xiv.

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Ares.

— Você perdeu o juízo? — Ryan se exalta comigo. — Mas que merda, cara!

Eu precisei contar para alguém. Estava entalado na minha garganta e eu sinto que não consigo seguir em frente sem discutir sobre isso. Ryan foi a única pessoa que eu pensei que pudesse contar.

Ryan é um pouco mais velho que eu, então é uma pessoa em quem eu confio para pedir conselhos. Eu esperava uma abordagem diferente da parte dele, mas não posso negar que cometi um erro. Ele tem toda a razão para se indignar.

— Eu estava bêbado, cara. Eu não me lembro de nada daquela noite. — Me justifiquei, enquanto Ryan andava de um lado para o outro na minha frente.

— Porra, você não pensou em ninguém. — Ele diz com raiva. — Você não é fraco pra bebida, cara. Impossível você ter bebido tanto em tão pouco tempo.

— De uma coisa, eu tenho certeza. Eu não traí a Abby porque quis. Simplesmente pelo prazer de traí-la. Não. Você sabe o quanto eu lutei pra ficar com ela, não iria desperdiçar tudo assim tão fácil. — Digo igualmente irritado.

— Você já desperdiçou, Ares. Deveria ter pensado nisso, enquanto estava fodendo com a Audrey. — Ele foi duro com as palavras. Eu não rebati. Ele está certo.

— Eu juro que não me lembro de nada. — Disse mais uma vez.

— Você usou alguma coisa? — Ele perguntou.

— Não. Estou limpo desde Boston. — Dou de ombros.

Ryan continuou pensativo por mais alguns minutos. Acho que estava decidindo que conselho poderia me dar. Aprecio muito essa parte nele. Posso ter feito a maior burrada da história, mas ele sempre vai me ajudar sem deixar de me condenar pelo que eu fiz.

— Acho que você deveria conversar com a Abby. — Disse por fim.

— Não. Não posso. — Digo rapidamente. — O que quer que eu diga? — Rio nasalado e logo respondi a minha própria pergunta em um tom irônico. — Oi amor, então sabe aquela noite em que eu saí com os meninos? Acabou que eu transei com a minha ex e não me lembro de nada. Sem chance!

— É o certo, Ares. Você sabe disso. Eu acho que gostaria que você fosse sincero comigo. — Ele deu de ombros. — O meu conselho você já tem. Diz a verdade.

— Acho que você vai ser um ótimo namorado, Ry... Você deveria tentar com alguma garota. — Dou de ombros mudando de assunto.

Ryan permanece em silêncio por alguns instantes. Acho que está processando o que eu acabei de dizer.

Desde que o conheci, Ryan é dedicado e aventureiro. Ele gosta de ser livre e usufrui bastante da sua liberdade. Acho que é por isso que nós sempre nos demos muito bem. Acho que seria bom pra ele arrumar alguém legal. Alguém com quem ele pudesse partilhar das suas experiências malucas pelo mundo.

— Eu conheci uma garota, na verdade. — Ele diz um pouco sem graça. — Ela é legal. Bonita e tal, mas eu ainda estou pensando. Ela me parece o tipo de garota que beija e já planeja o casamento. — Ele ri nervoso.

— Qual é o nome dela? — Pergunto e dou uma leve risada pela careta que ele faz.

— Acho que era Hailey. Ela tinha um sotaque australiano, com um corpo bem desenhado, sabe? — Ele sorri se lembrando dos pequenos detalhes. — Cara, eu amo australianas! — Ele suspira alto. — Não faço ideia de como é ter uma garota, mas se eu pudesse escolher alguém, seria a Hailey.

— Eu não sei como te ajudar, mas acho que você vai saber o que fazer quando chegar a hora. — Dou de ombros depois de soltar a frase mais confusa em toda a nossa conversa. — Eu faria qualquer coisa pela Abby.

— É, você tem uma relação bonita com a Abby. — Ryan murmura e bebe mais da cerveja em seu copo.

Nós conversamos por mais alguns minutos, mas eu logo me despeço dizendo que preciso ir embora. Deixei Abby sozinha em casa, já que Beth estava trabalhando hoje.

— Ah, antes que eu me esqueça! — Ryan abre a mochila e puxa um caderno e uma caneta decorada. — Contei para a minha mãe sobre a Abby e ela fez um presente. Ela desejou melhoras e disse que quer conhecê-la.

— Vou entregar pra ela. Obrigado, cara! — Abracei Ryan e virei os meus calcanhares para ir embora.

Como o restaurante em que eu estava com o Ryan era próximo de casa, eu não vim dirigindo. E da mesma forma que cheguei até aqui, precisei voltar. Caminhei de volta por mais alguns dez minutos e logo estava em casa de novo.

Abby estava sentada no sofá, mas assim que me viu, ela correu para me abraçar. Quando finalmente consegui enxergar seu rosto, percebi que ela estava chorando.

— Tudo bem, amor. Eu estou aqui agora. — Passei a mão em seus cabelos e beijei o topo de sua testa. Abby demorou para se acalmar.

Não foi nada. Eu só... Eu só tive um pesadelo. — Ela apertou a minha mão e sorriu. Eu respeitei o seu momento. — Eu vi umas fotos suas com uma garota no quarto.

— É, a minha mãe gosta de guardar tudo! — Ela sorriu para mim. Eu entendi que Abby queria mudar o rumo da nossa conversa, então pensei que não teria problema em responder o que ela queria. — O nome dela era Sara. Ela era mexicana, mas estava morando com a tia em Boston. Nós nos conhecemos na escola e viramos melhores amigos. Ela era muito bonita e chamava bastante atenção por onde passava. Não demorou muito pra ela começar a namorar e se afastar de mim. Eu entendia, mas odiava. A Sara... Bem, ela descobriu que o namorado estava traindo ela e acabou... Enfim, ela não resistiu. — Dou de ombros. — Eu a encontrei. Fui á sua casa para conversar com ela e a encontrei no quarto.

Abaixei a cabeça nervoso. Eu estava chorando, chorando na frente dela novamente. Eu já não aguentava mais. Mal haviam lágrimas no meu corpo.

— Acho que minha mãe guardou todas as fotos no meu quarto, mas eu nunca tive coragem de olhar pra elas de novo. — Limpo as lágrimas que caíam pelo meu rosto e engulo em seco. — É a primeira vez que conto sobre isso para alguém.

Sinto muito, Ares. — Abby diz com o olhar triste. Acho que ela não esperava que algo assim poderia acontecer.

— Não sinta pena, por favor. Acho que nós dois já lidamos muito com os olhares de dó. — Digo rindo forçado.

Eu não sei o que dizer. — Abby disse envergonhada.

— Quero ficar um tempo sozinho, tudo bem? — Não esperei pela resposta dela, apenas subi as escadas quase tropeçando em meus próprios pés.

Meus pensamentos vagavam. O incômodo que eu sentia há pouco tempo atrás ainda estava presente, mas mesmo assim, eu tentava encontrar respostas nos meus problemas atuais. Por que Abby estava chorando? Por que eu não me lembro de nada da minha noite com Audrey? Por que mesmo com tudo indo tão bem, eu não consigo me sentir aliviado?

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