Um tempo com aliados

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   Quando voltei para casa, o pessoal estava saindo para o trabalho.
    _ Porquê vocês não ficam em casa, só esbanjando o dinheiro do Viktor?_ perguntei. 
     _ Precisamos ser discretos e ficar perto da nossa fonte de alimentação. _ disse Ralph. _ A empresa é nossa. Nós somos sócios. Isso justifica nosso padrão de vida e evita questionamentos.
      _ empresa de quê?
      _ Advocacia. _ disse Bianca.
      _ Ralph é promotor. Julius é juiz. Então nós ficamos mais na empresa, do que eles. _ disse Lucas.
       _ E a questão da aparência? Eles não reparam que vocês não estão envelhecendo como eles?
      Julius deu uma risadinha.
      _ Eles vêem o que nós queremos que vejam.
      Ele abraçou Bianca e os dois se foram. Lucas segurou a mão de Gabriela e seguiu eles. Ralph sorriu para Sabrina.
     _ vamos.
     Ela olhou para mim.
     _ Vai adiantando os detalhes da festa.
     _ Deixa comigo.
     Enfim, eu estava sozinha. Subi para o salão e coloquei a música que já tinha coreografia, para tocar.
      Enquanto eu ensaiava, a campainha tocou. Estava tão acostumada com as batidas na porta de madeira da mansão, que assustei um pouco.
     _ Bom dia. Lorie Bartholy, está?
     _ Sou eu mesma.
     _ Assina aqui, por favor.
     Enquanto eu assinava, ele foi buscar alguma coisa no carro. E eu fiquei chocada quando vi ele trazer um buquê de flores. Tão lindo. Com rosas brancas e vermelhas.
      Agradeci e entrei sem tirar os olhos do buquê. Eu não podia acreditar que recebi flores. Havia um cartão. "Obrigado por me abrir os olhos. Você tem razão. Nunca vou esquecer, quantas vezes se machucou para me proteger, durante a guerra. Obrigado por me amar, sem eu merecer. Não desisti de você. Seu príncipe".
     Peter sabia ser romântico. Então, ele pensou no que eu disse. Liguei para ele.
      _ São lindas. Obrigada.
      _ Eu ainda quero ser seu namorado.
       _ Pensou de verdade no que eu te falei?
        _ Sim. Eu realmente não vi por esse ângulo, mas faz sentido. Se ela me amasse teria ficado comigo, não importa do quê teria que abrir mão. Mas, isso diz muito a meu respeito também. Se meu ódio pela condição de vampiro me impediu de transformar ela, é porquê não a amava tanto quanto eu pensava. Vi ela morrer e só olhei.
      _ Se fosse amor, você estaria tão desesperado com o medo de perder ela, que a teria transformado no impulso. Só pensaria no que fez, depois.
       _ Aonde aprendeu isso?
       _ Nos livros.
       Ele deu risada.
        _ Você fez eu pensar nela de novo. Mas, dessa vez eu entendi a culpa que eu sentia. E o motivo de ficar abalado, quanto ao Dérick ser poupado pelo Viktor. Já me perdoei pelo que houve. Não resta mais nada. Aconteceu como tinha que acontecer. Não há motivos para arrependimentos.
       _ ótimo!... Mas, não vou facilitar para você.
      _ Eu sou insistente.
      _ Te ligo de novo. Agora eu tenho que cuidar da festa.
       _ Tudo bem. Beijo, tchau.
       _ Tchau.
       Desliguei e fui procurar um jarro para as flores. O que o pessoal pensaria quando chegasse? Esperava que não houvesse problema.
        Eu filmei eu dançando a primeira música, para mostrar as meninas quando eu voltasse. Depois de mais pesquisas eu montei a coreografia da segunda. Esperava que as outras aprovassem.
        Quando chegaram do trabalho, logo notaram o buquê.
      _ O que é isso?_ quis saber Bianca.
      _ Peter me enviou.
      As meninas ficaram passando o buquê de mão em mão. Com expressões de... "Ah, que lindo". "Ele está interessado mesmo". "Não gosto muito de flores, mas foi um gesto romântico". Enquanto isso os rapazes olhavam o buquê como se fosse uma bomba.
      _ Porquê garotas gostam tanto disso? _ quis saber Lucas. _ No final sempre murcha.
      _ O que vale é o gesto. _ respondeu Gabriela. _ isso significa que ele se importa.
      _ Esses caras de Mystery Spell, são uns frouxos. As meninas interessadas e eles cheio de desculpas para não ficar com elas. _ disse Julius.
       _ Eu teria me divertido muito naquela cidade. Quando estava solteiro, amor. Calma. Eu te amo. _ disse Ralph.
