iii.

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Abby

Eu não estava bem para continuar ali e sei que havia prometido ao Ares, mas se tem algo que eu aprendi nesses anos vivendo no hospital, é que a minha saúde mental deve ser posta acima de tudo e de qualquer coisa. Tudo o que o pai do Ares me disse, continuava martelando na minha cabeça. As palavras insistiam em serem arremessadas contra mim, enquanto eu tentava me proteger. Elas vinham de todos os lados. Eu sentia as paredes se fecharem diante de mim e minhas mãos começaram a suar mais do que o comum. Eu estava tendo uma crise de pânico.

Ares estava ao meu lado e ele apertava a minha mão quando alguém nos encarava torto. Ele está tentando fazer eu me sentir confortável. Ele sabia que as pessoas estavam comentando, todos sabiam. Eu já tinha recebido muitos comentários maldosos, mas eu nunca vou me acostumar com isso. As pessoas podem ser cruéis. Elas não se importam com o próximo quando decidem opinar sobre a vida de alguém. E eu me importo com a família de Ares gostar de mim.

Acho que me sinto mal de estar dessa forma, quando Ares está dando tudo de si para que tudo ocorra bem.

Eu já volto, tudo bem?

— Tudo bem, babe. Eu vou estar bem aqui. — Ele sorriu de lado. Eu fiz o meu melhor para lhe dar um sorriso também, mas acho que o máximo que fiz, foi pressionar meus lábios uns nos outros.

Eu caminhei para dentro, como se estivesse indo ao banheiro, e quando notei que ele havia parado de me encarar, caminhei para a porta principal. Eu precisava pensar um pouco. Me ajudava a me acalmar. Meus pés se moveram para a rua e ali eu me permiti caminhar sem rumo. Não consigo parar de pensar que estou decepcionando uma pessoa de ouro, mas ele precisa entender. Não vai dar certo mesmo. Eu me importo demais com ele, por isso eu quero poupá-lo de tal sofrimento. Eu tenho uma vida instável, posso morrer com qualquer pequena infecção e eu não quero ter que assisti-lo chorar no meu leito.

E também, ele nunca namoraria uma muda. E eu nunca poderia fazê-lo feliz, embora ele me fizesse a garota mais feliz do mundo. Ele me faz bem, mas nós nunca formaremos um bom casal. Ele é bom demais pra mim.

Me sentei na praça e olhei em volta. Não estava lotada, como eu imaginava que estaria, mas tinham algumas poucas pessoas por ali. De um lado, conversas e bebidas eram arremessadas, enquanto que do outro lado, uma garota passeava com o seu cãozinho. Estava uma brisa fria, porque estamos quase no início do outono, o que me fez encolher os ombros. Não era um frio insuportável, mas não era muito agradável também.

Pude ver alguns universitários caminhando por ali em bandos, enquanto vestiam camisas de suas respectivas faculdades. Me imaginei sendo um deles. Em como eu poderia ter sido feliz. Alguns deles, tinham um espanhol arrastado, o que indicava que haviam gringos na área.

Um garoto sorriu pra mim e começou a caminhar na minha direção. Ele carregava uma prancheta, o que me fez deduzir que estava fazendo uma pesquisa acadêmica. Eu senti um frio na barriga, porque me lembrei que não havia trazido a lousa. Que ótimo!

— Olá, boa noite! — Ele sorriu educado. Duas garotas se aproximaram e sorriram pra mim também. — Eu sou o Nathan, eu estudo na ITE e nós estamos fazendo uma pesquisa simples com algumas pessoas. Será que você poderia nos ajudar respondendo algumas perguntas rápidas? — Ele me encarou curioso e eu engoli em seco.

— Você fala a nossa língua? — Uma das garotas atrás dele disse, depois de alguns segundos de silêncio.

Suspirei fundo e apontei para a minha garganta. Eles me encararam curiosos, mas tudo pareceu ficar claro quando eu neguei.

— Ah, você é muda? — A outra garota me perguntou com um sorriso brotando no rosto.

— Que vergonha, Nathan! Tantas pessoas aqui e você escolheu logo a muda! — As duas caíram na gargalhada outra vez.

𝗥𝗘𝗔𝗗 𝗠𝗬 𝗟𝗜𝗣𝗦.  Onde histórias criam vida. Descubra agora