. Primeiro uns universitários me pediram ajuda para uma pesquisa, mas eu não pude ajudar, mesmo se eu quisesse, não teria como. E então o seu pai apareceu. Ele começou acariciando minha coxa, começou a apertar a mesma e a cada vez mais subir as mãos. Eu não tinha forças, mas por uma fração de segundos, seu sorriso apareceu na minha mente e então eu me levantei correndo dali. Eu não queria ir para a sua casa novamente. Eu me sentia suja, me sentia uma aberração. Eu pedi para ir embora e você de certa forma entendeu que eu era uma mal agradecida. Na verdade, eu só queria um lugar que eu pudesse me sentir segura... Foi culpa minha. Eu jamais deveria ter saído e te deixado sozinho. Doeu como o inferno, Ares... — Olhei para ele tentando decifrar seu rosto, mas minha visão estava completamente distorcida por conta das lágrimas.

— Abuso? — Ele pareceu se perguntar, enquanto ainda processava tudo que eu havia contado. — O Jeremy? — Ares apoiou as mãos na cabeça. Seus olhos se encheram d'água e, de repente, ele socou o volante com todas as suas forças.

Eu me espremi no banco assustada com a reação dele, mas ele apenas continuou socando o volante com força. Talvez uns trinta segundos se passaram, quando ele finalmente parou. Ele pegou o telefone e discou um número. Colocou no bluetooth do carro e arremessou o celular no banco de trás.

Ares, querido! — A voz de Jeremy ecoou pelas saídas de som dentro do carro.

Minhas pernas ficaram mais fracas, meu coração se acelerou e de repente o carro pareceu menor.

— EU TE ODEIO! COMO VOCÊ PÔDE FAZER AQUILO COM A ABBY? VOCÊ SABIA QUE ELA NÃO PODIA SE DEFENDER E SE APROVEITOU DISSO!

Uau, eu não sei do que você está falando! — Foi possível ouvir uma risada irônica.

— VOCÊ SABE SIM! SE VOCÊ QUER MESMO SABER, EU CONFIO MAIS NELA DO QUE EM VOCÊ!

ENTÃO CONFIE NA MUDA! — E então, ele desligou a chamada.

Ares gritou tão alto que meus ouvidos quase estouraram. Ele bagunçou os cabelos em uma tentativa falha de se acalmar. Eu não sei por qual motivo, mas quando me dei conta estava com uma das mãos em sua nuca, acariciando o local. Ele me olhou e me puxou para um abraço. Eu podia sentir suas lágrimas caírem sobre os meus ombros.

Quando nos separamos eu passei minhas mãos em seu rosto, pedindo para que ele parasse de chorar.

— Me desculpa! Eu nunca deveria ter te deixado sozinha! Desculpa! — Ele esfregou os olhos como uma criança, mas eu conseguia sentir a sua dor em cada uma das suas palavras. — Não foi sua culpa, babe... Ele é um idiota! Eu o odeio tanto! — Eu o puxei para um abraço de novo e fiz carinho em seus cabelos. — Eu vou te proteger, babe... Eu falhei dessa vez, mas não vai acontecer de novo. Não vai, eu prometo!

Ares me puxa para sentar em seu colo e eu me aconchego em seus braços. Ele beija o meu pescoço e desce os beijos pelo meu braço, enquanto passa suas mãos pelo meu corpo. Me sinto segura ali.

— Você não tinha que ter passado por isso sozinha, baby. — Ele murmura baixinho para mim. — Eu estou com você.

Nós ficamos um tempo no estacionamento do restaurante e depois de Ares se recompor, nós partimos para a casa dele.

𝗥𝗘𝗔𝗗 𝗠𝗬 𝗟𝗜𝗣𝗦.  Onde histórias criam vida. Descubra agora