xiii.

1.7K 89 2
                                    

Abby.

Meu corpo está completamente dolorido, como se eu tivesse apanhado a noite inteira. Meus olhos estão cansados, a minha garganta dói e meu coração ainda está apertado por causa do Ares. Não gosto de brigar com ele.

Já se passaram duas semanas, desde que eu recebi alta. Eu ainda não sei o que aconteceu com ele naquele dia, mas acho que também não quero saber. O importante é que ele está comigo agora. Tenho medo de procurar por respostas e acabar encontrando algo que vai me machucar profundamente.

Ares também não saiu mais. Chad e os garotos estão sempre aqui quando podem. Eles dizem que os estudos estão ocupando boa parte do tempo deles, já que é quase final de semestre. Muitas vezes eu desejei passar por essa correria também e, agora, eu sinto que estou cada vez mais perto desse meu desejo.

Ás vezes eu só queria ser uma universitária, como qualquer outra. Eu reclamava da minha vida, mas hoje eu percebo que eu reclamava de barriga cheia. Acho que é verdade que só damos valor, quando realmente perdemos.

De onde eu estava, eu conseguia escutar uma melodia doce e calma. Bem ao fundo, era possível ouvir uma voz baixinha cantando sob o som das teclas do piano. Sei que preciso repousar, mas minha curiosidade falou mais alto. Eu quero saber o que ele está cantando.

Ares parecia tão concentrado que ele mal notou que eu estava o observando. Seus olhos estavam fechados, enquanto seus dedos dedilhavam o piano inteiro como se aquele território já fosse conhecido há anos. Acho que Beth comentou que ele fez aulas de piano quando criança.

Maybe you could be the light; That opens up my eyes; Make all my wrongs right; Change me, change me. — Ares cantou com os olhos fechados. Eu sorri orgulhosa de seu desempenho. — Don't fight fire with fire; If I'm screaming, talk quieter; Understanding and patience; Feel the pain that I'm facing.* Até mesmo uma pessoa qualquer poderia perceber que aquela música tinha um pouco de verdade. Falava sobre o nosso relacionamento.

Eu esperei ele terminar, achei que ele notaria minha presença, mas não. Ele apenas continuou escrevendo e ajeitando algumas coisas. Eu me sentei ao lado dele e o olhei suspirando. Passei as mãos pelas teclas do piano e sorri. Nunca pensei que poderia sentir tanta saudade de escrever uma música.

— Você sabe tocar? — Ele questiona e eu assinto de leve. — Pode tocar pra mim? Por favor.

Deslizei as mãos sobre as teclas e uma explosão de sensações vieram a tona. Sensações boas e ruins.

Eu costumava me sentar ao lado do meu pai para tocar piano, sempre tocamos juntos. Era o nosso instrumento. E agora, eu estou tocando o nosso instrumento sem ele. Minha vontade era única e simples. Eu queria tê-los mais uma vez. Mesmo que fosse por apenas alguns segundos. Queria ter dito adeus.

Me impedi de continuar a tocar, quando uma lágrima ameaçou cair. Eu não queria chorar. Ares entendeu a minha deixa e ficou calado. Eu faço aulas no hospital, mas é diferente com a minha tutora lá. Eu não sei o porquê, mas hoje eu estou mais sensível para isso.

Desculpa. — Murmurei baixinho para ele. Ares assentiu compreensivo.

— Eu entendo. — Ele me abraçou de lado e beijou a minha testa. — Vamos comer alguma coisa.

Ares me pega pela mão e nós caminhamos para a cozinha. Ele procura algo para comermos, porque tenho quase certeza que Beth havia saído para fazer compras.

— Minha mãe anotou o que você não pode comer. — Ele disse concentrado, enquanto lia uma lista. — Temos restrições mas vai dar tudo certo no final.

Ares fez uma macarronada simples e esperou até que eu pudesse comer também. Ele alegou que estava com tanta fome que estava alucinando já, mas que não iria comer sem a minha companhia. Então tivemos que esperar um tempo até o macarrão esfriar.

Por fim, nós comemos e assistimos alguns filmes antigos. Beth não demorou a chegar, porém quando chegou não ficou por muito tempo, ela tinha um encontro. Ares ficou mordido de ciúmes, mas entendeu que a mãe é jovem e solteira e que não deve se prender somente a ele.

Agora, já se passavam das nove da noite, e nós estávamos deitados na cama, ele acariciava meus cabelos, e encarava a televisão. Por mais que nós não fizemos nada o dia inteiro, eu estava cansada.

[pov especial]
Audrey.

— Ty — Acariciei seu peito. — Eu preciso de mais daquilo que você me deu.

— Eu nem te perguntei como foi. — Tyler disse. — Ele se lembra do que aconteceu?

Eu me levanto cobrindo meu corpo com o lençol e começo a pegar minhas roupas no chão do quarto.

— Não, ele não lembra de nada. — Sorri de lado. — Mas, para continuar ganhando o que acabou de ganhar, precisa me dar mais daquilo.

— Vou pedir mais. — Ele disse, enquanto acendia um cigarro. — Mas, você sabe que está mexendo com gente grande, não sabe?

— Só faz o que eu te pedi, ok? — Sorri falsa para ele.

Antes que eu fizesse qualquer coisa, Tyler segurou a minha mão com força e me encarou nos olhos.

— Eu não vou ficar cobrindo as suas merdas, ouviu? Se você fizer alguma besteira, eu vou te entregar sem pensar duas vezes. — Ele ameaça e eu dou um puxão no meu braço. Me afasto dele e caminho para a porta. — Quem avisa amigo é.

Sei que estou me enfiando em burrada, mas preciso ter o Ares de volta. Eu errei com ele no passado e agora preciso fazer com que ele enxergue que eu sou tudo o que ele tem. E ele vai enxergar isso. Por bem ou por mal.

𝗥𝗘𝗔𝗗 𝗠𝗬 𝗟𝗜𝗣𝗦.  Onde histórias criam vida. Descubra agora