Tentando esquecer

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      _ Aonde você vai, Lorie?_ quis saber Lívia.
      _ Vou me divertir. Dessa vez sozinha. Já que agora sou à única garota solteira aqui.
      Os gêmeos já tinham dois anos. Luísa estava grávida. Todas as atenções voltadas aos novos membros da família. Não tinham mais ânimo para sair comigo.
      _ Desculpe. Nicolae está no hospital. Preciso cuidar dos bebês.
       _ Eu até iria. Mas, Drogo não vai gostar se eu sair. Está todo protetor agora.
       _ Tudo bem, meninas. Eu posso me divertir sozinha.
        _ É bom ver você alegre de novo. Prefiro a versão menina má, do que a menina melancólica. _ disse Lívia. _ Depressivo basta o Peter.
       _ Divirta-se. _ disse Luísa.
       E eu saí, antes que não pudesse mais manter o disfarce. Nesse tempo que passou, eu tirei carteira para carro e moto. No entanto, ainda estava em dúvida sobre o que comprar. Na maioria das vezes usava o carro de Luísa ou a moto de Lívia. Dessa vez, fui de carro. Não havia tantas opções assim, para diversão. Eu fui até uma boate. O barulho era irritante, para meus ouvidos de vampira. Fiz um esforço para ficar lá. Acabei encontrando pessoas da faculdade.
       _ Oi, gata. Veio se divertir com os humanos?
       O rapaz estava bêbado. Visivelmente. O odor de álcool era insuportável. Ter os sentidos apurados tinha suas desvantagens.
       _ Ela quer sangue... Vem beber gata. Quer dizer... Morcega. Isso existe?... Ou é morcego fêmea?...
      O rapaz ria descontrolado.
       _ É morceguinha. Vem cá, sua sanguessuga. Vem beber.
       Ao ouvi-lo dizer aquilo, me lembrei de algo que adoraria esquecer. Os lobisomens. Eu não tive coragem de contar o que aconteceu. Tinha vergonha. Eu parei de dançar e saí dalí. Fui sentar no banco da praça, onde poderia chorar sem ninguém ver. Como era difícil fingir que estava tudo bem. Talvez eu devesse realmente pedir para esquecer, como Luísa fez. Ou talvez, devesse ir embora de vez. Para nunca mais voltar. 
       _ Porquê está tão triste?... Vi você saindo da boate atordoada.
       _ E quem é você?
       _ Sou um professor da faculdade. Você não tem aulas comigo. Só o seu irmão de criação, Peter. Sou professor de canto e arranjos musicais.
       _ O que um professor fazia na boate?
       _ Professores também se divertem. Mas, porquê está tão triste? Estão te excluindo na escola por ser vampira?
       _ Não. Até que não houve intolerância. Nós salvamos vocês. Afinal de contas. Foi difícil, doloroso e arriscamos nossas vidas.
       _ E uma vampira morreu. Eu fiquei sabendo.
       _ Ela era uma idiota. Mas, fazia parte do clã. Veio ajudar e...
       _ As pessoas acham que ser vampiro é só flores. Uma maravilha. Não ter doenças, se curar sozinho. Só precisar de sangue. Não envelhecer. Mas... Não conseguem ver o quanto é solitário. 
       _ A gente envelhece sim.  Só que bem mais de vagar que os humanos. Não é tão solitário assim. Temos uns aos outros.
      _ Então, porquê está sentada aqui sozinha e chorando?... 
       Porquê aquele professor estava tão interessado em saber?... Essa intromissão era desconfortável. " Humano curioso ". Pensei.
       _ Não tem nada de errado comigo.
       _ Entendi. Não quer falar para esse humano que acabou de conhecer sobre o que está sentindo. Mas, sabe... As vezes é mais fácil falar para estranhos do que para alguém próximo. Pode me dizer, eu não vou te julgar.
       _ Se me julgar eu posso drenar o seu sangue. Não tem medo de ser tão atrevido com uma vampira?
       _ Vocês são do bem. Se fossem maus não teriam pedido nosso sangue. Teriam pegado a força. E não teriam nos protegido dos lobisomens. Apesar de que estavam protegendo só a sua própria alimentação. O fato é que não são como os vampiros dos filmes e livros. Vocês são muito... Humanos.
       _ Já fomos humanos um dia... Agora não somos mais.
       _ O que eu quis dizer é que são como nós... Só que com alguns ajustes. 
       Aquele cara era muito estranho. Mas, eu precisava mesmo falar com alguém e no momento não podia ser com nenhum Bartholy.
        _ Todo mundo está tão feliz!... Lívia e Nicolae tem os gêmeos. Luísa e Drogo estão esperando a chegada do primogênito. E eu... Não quero ser inconveniente demonstrando que não estou bem. Não é justo. Elas batalharam tanto para conquistarem a felicidade. Não posso ser um peso para elas.
        _ E o que faz você ficar tão mal?
        _ Se você contar para alguém eu te mato.
        Ele riu e ergueu a mão direita.
        _ Prometo não dizer nada para ninguém. Fica só entre nós.
        Eu respirei fundo. Colocar para fora talvez aliviasse um pouco a pressão no meu peito.
        _ Aconteceu uma coisa durante a guerra que eu não contei para ninguém. Porquê tenho vergonha. E além do mais... O que me deixa triste é que estou apaixonada e não sou correspondida.
        _ O rapaz sabe que você gosta dele?
        _ Sabe!... Ele me conhece desde criança. Acho que não consegue me enxergar como mulher. 
        O professor olhou para mim de cima a baixo.
         _ Impossível. Você é um mulherão. Com todo respeito... Muito linda e atraente. Parece normal que vampiras sejam... Tão quentes. 
         Eu ri disso.
         _ Nós somos geladas. Nossa pele é gelada.
         _ Não foi isso que eu quis dizer. Você parece ser bem inocente. 
         Eu aprendi muitas coisas nos livros que Lívia comprou para mim. Em questão de prática eu era quase inocente. Desde aquilo na guerra... Eu não era mais tão inocente assim. Mas, é claro que ainda tinha muitas coisas que eu não entendia. Eu era adulta há apenas três anos. Fui criança por décadas. Sempre protegida em uma bolha, pelos meninos. Foi Lívia que me explicou o pouco que eu sabia.
        _ Esse rapaz com certeza nota que você já é uma mulher adulta. É bem visível. Talvez haja outro motivo para ele te rejeitar.
         _ Sou como uma irmã para ele.
         O professor então, balançou a cabeça como se tivesse entendido algo.
         _ Você gosta do Peter...
         Eu fiquei corada e abaixei a cabeça. Era difícil falar disso. Eu não sabia se os humanos entendiam bem como eram os laços entre os Bartholys.
         _ Sim. Mas, não somos irmãos. Isso foi só... Uma maneira de explicar aos humanos porquê moramos todos juntos. Nós só fomos transformados pelo mesmo original... Viktor.
         _ Então, ele te rejeitou com a desculpa de que te considera uma irmã e ainda te vê como uma garotinha?
         _ Eu acho que sim. Ele só... Está me ignorando e fingindo que não sabe que gosto dele. Acho que por esses dois motivos. Foi o que ele disse há muito tempo atrás. E eu estou cansada de fingir que está tudo bem. Que não está doendo. Mas, não quero um clima ruim em casa, agora que tudo se ajeitou para as outras. 
        _ Então, está sofrendo em silêncio... Essa máscara que você usa de mulher segura de sí, toda provocante e inabalável, engana mesmo eles?
         _ Para eles eu ainda sou uma menina pirracenta, má e mimada. Eles não sabem o que aconteceu comigo antes de me tornar vampira e não entendem porquê eu ajo desse jeito. Eu sou insuportável. Deve ser por isso que ele não gosta de mim.
        _ E o que você pretende fazer?
         _ Eu saí porquê quero esquecer. Quero superar o que sinto por ele. E só vou conseguir isso se fizer como as meninas disseram... Encontrando outro amor!
         _ Tirando vocês, só tem humanos na cidade.
         _ É... Viktor não quer que a gente namore com humanos. Mas, eu só preciso esquecer o Peter. Só preciso superá-lo. 
         _ Então, só precisa encontrar um humano que esteja curioso sobre vocês e disposto a ter um caso passageiro. Só até você superar o que sente. Alguém que não tenha pretensão em casar com uma vampira. Que só queira... Uma experiência diferente.
         _ E onde eu vou encontrar um humano que aceite esses termos?
         O professor estendeu a mão e sorrindo disse...
         _ Eu sou o Dérick. Prazer em conhecê-la.
         _ Eu sou a Lorie. Você já sabe disso.
         Ele se aproximou e sussurrou no meu ouvido...
        _ Eu posso te ajudar a esquecer o Peter e satisfazer minha curiosidade com relação à vampiras. Ninguém precisa saber. Assim, não corremos o risco do Viktor querer nos punir.
        Eu não senti absolutamente nada com ele sussurrando no meu ouvido. Mas, se eu ia esquecer o Peter, qualquer um serviria não é?... 
       _ Promete não dar notas ruins ao Peter, só por causa disso?
       _ Prometo! Ele é como qualquer outro aluno.
      _ Então, podemos entrar em um acordo. Desde que fique claro que só quero esquecer o Peter.
     _ Eu só quero satisfazer a curiosidade. Não se preocupe.
     Eu respirei fundo e balancei a cabeça. 
     _ Então, tá. Vamos sair juntos.
    A verdade é que eu nem sabia direito como funcionavam essas coisas. O que deveria acontecer agora?... Um abraço, um beijo, sair para passear?... 
     _ Vamos nos divertir...
     Ele estendeu a mão e eu segurei. Fui com ele de volta até a boate. A música incomodava muito. Os cheiros de bebida eram o pior... Mas, a intenção era esquecer. Eu dancei enquanto ele foi buscar uma bebida. Ao som de " Titanium ", eu me movia de um lado para o outro. E minha aura de vampira, aquele charme natural começou a atrair os olhares dos rapazes alí presentes. Não era minha intenção. No entanto, aquilo me fez ver que Dérick tinha razão. Era visível que eu não era mais uma garotinha. Ele voltou com o copo de bebida. Dançando na minha frente. Enquanto os outros se afastaram. Criando uma rodinha com nós dois no meio. Ele me abraçou e sussurrou no meu ouvido... " Ele é um idiota! Você é muito gata ". E beijou meu rosto. Era para eu me sentir melhor. Era para eu esquecer o Peter. Mas, a única coisa que eu pensava era como ele se sentiria, se soubesse que eu estava tentando esquecê-lo, de um jeito diferente do que Luísa tentou? Tentar usar alguém para esquecer um amor era mesmo a melhor forma?... Porquê eu me sentia tão mal? Os rapazes em volta pareciam querer estar no lugar de Dérick. Mas, as garotas me olhavam com repulsa. Como se eu estivesse fazendo algo muito errado. " O que eu deveria fazer? Preciso esquecer Peter ". Ele  pareceu notar como eu estava e voltou a sussurrar no meu ouvido... " Vamos com calma. De vagar. Hoje é só diversão. Dança comigo. Você não vai esquecê-lo em um dia ". Ao ouvir isso eu relaxei. Ele só queria dançar, nada mais. Isso eu podia fazer. E também... Apesar de preferir rock, eu amava aquela música. Balancei meu cabelo e me agitei sem preocupação. Até notei que tiravam fotos e pareciam gravar vídeos. Ele era um professor, mas, não era o meu professor então, qual o problema? Seria por ele ser mais velho? Ele aparentava ter trinta e poucos anos... Minha aparência podia beirar os dezoito, mas eu era bem mais velha que isso. Dérick tinha um rosto de homem maduro. Cabelo escuro e curto. Barba aparada. Olhos castanhos. Moreno e alto. Era um belo homem. Aos poucos eu estava realmente me soltando e me divertindo. Quando começou a tocar " The Spectre" eu já estava no clima. Só dançando e esquecendo de tudo. " Isso realmente funciona ". Cheguei perto de Dérick e sussurrei em seu ouvido... "Obrigada". Ele abraçou minha cintura. " Vamos no seu ritmo. Não vou te forçar a nada ". Pelo bom comportamento dele, eu dei um beijo em seu rosto. Vários flashs na hora. " Espero que não tenha problemas no trabalho por isso". Eu disse. " Não se preocupe. Não sou seu professor. E não estou no horário de aula. Só devem estar curiosos sobre um humano dançando com uma vampira. Alguns consideram vocês como intocáveis. Eles tem medo." Ele disse. " E você não? Eu poderia te morder". Ameacei. " Eu adoraria que fizesse isso ". Ele respondeu. Nós dançamos até tarde da noite. No fim, nos despedimos na porta da boate. 
        _ Te vejo amanhã, na faculdade. _ ele disse.
        _ Você disse que não era para ninguém saber... Agora todo mundo sabe...
        _ Foi só uma dança. Não fizemos nada. Eles não sabem nada. Fica só entre nós.
        _ Até amanhã, Dérick. 
        Foi só um abraço. Simples. E eu entrei no meu carro. Ele entrou no dele e seguimos caminhos opostos. Agora que a euforia estava passando, eu voltei a me sentir triste. Será que esse tipo de coisa realmente funcionava a longo prazo ou era só momentâneo? Eu gostaria de poder falar com alguém. 




Is It Love? Peter - O som do coraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora