Sim ou não

332 44 4
                                    

  Estar em uma cidade grande, onde ninguém sabia da nossa existência e tínhamos que ser discretos, era um pouco cansativo. Já que tinha me acostumado a ser tratada como uma princesa. Ali os vizinhos olhavam com desconfiança.
    _ olá pessoal. _ eu disse ao chegar na casa de Sabrina.
     Eles também moravam juntos. Em uma casa enorme. Diferente da mansão, a arquitetura ali era bem atual.
      _ Seja bem-vinda, Lorie. _ disse Sabrina me abraçando.
      _ Como vão as coisas por lá?_ quis saber Ralph.
      _ Tudo bem. O acordo está sendo mantido. Os gêmeos estão cada dia mais espertos. Ainda preferem se comunicar com os pais por telepatia. Luísa já descobriu o sexo do bebê.
     _ Não conta. Estamos fazendo uma surpresa para os pais. Nesse caso, a surpresa será para nós.  _ disse Bianca.
     _ Venha com a gente. _ chamou Gabriela.
     Nós subimos para o segundo andar. Havia uma sala enorme lá. Com uma mesa de sinuca no canto. Várias fotos deles, nas paredes e prateleiras com garrafas. Sangue. Para alguma emergência. Tinha um sistema de refrigeração para mantê-las.
      _ Nós estamos planejando brincadeiras para os rapazes tentarem adivinhar o sexo dos filhos. E as músicas que vamos dançar... _ disse Sabrina. _ São essas.
      Ela ligou o som.
      _ Eles vão ouvir. _ eu disse.
      _ À prova de vampiros. Não passa som. Todos os cômodos oferecem privacidade. _ disse Bianca.
      _ Quem dera tivesse isso na mansão. _ eu disse.
      Elas riram.
      _ Essa é "Azez Alaya". Eu sei, fala de separação. Mas, é tão bonita que não resisti. Depois temos essas, que falam de amor... "Bosem Tzarfati". "El alem allah". "Nour el ain". "Simarik". É uma música da Turquia. Mas, o ritmo se encaixa bem. _ disse Sabrina.
     _ Eu nem ligo muito para a tradução. Basta que o ritmo seja bom. _ eu disse.
     _ Eu acho que nem vamos dançar todas. Sabem como vampiros são, quando se trata de sensualidade. _ disse Gabriela.
     _ Ah, estava conversando sobre isso com Peter. _ eu disse corada.
     As duas se entreolharam.
     _ Não brinca. Estão namorando?_ quis saber Sabrina.
     _ Aconteceu tanta coisa. Eu até apaguei ele da minha mente. Agora meio que ele está tentando me conquistar. Me deu isso.
     Mostrei o colar. Elas sorriram.
     _ Que gracinha. Ele é um fofo. _ disse Gabriela.
     _ Só tem cara de anjo. Mas a mente é perversa como de todo vampiro.
     _ Você queria tanto. Dá uma chance para ele. _ disse Sabrina.
     _ Conta tudo que houve. _ disse Bianca.
     Contei as coisas que eu me lembrava. Por fim, até aos meus ouvidos, parecia agitado de mais.
     _ essa mansão é sempre agitada hein? Nossa. Vocês complicam tudo. _ disse Bianca.
     _ Os rapazes é que complicam. Nós facilitamos muito para eles. _ eu disse. _ É só a gente complicar que eles vem atrás.
    _ Vai entender. _ disse Gabriela.
    _ Ainda bem que com Ralph foi fácil. Bastou me declarar. _ disse Sabrina.
    _ Seu grupo sempre compartilhou sangue. Isso facilita. _ eu disse. _ vocês já tinham intimidade. E nunca se viram como irmãos.
    _ Sim. Isso ajudou muito. Mas, vamos conquista-los, cada uma a sua maneira. _ disse Sabrina.
     _ Agora vamos ensaiar. _ disse Gabriela. _ Temos muito trabalho pela frente.
      As próximas horas nós passamos ensaiando. Vendo movimentos na internet. Até montar a coreografia completa. Só da primeira música. Era algo que daria muito trabalho.
      _ Será que os rapazes reconhecem nosso esforço? _ disse Bianca, deitada no chão.
      _ O que foi, Lorie? _ quis saber Gabriela.
      Ele disse para eu pensar nele e realmente eu não conseguia esquecer.
      _ Acham que é possível amar duas vezes?
      _ Não foi o que aconteceu com o Drogo?_ disse Bianca. _ A maioria das pessoas não casa com seu primeiro amor.
      _ O que Drogo sentiu pela Natasha é diferente, do que ele sente pela Luísa. Com a Luísa é mais profundo. Eu não sei se o Peter é capaz de abrir o coração para mim. Ele está tentando me conquistar, mas parece tão sem sentido. Ele nem sequer me ama.  
      _ Como pode ter tanta certeza? Talvez ele só não tenha admitido para si mesmo. _ disse Sabrina. _ Ele sempre se lembrará da ex. Assim como você se lembraria, se tivesse um. Mas, isso não diminui a importância do novo amor.
      Eu não sabia o que pensar. Eu não passei por isso. E não conseguia acreditar que uma simples atração, poderia evoluir para algo mais. A menos que houvesse uma base de amizade, confiança e cumplicidade. Como Drogo teve com Luísa. Mas, eu não sabia se queria construir isso, com ele. Eu não sentia nada por ele. Balancei um pouco, na nossa despedida. Mas, foi fulgaz. Se eu escolhi esquecer, era melhor deixar como estava. Prometi a ele que ia pensar e pensei. A resposta era... Não! O problema era o que Viktor ia fazer. Eu deveria procurar por ele, antes que ele viesse? Para não envolver mais ninguém. Era a melhor opção. Eu liguei para ele. Atendeu no primeiro toque. Como se soubesse que eu ia ligar.
      _ Eu vou até você!_ eu disse.
      _ Eu sei. Venha depois da festa!...
      _ Desculpe.
      _ Você é mais fraca do que eu imaginava. Te ajudei a superar seu trauma com seus pais. Eles te ajudaram a superar seu trauma com o lobisomem. E você desiste por causa de um fantasma? Uma mulher que já morreu e que apesar de rondar os pensamentos dele, não é um obstáculo que não possa ser destruído. Você me decepciona filha.
      _ Não é pela ex, é por ele. Já sou adulta à quase três anos. E o coração dele nem balançou. Se eu me forcei a esquecer é por estar doendo muito. Não sou a garota perfeita para ele. A que era... Está morta!
       _ Deixe de tolices! Aquela humana renegava nossa natureza. Ela não quis ser vampira para ficar com ele. Um único gesto. Ela não foi capaz de fazer. Assim como Natasha não foi capaz de abrir mão de sua tola vingança. Elas amavam mais a si mesmas. Não eram capazes de sacrifícios por eles. Como confiar em uma garota assim, para ser a fraqueza dele? Na primeira oportunidade ela se salvaria e o deixaria morrer. Nosso mundo é cheio de perigos o tempo todo. Sempre tem alguém querendo nos matar. Eu quero os mais fortes e leais ao meu lado. Os que conseguem aguentar a dor e seguir em frente. Os que não enlouquecem mesmo estando no inferno. E que não questionam minhas ordens. Eu não errei com você, quando a escolhi. Você sabe melhor que ninguém a importância de uma família unida e confiável. Leal e fiel. Não se sinta menos do que aquela humana. Ela nunca foi um terço do que você é. Nunca o amou, metade do que você ama. Você daria a sua vida por ele. Ela preferiu morrer, do que ficar com ele. Só o Peter não vê isso. Aquela garota era mais apegada na Sarah, do que nele. Nunca o amou. Estava cheia de dúvidas. Tinha uma paixão por ele, mais fraca do que a de Natasha. Peter ficou cego, pela alegria de sentir o coração vibrar, mesmo sendo um vampiro. Amava mais a sensação de estar apaixonado, do que à garota, de fato. Ele achava que vampiros eram monstros sem alma e sem sentimentos.
      _ O que ele sentia não era amor?
      _ Minha filha, escute. Vampiros sentirem amor é ainda mais difícil do que os humanos. A maioria deles passa a vida entre várias paixões, sem nunca conhecer o amor. E nós vampiros, temos uma dificuldade ainda maior. Nesse desespero por amar, chamam qualquer sentimento mais forte, de amor. Foi o que Peter fez. Ele é o mais sensível dos três. O mais atormentado pela condição de vampiro. Desesperado por um traço de humanidade. Ele chamou o primeiro sentimento mais forte que teve, de amor. Eu não posso montar um clã que baseia seus laços em ilusões.
     _ E como sabe se comigo é? Ou se o que eu sinto, não foi só porquê você me influenciou?
     _ Se a pessoa ama, ela aceita até o inaceitável. Ama até o odiavel. Perdoa o imperdoável. Se sacrifica. Se modifica. Abre mão de tudo. Orgulho, vaidade, ego. Quem não está disposto a ir além de todos os limites, não conhece o amor. Eu quero um grupo forte. Confiável. Leal. Quem ama mostra com gestos e não com palavras.
      _ Acho que entendo. Eu não sei o que aconteceu para você confiar nisso. Não me lembro dele. Mas, eu confio em você. Vamos ver até onde isso vai.
      _ Você bloqueou suas emoções. Tudo depende dele. Quanto mais rápido ele entender a diferença nos sentimentos. Mais rápido será a união de vocês. Tenha paciência. Você tem a eternidade pela frente. O que são meros três anos?
       Ele desligou. Eu tinha muita coisa para pensar, agora.
       Fui até a varanda. Não tinha sono. Podia ver o dia amanhecer. Ou podia caçar. Afinal, ali não tinha sangue doado. Eu já ia saltar da varanda, quando meu telefone tocou. Revirei os olhos ao ver que era Peter.
     _ Sim, eu vou morder humanos. Não me ligue.
     Ele deu risada.
     _ Te enterrompi na hora certa, então. Você ficou de ligar.
      _ Mas, cara. Não faz nem um dia inteiro, que eu saí daí.
      _ Já ficamos sem conversar por meses, quando foi morar aí, depois da guerra. Não quero que isso aconteça de novo.
      _ Mas, eu não lembro de você. Peter, você é só o rapaz gatinho que dizem que eu amo, mas que não desperta nada em mim. E aliás... Sobre seu pedido... A resposta é não!
     _ Vai me rejeitar por telefone?
     _ Você me rejeitou na minha cara. Deve ter sido pior.
     _ Pensa pelo meu ângulo. Você vê a pessoa crescer e começa a se sentir atraído. Isso não te assustaria?
     _ Todo mundo já foi criança um dia. Errado você estaria se sentisse isso naquela época. Mas, agora eu sou uma mulher adulta como qualquer outra. Ver você criança, não me faria te achar menos gato agora. Você é um homem feito. Atraente. Mas, ainda não quero dormir com você.
     Ele deu risada.
     _ Vou ter que tirar essa imagem de pervertido, que você tem de mim.
     _ Tarde de mais. Seu rostinho de anjo não me engana. Você já está aceitando bem sua natureza de vampiro. Até não liga para esses impulsos.
      _ Bem... Não é tão ruim como eu pensava. Ainda sou o mesmo. Só que... Com algo há mais. E agora temos o sangue doado e a admiração das pessoas.
     _ Me fala uma coisa... Meu coração acelerava perto de você?
     _ Tem dúvida se realmente gostava de mim?... Bem, eu ouvia o ritmo mudar. Mas, dessa vez eu não ouvi. É como se não tivesse um coração.
     _ Dramático. Não precisa se sentir obrigado a flertar comigo. Segue sua vida, que eu sigo a minha.
     _ Não consigo parar de pensar em você. Nos beijos. Eu realmente quero namorar com você.
     _ Para que o desejo vire amor. Isso não existe.
     _ Aconteceu com o Drogo.
     _ Ele tinha uma base, além do desejo. O que nós temos?
     _ Amizade. Confiança. Lealdade.
     _ Lealdade? Você me rejeitou por um fantasma. Uma mulher que preferiu morrer do que ficar com você. Realmente, você quer seguir o exemplo do Drogo. Ficar ligado à uma garota, que não tinha você como prioridade e ainda colocava a Sarah acima de você.
      _ Quem te disse isso? Você nem lembra.
      _ Não importa quem disse. Você me rejeitou, por alguém que nunca te amou de verdade. Você e o Drogo tem um gosto parecido mesmo. Até na hora de confundir os sentimentos, vocês são iguais. Pense bem sobre seu passado e seus sentimentos, antes de flertar comigo. Com licença. Vou caçar.
       Desliguei o celular e saltei para a rua. Usei a informação que Viktor me deu. Agora era esperar o resultado.
     
 
    
     
    
 

     

Is It Love? Peter - O som do coraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora