𝗥𝗘𝗔𝗗 𝗠𝗬 𝗟𝗜𝗣𝗦.

xvi.

Ares.

Saber que errei e não conseguir assumir o meu erro, não é a pior parte disso tudo. Mas saber que o seu erro trouxe uma pessoa importante pra você até um hospital, sim. Essa é a pior parte.

Minha mãe costumava dizer que eu nunca assumia a minha culpa por inteiro e, agora, eu consigo ver que ela sempre esteve certa. Eu queria culpar outra pessoa. Eu queria culpar a Audrey pela noite em que eu traí a Abby, mas eu sei que a culpa é inteiramente minha. Por mais que eu tente fugir, esse sentimento de culpa me assombra durante a noite.

Desde que eu cheguei, venho tomando coragem para ligar para Beth. Eu sei que ela vai me encher de perguntas e depois vai jogar toneladas de verdades na minha cara. Ela sempre faz isso. Pra ser sincero, eu tenho a consciência de que eu estou precisando ouvir essas verdades, por mais doloridas que elas sejam. Eu estive sonhando com uma vida perfeita durante muito tempo, acho que já está na hora de eu acordar e sonhar com os meus pés firmes no chão.

— Como ela está? — Eu perguntei para o Doutor Jones, assim que ele pisou na sala de espera.

— Está melhor do que antes. — Ele engoliu em seco.

— Porra. — Reclamo e me afasto um pouco. Passo as mãos pelos meus fios de cabelo, que já estão mais bagunçados do que o normal. — Merda, merda, merda!

— Eu alertei sobre uma possível recaída e não há mais nada que eu possa fazer. Sinto muito. — Ele disse. — O que nos resta é esperar.

— Você não sente nada! Por que você apareceu na minha casa e disse aquelas merdas pra ela? Mas que droga, Jones! Se ela está aqui, é por sua culpa! Você não fez o seu trabalho como deveria e agora eu vou perder a minha garota! — Despejei com raiva e acabei atraindo um pouco mais de atenção para nós.

— Doutor Jones, tudo bem? — Um enfermeiro pergunta, enquanto me encara com certa preocupação.

— Está tudo bem, Tyler. — Jones responde. Ele dá um longo suspiro e me encara com certa dó. — Você precisa se acalmar, se quiser continuar aqui. Tyler, dê algo para ajudar o Senhor Hollow a se acalmar. — Ele diz para o enfermeiro, mas logo volta sua atenção para mim. — Eu vou avisar a sua mãe que você está aqui. Agora você também é nosso paciente.

Eu não disse mais nada, apenas deixei que Tyler me levasse para uma sala mais afastada e aplicasse o medicamento na minha veia. Eu sabia que precisava me acalmar, sabia que iria explodir alguma hora. Mais uma vez, Beth estava certa. Eu explodi e joguei a culpa em outra pessoa. Mas no final, aquele sentimento de merda ainda estava presente no meu peito. Ainda doía pensar.

— Eu te avisei, não avisei? — Beth disse com a cabeça abaixada. Eu sequer havia notado que ela estava ali. Quando ela levantou o olhar, pude ver que ela também estava chorando. — Eu te disse que vocês iam acabar se machucando...

— Agora não, mãe... Por favor. — Eu abaixei o olhar também e deixei com que as lágrimas caíssem. Nós nos mantemos em silêncio por alguns minutos. Tudo o que se podia escutar, era o choro baixinho de Beth. — Eu não sei o que fazer... Eu não sei como ajudar, mãe...

— Não tem nada que você possa fazer agora, querido. — Ela se aproximou e se sentou na poltrona ao lado da minha. — Nós só podemos esperar e torcer pra que ela se recupere... Eu soube quando eu a vi. Se não deu certo com a Audrey, não daria certo com a Abby. Eu não quis dizer nada porque você parecia feliz, Ares. Você estava feliz. Mas vocês se destruíram.

— Não compare a Abby com a Audrey. Eu não dei certo com a Audrey, porque ela não quis. Ela não me queria. Com a Abby... — Eu parei para pensar nas minhas próprias palavras e deixei com que mais lágrimas caíssem. Era hora de assumir. — Eu errei com a Abby... Eu tinha tudo, mas mesmo assim eu quis mais. E agora, eu não vou ter nada.