Todos me olharam com desconfiança quando cheguei na faculdade. Eu fui até o meio do pátio e usei meu dom, para fazer minha voz ser ouvida por todo o campus.
_ Devido aos boatos sobre um romance entre eu e o professor Dérick, ele ficou com medo de que Viktor pudesse não gostar e se mudou. Devo esclarecer que nós saímos juntos algumas vezes. Mas, não aconteceu nada. Apenas fizemos companhia um para o outro. Mas, já que vocês ficaram falando sobre isso, ele teve medo do Viktor e foi embora. Vai voltar? Não sei. Acho que não. Mas, ele não foi sequestrado. Vocês é que espantaram ele.
Enquanto todo mundo comentava, eu fui para a minha sala e peguei com a professora, a matéria que eu perdi. De volta à rotina simples. O assunto foi encerrado. Ninguém mais questionou sobre Dérick e sim, sobre quem seria o novo professor.
As aulas acabaram e voltamos para casa, no carro de Drogo.
Fui direto ao meu quarto. Luísa apareceu carregando Cristina no colo.
_ Tive uma ideia. Que tal nós usarmos uma brincadeira? Você pode tirar casquinha, com a desculpa de que foi só brincadeira.
_ Gostei da ideia. Mas, vamos brincar de quê?
A expressão de Luísa ficou maliciosa. Tive até medo de saber o que tinha em mente.
_ Verdade ou Consequência.
Até arrepiei. Minha mente criando imagens de punições. E as perguntas surgindo.
_ Mas, os meninos vão querer participar? E que garantia tenho de que vão ser sinceros?
_ Bom, eu pensei em uma punição pesada para forçar a escolher responder as perguntas. E para saber se vão ser sinceros temos a Lívia, que controla a mente. Ela pode forçar a dizermos a verdade.
_ Adorei. Vamos fazer isso assim que Nicolae chegar.
Eu já tinha ideia de quais perguntas fazer. Mas, para não esquecer nada, eu anotei.
Deixei Luísa avisar todos. Primeiro porquê a ideia foi dela. Segundo, porquê não queria que Peter percebesse a intenção por trás. O problema era Nicolae, que sempre lia a mente de todos.
Quando finalmente nos reunimos na sala, eu não escondi minha surpresa.
_ Achei que vocês não iam querer brincar.
_ Não perderia por nada. Tem coisas que quero saber. _ disse Drogo olhando todo mundo. _ Coisas que normalmente evitamos perguntar, para não criar um clima chato.
_ Todos tem perguntas então. _ disse Luísa. _ Acendam a lareira.
Enquanto Drogo foi acender, ela explicou as regras...
_ Bom, todos conhecem o jogo. Ou você responde, ou sofre a consequência. Nesse caso, será colocar a mão no fogo por cinco segundos. Entendido?
_ sim. _ todos disseram.
_ Vamos usar a Lívia para garantir uma resposta honesta. E para decidir quem vai perguntar, é a parte de cima da garrafa. A parte de baixo, é de quem responde. Arrumei essa garrafa de vinho, especialmente para a ocasião. Estão prontos?
Todos concordaram. Sentamos em roda no tapete da sala. Luísa colocou a garrafa no meio.
_ Sem usar os dons. Por favor. Deixa a sorte agir.
Ela girou a garrafa e todos os olhares ficaram direcionados para o objeto.
_ Eita. _ eu disse.
_ Eu pergunto para o Nicolae. _ disse Peter.
Todos estavam tensos aguardando a pergunta.
_ Se Viktor não tivesse aparecido. Por quanto tempo você deixaria Lívia presa no porão? Verdade ou consequência?
Senti o clima pesar na hora.
_ Verdade.
Todos aguardaram a resposta. Ele olhou para Lívia, com culpa. Abraçando mais forte o Tomás.
_ Naquela época eu não sabia sobre o trauma de Lívia e seu pânico de escuridão. Eu queria que ela seguisse nossas regras e tinha uma humana na casa. Então, teria esperado ela beber o sangue de animal que coloquei para ela.
Talvez a brincadeira não fosse uma boa ideia. Acho que algumas coisas, deviam ficar sem resposta.
_ Isso é passado. Já superamos. _ disse Lívia.
Ela girou a garrafa e o objeto lentamente parou de Luísa para mim.
_ Se o Dérick não tivesse ido embora, havia alguma possibilidade de você realmente se relacionar com ele? Verdade ou consequência?
Evitei olhar para Peter.
_ Verdade. _ respirei fundo. _ Ele era um bom rapaz, disse que não me forçaria a nada. Que ia no meu tempo. E justamente por isso, não aconteceu nada. Por mais gentil que fosse eu não conseguia sentir nada por ele. Então, não. Nenhuma possibilidade daquilo passar de amizade.
Eu girei a garrafa sem olhar para Peter. Ela parou de Lívia para Drogo.
_ Se não tivessem chegado reforços naquele momento, você teria coragem de matar Natasha? Verdade ou consequência?
Drogo ficou tenso. Olhou para Nicolae.
_ Verdade. Todos sabem que o Nicolae é como um pai para mim. E você é minha melhor amiga e irmã. Estava grávida. Ver você morrer teria doído mais, do que matar Natasha. Eu estava odiando a atitude dela. Eu seria capaz de fazer se precisasse.
Nicolae deu tapinhas no ombro de Drogo. Um gesto de apoio. De compreensão.
Novamente a garrafa girando e parou de Drogo para Peter. Ele deu um sorriso malicioso.
_ Ao ver que Lorie virou uma mulher adulta, você alguma vez sentiu atração por ela? Verdade ou consequência?
As perguntas realmente estavam deixando todos em uma situação complicada. Meu rosto ficou vermelho e eu não consegui encarar Peter. Se ele escolhesse não responder, ficaria visível que evitou a pergunta porquê a resposta é sim. Mas, se ele respondesse poderia dizer não. Drogo foi muito esperto.
_ Verdade.
Meu coração bateu forte, aguardando o que ele ia dizer.
_ Foi estranho vê-la crescida. Eu já tinha acostumado com a ideia de vê-la criança. Levei um tempo para acostumar... Mas, houve duas ocasiões em que me senti atraído por ela.
Eu olhei para ele por impulso. Ele estava olhando para o Drogo, com o rosto corado. Nicolae ergueu a sobrancelha. Ele já tinha visto na mente de Peter, a resposta. Drogo apenas sorriu, como se confirmasse algo que já sabia.
Luísa girou a garrafa, que parou de Nicolae para ela.
_ Você e o Drogo são bem animados. Onde foi a primeira vez de vocês? Verdade ou consequência?
Ela ficou vermelha e olhou para Drogo.
_ Querem fazer a gente parecer pervertidos. _ ela disse. _ Verdade. Foi na floresta. Mas, isso você já sabe.
_ Os outros não. _ Nicolae disse rindo.
Estávamos todos rindo. Até Drogo. Que girou a garrafa. Parou de mim, para Lívia.
_ Já que estamos nesse assunto. Como foi a primeira vez de vocês? Verdade ou consequência?
O rosto dela ficou sério.
_ Verdade... Foi... Intenso. Nicolae estava descontrolado. Discutimos sobre tomar sangue humano. Apesar de tudo, foi com o homem certo. Fiquei feliz.
Nicolae também tinha uma sombra no olhar. Mas, sorriu para ela ao final de sua fala.
_ Acho que todos temos coisas difíceis de confessar. _ Luísa disse.
_ Somos família. Não precisamos ter vergonha uns dos outros. Quem ama não julga. _ Nicolae falou.
E assim, a garrafa foi girada mais uma vez. O clima tinha ficado leve após a fala de Nicolae. A garrafa parou de Peter para mim. Todos pareceram curiosos sobre o quê ele diria. E eu nem pensei que ele fosse perguntar justo aquilo. Se eu tivesse lembrado, não teria participado da brincadeira.
_ O que o lobisomem te obrigou a fazer quando foi sequestrada? Verdade ou consequência?
Olhei para ele chocada. Todos olharam para mim. A vergonha que eu sentia era enorme. Abaixei a cabeça.
_ Eu... escolho consequência.
Enquanto todos encaravam surpresos, eu fui até a lareira e enfiei a mão no fogo. Ardeu, doeu e queimou por cinco segundos. Voltei ao meu lugar, sem encara-los. O clima pesando de novo.
_ O que aquele maldito te fez que contar é pior do que queimar a mão?_ Lívia perguntou chocada.
_ Eu tenho vergonha de dizer. E não quero que Peter tenha nojo de mim.
_ Meu Deus, Lorie!... Eu jamais ficaria com nojo de você. Ele te obrigou. Você não tem culpa. _ Peter disse agitado. _ Se eu soubesse que ia reagir desse jeito, eu não teria perguntado.
_ O que está acontecendo?_ quis saber Drogo.
_ Quando fomos sequestradas pelos lobisomens, eles tiraram nosso sangue. Bateram na Lorie e ameaçaram me matar ou os meus bebês, se ela não fizesse algo que ela não tem coragem de dizer. _ Lívia explicou.
Luísa segurou meu ombro.
_ Sinto muito, amiga. Quer parar a brincadeira?
_ Não. Vamos continuar.
Minha mão já estava se recuperando. Mas, eu não conseguia encarar ninguém. Nicolae se levantou e sentou ao meu lado.
_ Lorie..._ ele segurou minha mão. _ Você é muito inocente e ingênua. O que aquele covarde fez, causa revolta e não repulsa. Você foi forçada. Peter vai entender.
_ Você entenderia se fosse com a Lívia?
Ele olhou para ela. Deu um sorriso compreensívo.
_ Eu teria me culpado por não evitar que ela passasse por isso. Mas, não teria nojo dela. Não ficaria com raiva dela. Eu entenderia que ela não fez por querer. Foi forçada por um covarde.
Ele me abraçou e beijou minha cabeça. Um carinho paterno que me acalmou um pouco.
_ Está bem. Se eu não disser vai ficar um clima ruim e vocês não vão conseguir perguntar mais nada. _ respirei fundo e abracei Nicolae. Evitei olhar os outros. _ Eles separaram eu e a Lívia, no acampamento. Cortaram o pulso dela para tirar o sangue. E Klaus me levou para uma tenda. Ele disse que eu devia dar algo em troca do sangue dele. Eu recusei. Ele me bateu. Eu continuei recusando e ele ameaçou matar a Lívia... Ou fazê-la perder os bebês... Então, eu concordei.
Respirei fundo. Nicolae continuava me dando apoio com seu abraço paterno e o carinho na minha cabeça.
_ Ele... _ minha voz falhou. Eu suspirei e continuei. _ Mandou eu me ajoelhar na frente dele e abaixou a calça.
_ É o suficiente. Tenho certeza que já entenderam. _ Nicolae falou.
O silêncio invadiu o ambiente. Eu continuei evitando olhar para eles. Para quebrar o clima ruim, me afastei de Nicolae e disse...
_ Vamos continuar.
Nicolae voltou para o lugar dele. Eu girei a garrafa. Minha mão já estava recuperada. Nem sinal do fogo.
Dessa vez parou de Nicolae para Drogo.
_ Você namorou duas humanas e uma vampira. Qual é a diferença e qual é melhor? Verdade ou consequência?
Drogo olhou para Luísa.
_ Verdade. Bem, com a Mia não era sério. Foi só um caso. Com a Natasha, me apaixonei. Terminou mal. E a Luísa, eu amo. São três níveis diferentes de sentimentos. A diferença é a temperatura da pele. Humanas são quentes. Vampiras são frias. E a fragilidade. A gente fica o tempo todo preocupado em não machucar a garota e não aproveita direito. Com uma vampira a gente pode se soltar e aproveitar. Sobre a pele... Temos a mesma temperatura é mais cômodo. Tocar alguém mais frio ou quente é um pouco estranho. Não é ruim. Só estranho. Vampiras são melhores. Mais intenso. As mordidas complementam. E não precisamos nos preocupar com nada. Só aproveitar.
_ Agora entendo porquê você é tão pervertido. _ disse Peter.
_ Você é que deveria parar de se segurar e curtir isso cara. Se solta. Deixa rolar. É da nossa natureza. Nada te impede de viver isso, a não ser suas próprias paranoias. Ela gosta de você. _ Drogo respondeu.
Continuei não olhando para ninguém. Drogo claramente incentivou Peter a ficar comigo. Todos pareciam apoiar a gente. Mas, eu não sabia como ele agiria depois do que soube.
A garrafa girou de novo e parou de Drogo para mim. Eu até arrepiei. Tinha medo de suas perguntas.
_ Para encerrar a brincadeira. _ ele disse. _ Porquê você foi embora com Viktor, se não foi para procurar o Dérick? Verdade ou consequência?
Eu fiquei corada. Encarando o chão. Depois de tudo que houve no tempo que passei com Viktor, ainda tinham coisas capazes de me desestabilizar.
_ Verdade... Eu estava com raiva do Peter. Precisava ficar sozinha. Viktor inventou uma desculpa para me dar o tempo que eu precisava.
_ Qual o motivo da raiva?_ ele insistiu.
_ Ele faz coisas que me balançam e tem importância para mim, mas age como se não fosse nada. Porquê não acredita nos meus sentimentos. Eu tentei fingir que superei, que ia tentar com o Dérick e ele fez eu me sentir péssima. Não dava para fingir que não fiquei mal. E para encerrar de vez, essa história do Dérick... Aqui está o bilhete de despedida dele.
Entreguei para o Drogo, que passou para frente. O bilhete rodou todo mundo, até chegar no Peter.
_ Ele entendeu tudo errado ou foi isso mesmo, Peter?_ Drogo quis saber.
_ Gire a garrafa Drogo, se quiser que eu responda. _ disse Peter.
_ Já respondeu.
Drogo riu.
_ Continuamos outro dia. Foi muito bom brincar com vocês. Conhecer um pouco mais e estreitar os laços. _ disse Luísa.
Todos se levantaram para ir dormir. Enfim, olhei para eles. Luísa me olhava com culpa. Eu aceitei a brincadeira. Eu é que tive culpa. Drogo me olhava com pena. Lívia e Nicolae pareciam preocupados. Peter não olhava para mim. Ele já estava subindo para o quarto.
_ Não me olhem assim, só esqueçam o que ouviram.
_ Ei, irmã. Que bom que o idiota morreu. Mas, não se sinta mal com isso. Ele te humilhou, foi covarde. Você evitou o pior para Lívia. Deu tempo de chegar o resgate. Está tudo bem. Você precisa esquecer. _ Drogo disse e me abraçou.
_ Obrigada irmão.
Luísa também me abraçou e depois veio Lívia, com os gêmeos. O único que não me deu apoio foi Peter. Quem eu mais precisava.
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Is It Love? Peter - O som do coração
FanfictionPeter foi muito apaixonado por uma humana médium. A garota foi ferida por pessoas que a consideravam uma garota possuída por demônios. Ela não queria se tornar vampira. Ele odiava ser um vampiro. Então, ele só pôde ver sua amada morrer, sem poder aj...