       _ Eu concordo com vocês. Aqueles idiotas fizeram as meninas sofrerem muito. E eu também teria me divertido lá, meu bem. _ disse Sabrina. _ Mas, se pensar em diversão agora, arranco aquele negócio seu. E faço você engolir.
       Os rapazes deram risada.
       _ Essas vampiras são muito bravas. _ disse Julius. _ Aprende com elas, Lorie. Não dá mole para aquele cara, não.
       _ Pode deixar. Eu pareço inocente mas, sou a mais perigosa. _ Eu disse.
       Eles riram.
       _ Venham, vamos deixá-los aí. _ disse Gabriela.
       Eu fui para o salão, aguardar elas tomarem banho e se trocar. Quando elas chegaram eu disse que ia mostrar a coreografia da segunda música.
       _ E finaliza assim...
       _ Ficou incrível, Lorie. Vamos treinar essa, antes de fazer a terceira. _ disse Sabrina.
        _ E quanto as meninas do grupo de Alexandre?_ eu perguntei.
        _ Vou gravar e ensinar elas. _ disse Bianca.
        Nós treinamos até não haver erros. Queríamos tudo perfeito. Eu fui para o quarto e peguei meu celular. Ainda não tinha escutado a música que Peter fez para mim. Seu sangue ainda estava na garrafa de cristal. Aquele era um gesto importante. Me dar o seu sangue. Olhei o colar com seu nome. A música começou a tocar e a voz dele era tão linda. Sem eu me dar conta, lágrimas rolaram de novo no meu rosto. O que aquela tristeza significava? Eu precisava me lembrar do que aconteceu. A música falava sobre o arrependimento de não ter se dado uma chance e pedia que eu o aceitasse.
      Novamente confusa, eu resolvi passear pela cidade. Os rapazes estavam assistindo futebol. As meninas estavam revisando um processo.
      _ Vou sair um instante. _ eu disse.
      _ Seja discreta. Não morda em lugares públicos. _ disse Ralph.
      _ Pode deixar.
      Pilotar a moto era uma boa terapia. O frescor da noite e o vento eram relaxantes.
       Um motoqueiro parou ao meu lado. Lembrei dos lobisomens e fiquei tensa. Mas, ele seguiu em frente, sem fazer nada, assim que o sinal abriu. Eu fui pelas ruas, até uma área mais afastada e escura. Tinham pessoas na fila, na porta de uma boate. O rapaz da moto estava encostado nela e olhando para mim.
      _ Está me seguindo?
      Ele tirou o capacete e veio para o meu lado.
       _ Parece que é você, que está me seguindo.
       _ Até parece.
       Eu passei por ele, que me seguiu.
       _ Eu sinto o cheiro. _ ele disse. _ Quantas mortes você carrega nas costas?
       _ Não é da sua conta. Quem é você? Um lobisomem?
       Ele fez uma careta.
       _ Credo. Claro que não. Você quer sangue não é? Vamos fazer uma troca. Te dou sangue e você me dá uma informação.
        _ Eu posso pegar seu sangue sem dar nada em troca.
        _ Duvido. Aproveite que hoje vou deixar passar.
        Ele tinha uma tatuagem na mão. A morte com a foice. Era bizarro. Vampiros não tem tatuagens. Nossa regeneração rápida, torna impossível. Então, o que aquele rapaz era?
      _ Tudo bem. Vou pegar seu sangue.  E você pode fazer uma pergunta.
      Ele deu um sorriso tão cruel, que já imaginei que ele devia ser um demônio.
      Fui com ele para longe da fila. Um local sem iluminação. Ele ofereceu o pescoço. Eu o mordi. Porém, acabei cuspindo em seguida. Era amargo. Não era salgado como de um humano. Doce como de um vampiro. Cítrico como de um lobisomem. Que tipo de criatura tinha um sangue amargo?
      _ Não vai querer?
      _ Eca! Dispenso.
      _ Mas, vai me responder... Qual o seu sobrenome?
      Para quê ele queria saber disso?Era muito suspeito. Dei a ele meu nome de humana. Antes de Viktor.
      _ Lorie Dufour.
      Ele deu risada.
      _ Era seu nome quando morreu?
      A lembrança da minha mãe me empurrando da escada, veio à tona. Por instinto eu toquei o meu pescoço.
      _ Eu nunca morri. Fui salva. E você já teve sua resposta.
     Saí de perto daquele cara e subi na moto. Perdi a vontade de morder um pescoço. Tinha um gosto horrível na minha boca. Seja lá quem fosse aquele cara, tinha uma atitude suspeita.
      Fui direto ao quarto. Lavei a boca várias vezes, na pia do banheiro. Quando finalmente o gosto saiu, eu bebi o sangue de Peter. Era o melhor gosto que eu já tinha experimentado.
      Liguei para o Viktor.
      _ Pai, eu preciso te contar uma coisa. Encontrei um cara, com uma tatuagem da morte na mão. Ele me ofereceu sangue em troca de uma pergunta. O sangue era amargo. E ele quis saber meu sobrenome. Dei o de humana. Foi muito estranho. Sabe que tipo de criatura é?
      Viktor ouviu tudo e não hesitou em responder.
       _ Mestiço. Fique longe dele. Não diga nosso sobrenome de forma alguma. Eles estão mais perto do que eu imaginava.
      _ Devo me preocupar?
      _ Por enquanto não. Mas, isso não é um bom sinal. Você fez bem, minha filha.
      _ Você vem para a festa?
      _ Vou. Te vejo depois.
      _ Tchau.
      Eu me acalmei um pouco, mas ainda estava curiosa. Mestiço? De quê? Fui dormir com a sensação de que algo ruim, ainda estava para acontecer.
      Nos dias seguintes, nós concluímos todas as coreografias, e detalhes da festa. Peter me enviou um buquê diferente a cada dia. Todos com o mesmo bilhete... "Namora comigo". O incentivo para dizer sim, era forte.
      _ Quando chegar lá, se acerte com ele. _ disse Bianca.
      _ Ele está se esforçando. Dá uma chance. _ disse Gabriela.
      _ Não complica. Apenas curte. _ disse Sabrina.
      _ Manda um abraço para todo mundo. _ disse Julius.
      _ E fala para o Peter não ser enrolado. _ disse Lucas.
      _ Esperamos vocês na festa. _ disse Ralph.
     _ Obrigada pela hospedagem. Vocês são incríveis. Nós estaremos aqui, na festa.
     E assim, eu voltei para casa. Precisava dar um jeito de ensaiar com as meninas, sem eles verem.
     Estacionei a moto. A porta já se abriu para mim e eu entrei, feliz em estar de volta.
     _ Seja bem-vinda.
     Peter estava me esperando com um buquê de flores.
      _ Sabia que não poderia trazer. Comprei outro.
       Eu o segurei, sorrindo.
       _ Mas, você é muito insistente.
       Dei um abraço nele.
        _ Ei, ainda estamos aqui. _ disse Drogo.
       _ Não fiz nada. _ eu disse. E fui colocar as flores no jarro.
       Lívia que sempre encheu a casa de flores. Ficaria feliz.
       _ Como foi? _ quis saber Nicolae.
       _ Ocorreu tudo bem. Só esbarrei em um homem que tem o sangue amargo. Viktor disse que é um mestiço. Se alguém perguntar o sobrenome de vocês, fale o de humanos.
       Todos se entreolharam.
       _ Mestiço de quê?_ quis saber Lívia.
       _ Viktor não disse. O cara tinha uma tatuagem na mão. A morte com a foice.
      O clima pareceu ficar tenso na hora.
       _ fiquem tranquilos. Viktor disse que não é um problema, por enquanto. Só precisamos estar atentos. _ eu disse.
      _ E sobre a festa?_ quis saber Luísa.
      _ Preciso passar os detalhes da festa para vocês. Tem uma surpresa que os meninos não podem ver.
      _ Ah, qual é. Fala.
      _ Não, Drogo. Confie em mim. É melhor ser surpresa.
      _ Não consigo ver. _ disse Nicolae.
      _ Se visse, não seria surpresa. _ eu disse.
      _ vamos dar um jeito de conversar sem os meninos. _ disse Luísa.
      Enquanto isso, tinha outro assunto para resolver. Peter estava olhando para mim. Eu subi para o quarto e ele foi atrás.
      _ Posso entrar?
      _ pode.
      Ele fechou a porta.
      _ Senti sua falta. É engraçado que desde que resolvi admitir ter interesse em você, me sinto mais tranquilo quanto à isso. Porquê me sentia culpado em gostar de você? Não há nada que impeça um relacionamento entre nós.
      _ Tirando o fato de não haver amor?
      _ Ei... Não podemos simplesmente namorar só por ter vontade? Temos que esperar algo que é tão difícil para vampiros?
      _ Temos dois exemplos em casa, de que é possível.
      _ Lorie!
      _ Tudo bem, Peter. Você é um bom rapaz. Foi muito romântico. Demonstrou interesse. Então... Podemos tentar.
      Ele sorriu de um jeito tão fofo. E me beijou em seguida. Dessa vez, eu não fiquei indiferente.
       _ Vamos ter um encontro amanhã. _ ele avisou.
       _ É sério mesmo, não é?
       _ Sim. Estamos namorando.
       Por um segundo, meu coração acelerou.
      
      
     
       
     
     
    

Is It Love? Peter - O som do coraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora