Viktor me levou para assistir uma ópera à noite. Ele sempre evitava os lugares onde todos bebiam e comiam. No camarote onde estávamos, havia apenas mais uma pessoa. Javier. Quando o espetáculo teve um intervalo, ele se aproximou e sussurrou no meu ouvido... " Me acompanha ". Olhei para Viktor, que piscou para mim. Ascenei com a cabeça e segui Javier. Pelos corredores, até um local afastado. Longe do público que foi aproveitar o intervalo.
_ Você está maravilhosa.
_ Não pensa na sua família, quando flerta com outras mulheres?
_ Não deixo nada faltar. Porquê não posso me divertir um pouco.
Eu dei um sorriso irônico.
_ A única coisa que importa, você não lhes dá... Amor.
Ele bufou e riu.
_ Amor não enche barriga.
_ Mas, evita traumas.
_ Chega de papo furado. Viktor te levou para a reunião por um motivo.
_ Com certeza.
Mostrei minhas presas e ele recuou.
_ Mas, que diabos...
_ Sua família estará melhor sem você.
_ Não. Se afaste. Socorro.
_ Você que quis...
Eu mordi o pescoço dele. Suas tentativas de me afastar cessaram rápido. Ouvi o coração enfraquecendo. E só parei quando o som cessou. Mia se aproximou, vinda sabe-se lá de onde. Mas, como ela disse... É a responsável por dar fim aos corpos.
_ Volte para o próximo ato.
Eu limpei a boca e voltei para o camarote. Viktor sorriu.
_ E então?
_ Problema resolvido.
_ Muito bem, filha.
Apreciamos à ópera até o fim. E saímos de lá como se nada tivesse acontecido. Depois da guerra, onde era matar ou morrer, tornou-se fácil lidar com isso.
_ Quero que olhe para seu passado sem ser afetada por ele. Nem todos os pais são negligentes, como esse. Veja Nicolae. Mesmo quando era humano, sempre teve um instinto paterno forte. Cuidava de todo mundo. Quem mais sofre são os filhos, quando a família é desestruturada. Pense sempre nas crianças. Tenha compaixão pelos seres indefesos. Mas, com os humanos covardes, não tenha misericórdia.
_ O que faremos agora?
_ Você vai acompanhar a caçada. Vai retomar o controle e sua auto-estima. O que houve na guerra foi um aprendizado. Agora ninguém mais vai te obrigar a nada. Porquê você vai agir antes.
Eu não seria abandonada de novo. Aquele medo sumiu, quando matei Javier. Como se eu espantasse um fantasma. Cortasse os laços com meu passado doloroso. Não iriam mais me bater. Porquê agora me tornei forte. A lembrança de meus pais não me fariam ter outros pesadelos. Pois já não podiam mais me atingir. Eu me tornei uma vampira. Toda fragilidade humana se foi. Eu estava no comando da minha vida. Ninguém ia definir quem eu sou. A decisão era minha. Eu já me sentia bem melhor. Só de estar na presença de Viktor. Era como se nada pudesse me atingir.
_ Você está amadurecendo. Já era hora. _ ele disse.
A caçada estava programada para a madrugada. A maioria das pessoas estaria dormindo. Na segurança de suas casas. Nós iríamos atrás dos que estavam curtindo a noite. Bêbados, saindo da boate para ir até a próxima balada ou com alguma companhia para curtir algo mais íntimo. Pessoas que estavam distraídas.
Mia também apareceu. Ela estava ao lado de seu noivo. Um rapaz moreno, de olhos castanhos. Alto e forte. Todo vestido de preto. Ela também estava assim. Pelos olhares que os dois trocavam dava para ver que se gostavam mesmo.
_ Ele sempre foi vampiro?_ perguntei curiosa.
_ Eu o transformei. _ ela disse. _ Com a permissão de Viktor.
_ Que graça tem a vida sem uma família?_ ele respondeu. _ Vá se trocar. Use roupa preta. Queremos o máximo de discrição. Nos esconder nas sombras e atacar sem deixar rastros.
Eu já estava ansiosa para ver um pouco mais de vampiros que não negam sua essência. E também para ter a liberdade de seguir minha natureza sem culpa. Sem julgamentos.
_ Está na hora. Vamos começar. _ Viktor chamou. _ Você verá outros vampiros. São do clã de outros originais. Cada um está saciando a própria sede. Não precisa ter medo deles.
Nós fomos para as ruas. Estavam vazias àquela hora. Meu coração batia de empolgação. Vi no alto dos telhados, outros vampiros. Saltando de um lado ao outro. Ágeis e silenciosos. Rindo e se divertindo. Nós também saltamos para o alto de um prédio. Todos tentavam localizar as presas pelo cheiro, as vozes ou movimentos. De repente um vampiro saltou para a rua. Ouvi gritos. Ele deixou as garotas correrem. Perseguindo elas. Outros vampiros se juntaram a ele. Quando as alcançaram, cobriram a boca delas com a mão e morderam seus pescoços. Os vampiros no alto dos prédios, riam. A aura de Viktor me atingiu. Fazendo o instinto em mim, ser mais forte que a razão.
_ Sem hesitação. _ ele ordenou. _ Vá.
E eu fui. Saltei para a rua e procurei por algum sinal de presas. Ouvi a risada de alguns rapazes. Corri naquela direção. As presas a mostra. Os olhos vermelhos. O coração batendo forte e eu me sentindo viva. Pensei nos meus pais, na babá. Na que Peter namorou. Na de Drogo. Todos os humanos que eu tinha raiva e ressentimento. Deixei o sentimento vir, para liberar de uma vez naquele grupo. Saltei sobre um deles, já mordendo seu pescoço. Os outros gritaram e correram. Eu fui atrás. Mia também atacou. Viktor cercou um deles, para que ele não fugisse de mim.
_ Porquê estão fazendo isso?_ o rapaz perguntou.
_ Porquê eu sou uma vampira.
Ataquei ele, deixando todo sentimento fluir. Raiva, medo, rancor, dor e tristeza. Foi como se me esvaziasse. Me libertasse de todo trauma de infância. Abandono, violência... Tudo ficou para trás. A humana já não existia. Só a vampira ficou. Foi como um rito de passagem, onde eu finalmente me senti adulta!
Viktor estava se alimentando também. A garota não tentava lutar. O noivo de Mia estava todo sujo de sangue.
Outros vampiros olhavam para nós, sorrindo. Todos nós independentemente do clã, éramos vampiros. Parte do mesmo grupo. Não estávamos sozinhos. Eu sorri para eles também.
_ Muito bem, minha filha. _ disse Viktor.
Eu respirei fundo. E segui Viktor de volta ao hotel. Mia e seu noivo, Juan, iam cuidar dos corpos.
_ Eu vou tomar um banho. _ avisei a Viktor.
_ Não tenha pressa. Ainda tenho energia para gastar.
_ Vai caçar de novo?
_ Não. Fique no seu quarto. Eu vou até lá, quando acabar.
Não questionei. Apenas entrei na suíte e tranquei a porta. Faltavam poucas horas para o dia amanhecer. Deixei um vestido leve e simples na cama e entrei no banheiro com as lingeries. Como Viktor tinha algo a fazer e não queria ser incomodado, eu enchi a banheira para tomar um banho demorado. Aproveitando todo o luxo. Verifiquei meu celular. Três mensagens. "Você está bem? Peter está preocupado. Desistiu dele de verdade? Viktor realmente deixou?" Era Lívia. A outra mensagem era de Luísa... "Estão dizendo na faculdade que você sequestrou o professor. Quando vocês voltam?" Isso era algo para resolver depois. A terceira mensagem era de Peter... "Não vou mais tentar te proteger. Não precisa mais voltar". Eu deixei o celular de lado e afundei na banheira perfumada e cheia de espuma. Estava estranhamente calma. Eu sabia que podia lidar com aquilo.
Voltei para o quarto enrolada no roupão. O dia clareando. Coloquei o vestido bem na hora em que ouvi batidas na porta. Abri sem hesitar.
_ O jatinho está esperando. Precisamos ter uma última conversa.
Sentei na cama e aguardei Viktor começar.
_ Eu já te expliquei sobre o Peter. Como ele quer manter sua inocência e ao mesmo tempo te corromper. Bem, o maior medo dele é que você se torne uma mulher má e impiedosa. O que aconteceu ontem... Foi necessário e eu entendo. Ele não. Ele não quer que aquela sua pirraça e brincadeiras malévolas de criança, sejam indícios de má índole. Ele prefere que seja apenas atitudes impulsivas de uma menina mimada. Pois isso significa que não terá influência ou reflexo na sua fase adulta. Já que você cresceu e é capaz de entender o que ele quer ensinar. Como se sente após a caçada?
_ Livre do meu passado. Dona da minha vida e do meu futuro. E mais uma vez, grata à você.
_ Mas, você entende que aquele lado seu é o que Peter não quer ver.
_ Eu entendi. Peter tem medo que esse meu lado sombrio me domine e eu perca a inocência. Esse meu lado só vai aparecer quando for necessário. Ele merece o melhor de mim. Vou deixar meu lado inocente dominar. Porquê é disso que ele gosta. Vou mostrar para ele que nunca vou perder o que ele aprecia em mim. Mesmo se ele me corromper. Quando ele se convencer que eu nunca vou mudar, vai finalmente me aceitar.
_ Você está pronta para cumprir a missão. Tenho certeza que saberá o que fazer. Sem jogos, sem teatro. Apenas sendo você mesma.
_ Agora eu acredito que tenho uma chance. Obrigada, pai.
Eu beijei o rosto dele.
_ Eu é que agradeço. Estou pensando no que você disse...
_ Você merece ser amado e amar loucamente. Ser pai de um filho biológico. Não importa se você é maldoso, cruel e sombrio. Somos a sua família. Seus filhos. Aconteça o que acontecer, não vamos te julgar. Queremos que seja feliz. Até Peter, que nesse momento deve estar bravo com você.
Viktor riu.
_ Ele vai me agradecer. Agora vá!... E monte a última peça desse quebra-cabeças.
Abracei ele e saí. Longe dele e de sua aura carregada, a razão voltou. Assim, como meu lado mais calmo. Enquanto o jatinho me levava de volta à pequena cidade, eu resolvi responder as mensagens. Para Lívia escrevi... "Estou melhor que antes. Cuida dele por mim". Para Luísa... "Explico na faculdade, quando voltar". Para Peter... "Vai voltar a me ignorar?"...
Apesar de todo o luxo que aproveitei com Viktor, era naquela cidade que eu me sentia feliz.
Cheguei na mansão quando todos se preparavam para sair. Reunidos na sala.
_ Oi pessoal. Voltei.
Eles olharam além de mim, como se esperassem mais alguém.
_ Dérick não veio, se é o que querem saber.
_ Te deu o fora?_ quis saber Drogo.
Eu percebi o sorrisinho de deboche do Peter.
_ Eu não fui procura-lo. Só passei um tempo com o papai. Comprei algumas roupas.
_ Você sumiu com Viktor para fazer compras?_ Nicolae disse cético.
_ Eu fui com o Viktor passar um tempo com ele e colocar as ideias no lugar. Estava um pouco confusa. Eu fiz compras com a Mia. Ela está noiva.
_ Sério? Conta tudo. _ disse Lívia.
_ Quero ver o que comprou. _ disse Luísa.
_ Se não foi procurar por Dérick, o que diremos na faculdade?_ quis saber Drogo.
_ Sei lá. Não faço a menor ideia de para onde ele foi. Diz que ele se mudou por conta dos boatos de que saia comigo. Medo do Viktor.
_ Você realmente namorou com ele?_ quis saber Nicolae.
_ A gente saiu algumas vezes, mas, não aconteceu nada.
Percebi que Peter estava me analisando. Ele se aproximou e depois de um tempo sorriu.
_ Você ainda é você!
Eu franzi a sobrancelha.
_ E queria que eu fosse quem?... Aliás, você disse para eu não voltar.
Eu fiz um beicinho e cruzei os braços. Ele riu.
_ Sem pirraça, princesa. Esquece o que eu disse.
Eu sorri e beijei o rosto dele.
_ Vai me proteger não é?
_ Sempre!
Eu fui para perto das meninas.
_ Comprei uns vestidos lindos. Vou mostrar à vocês.
Elas me seguiram.
Peter precisou de poucos segundos para ver que eu ainda era como ele gostava. Como Viktor disse... Só precisava ser eu mesma.
_ Olha essas roupas lindas... _ disse Luísa.
_ Quer seduzir o Peter?_ Lívia perguntou.
_ Eu nem saberia como fazer isso. Ele é meio desanimado, como sabem.
_ Mas, é homem. _ disse Luísa. _ Coloque uma roupa provocante e dá uma piscadinha.
_ Para você é fácil. O fogo que o Drogo tem. Nem precisa de muito para você deixar ele no clima. _ eu disse.
Ela ficou vermelha e cobriu o rosto com as mãos.
_ Não somos pervertidos. _ ela disse.
Nós rimos.
_ Você e o Nicolae são mais discretos. Mas, aposto que estão aproveitando bastante.
Lívia também ficou vermelha e abaixou a cabeça.
_ Ah, sabe como é... Desde a primeira vez que foi intenso. Nicolae quer ter mais filhos.
_ Eita... _ nós rimos. _ Peter parece não se interessar por nada. Fica com aquele olhar vago. Desanimado. Ele é capaz de beijar como se não fosse nada. Nenhum significado.
_ Está falando sobre a guerra? _ quis saber Luísa.
_ Não. No dia em que fui embora com Viktor... Eu estava chateada porquê ele me beijou só para tentar provar suas ideias. Eu estava no clima. Achando que algo estava acontecendo entre nós e... Foi só um teste para ele. Sem importância.
_ Uau, vocês se beijaram de novo. Então, ele não é tão frio assim._ disse Luísa.
_ Ele está se fazendo de bobo, para tirar casquinha. Entra na onda. Finge que não é nada e tira casquinha também. _ Lívia disse.
_ Mas, o que pode fazer ele sair dessa depressão e ser mais... Impulsivo?_ perguntei.
_ Sangue. _ elas responderam.
E uma ideia começou a surgir na minha mente.
_ Bem, eu tenho que ir para a faculdade. _ disse Lívia.
_ Eu vou cuidar dos gêmeos. _ disse Luísa.
_ Eu vou para a faculdade, explicar o que houve com Dérick.
Todas tínhamos coisas a fazer. Esse assunto podia esperar!
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Is It Love? Peter - O som do coração
FanfictionPeter foi muito apaixonado por uma humana médium. A garota foi ferida por pessoas que a consideravam uma garota possuída por demônios. Ela não queria se tornar vampira. Ele odiava ser um vampiro. Então, ele só pôde ver sua amada morrer, sem poder aj...