Eu deitei na cama e abafei o choro no travesseiro. Eu me livrei do meu passado doloroso como humana, mas, esqueci da guerra. Eu continuava repassando as cenas e me culpando. Se eu não tivesse bebido o sangue do lobisomem... Se não tivesse me distraído e evitasse o sequestro... Se eu não me preocupasse com o que iam pensar de mim e tivesse mordido os humanos... Se eu não estivesse fraca de mais para usar meus dons... Na verdade, só se eu previsse o futuro poderia ter evitado. E agora todos sabiam. Ninguém me olhou com nojo, o que foi um alívio. Eles não entendiam que o que me deixava daquele jeito, é saber que o Peter achava que eu era inocente e ingênua. E no entanto, eu já tinha visto o lobisomem, sem calça. Afinal, o que era inocência e ingenuidade?
Fim de semana. Nada de faculdade. Eu até queria nem sair do quarto, mas seria pior se eu ficasse.
Nicolae e Lívia foram passear com os gêmeos. Drogo e Luísa tinham uma consulta com o médico. Loucos para saberem o sexo do bebê. Resultado... Fiquei em casa com Peter. Como sempre, ele estava no quarto tocando piano. Eu peguei um dos livros de romance, que Lívia comprou para buscar inspiração, sobre como conquistar o Peter. O problema é que na maioria das vezes, as personagens não precisaram fazer nada. Deixei o livro de lado e resolvi sair e observar os humanos. Alguns casais estavam se alimentando juntos, outros estavam simplesmente conversando aconchegados. Vi um casal saindo da loja de bijouterias com um pacote. Entrei para ver o que os casais olhavam.
_ Senhorita Bartholy, em que posso ajudar?
Era um pouco estranho falar disso com humanos. Era meio constrangedor. Normalmente era o rapaz que corria atrás.
_ Eu quero saber que presente deveria dar ao rapaz que eu gosto.
A vendedora deu um sorrisinho.
_ Bem, vocês já estão juntos?
_ Não. Eu quero...
_ Conquistar o seu crush?
_ O quê?
Ela deu risada.
_ Que gracinha. Você é a mais nova não é? Bem, para cortejar o seu paquera, você pode dar um presente significativo. Do que ele gosta?
_ Música.
_ Então, você pode dar a ele este colar com pingente de nota musical. Mas, mandar gravar seu nome nele.
Eu fiquei olhando. Ele usaria algo com o meu nome?
_ O que importa é o significado que tem o gesto. O que você quer dizer a ele, em forma de presente.
O que eu queria dizer a ele?...
_ Vou levar.
Saí da loja com meu nome já gravado no colar. Entre dois corações. Tive uma ideia enquanto passeava pelas ruas. Procurei até encontrar um coração de pelúcia, escrito eu te amo. Isso era o que eu queria dizer à ele.
Voltei para casa saltitante, de felicidade. Era gostosa a sensação de flertar com o amado. A expectativa pela reação dele. Eu sabia que precisaria de muitas tentativas. Drogo deu flores para Luísa por muitos dias seguidos. Eu estava preparada para fazer o mesmo.
Escondi atrás de mim os presentes e fui lentamente e evitando fazer barulho para o quarto dele. A porta estava entre aberta. Ele ainda tocava piano.
_ Peter._ eu disse meio sem graça, olhando o chão.
_ Lorie?
Eu respirei fundo e me aproximei. Reunindo a coragem e com o coração batendo forte, eu estendi na direção dele os presentes. Ele me olhou confuso.
_ Para você, que é meu crush.
Ele começou a rir e eu fiquei sem entender.
_ Fiz alguma coisa errada?
_ Não, eu só... É muito bonitinho você flertando comigo.
Eu fiquei corada e fechei a cara.
_ Você não deveria rir.
_ Não fique brava, vamos ver...
Ele olhou sorrindo para o coração e depois abriu o pacotinho do colar.
_ Eu entendo o colar. Muito bonito e com seu nome. Quer me marcar como seu. Mas, e a pelúcia? Eu não sou criança.
_ Não é só uma pelúcia. Eu te dei meu coração. Porquê eu te amo! Eu sei que está com nojo do que aconteceu com o lobisomem... Mas, se puder esquecer isso e me dar uma chance. Eu gostaria muito de ser sua namorada.
Ele ficou me olhando em silêncio.
_ Você já namorou. Sabe como é. Eu não sei o que deveria fazer agora. Te dou um beijo? Espero resposta? Deixo você pensando? Planejo o próximo passo para te conquistar? O que eu faço?
Ele sorriu.
_ Não vou estragar o momento falando sobre o lobisomem. Depois a gente conversa. Agora, o que você deveria fazer?
_ Você é o professor. Me ensina a cortejar.
Ele colocou os presentes sobre o piano e segurou minha cintura. Ainda sentado sobre o banco.
_ Agora você me dá um beijo. Deixa eu pensar no seu pedido e vai planejar o próximo passo.
_ Entendi.
Eu segurei o rosto dele e me inclinei para lhe dar um selinho prolongado.
Sorrindo, eu fiz um carinho no rosto dele.
_ Amo você. Meu príncipe.
Ele sorriu. Tinha um brilho de divertimento no olhar. Eu esperava que ele não estivesse levando na brincadeira.
_ Vá planejar, princesa.
Eu saí saltitando do quarto dele e entrei no meu. Me joguei na cama, balançando as pernas no ar. Estava empolgada. Ele deixou eu tentar conquista-lo. Mesmo sabendo o que houve com o lobisomem. Era incrível. Agora eu tinha que pensar no que faria a seguir. Eu deveria dar a ele o que eu mais queria... Outra ideia surgiu. E eu saí novamente. Na loja tinham várias opções do que eu procurava. Escolhi uma azul, como o cabelo dele. Uma garrafinha de cristal. Cheguei em casa empolgada. Fui para o meu quarto e tranquei a porta. " Próximo passo..." Pensei enquanto usava o punhal para cortar meu pulso. Eu sempre lembraria da guerra, ao vê-lo. Meu sangue preencheu a garrafinha de cristal. Eu coloquei a tampa. O corte no pulso foi fechando.
_ Lorie.
_ Espera.
Não queria que o Peter visse o próximo presente tão cedo. Escondi na gaveta da cômoda e abri a porta do quarto, saindo para o corredor.
_ O que tem aí dentro?
_ Seu próximo presente. Não pode ver.
_ Vem para o meu quarto então.
Ele realmente parecia estar se divertindo, com a situação. Não seria bom ele não levar à sério. Ele não podia de jeito nenhum, levar na brincadeira.
_ Vamos esclarecer o que você disse ontem.
Ele sentou na cama e deu um tapinha à seu lado. Eu sentei de cabeça baixa.
_ Você preferiu queimar a mão, do que me responder.
_ Desculpa.
_ Eu queria matar o desgraçado com minhas próprias mãos. Mas, ele já está morto. Pelo grupo de Alexandre. Não fiquei com nojo, fiquei com raiva. Dele. E sou um pouco culpado. Eu poderia ter protegido você.
_ Desculpe ter te responsabilizado. A culpa é minha.
_ Não, você tem razão. Uma atitude minha e isso não teria acontecido. Eu quero bater a cabeça na parede só de pensar que ele fez você por a boca naquele negócio dele. Eu nunca vou me perdoar por não ter evitado isso. Mas, nunca vou te culpar. Você foi vítima.
Eu fiquei olhando para ele confusa.
_ Como assim por a boca?
Ele franziu a sobrancelha.
_ Você disse que ele mandou você ajoelhar na frente dele e abaixou as calças. Tenho certeza que Nicolae te interrompeu porquê seria difícil dizer o que veio depois. Não estou com nojo de você, fica tranquila.
_ Mas, eu não beijei o... Negócio.
Peter me olhou confuso.
_ O que você fez então? Para achar que eu sentiria nojo?
Era difícil ter essa conversa com ele. Me perguntei se Lívia falava disso com Nicolae. Ou se Luísa falava com Drogo. Impossível não ficar constrangida de falar para ele o que houve com outro.
_ Ele pediu para eu tocar nele.
Nem olhei para Peter. Não tive coragem.
_ Vai dizer que não é nojento, aquela coisa branca molhando a minha mão?
Pronto. Agora ele nunca mais me veria como uma garota inocente e ficaria com nojo de mim. Minhas tentativas de conquistar ele, nem passaram para o segundo passo.
Para minha surpresa, ele riu. Fiquei olhando para ele, brava.
_ Não é engraçado.
_ Eu devo ser mais pervertido que o Drogo. Pensei que fosse outra coisa. Devia ter imaginado que não era preciso muita coisa para impressionar uma menina ingênua e inexperiente como você. Que acabou de ficar adulta. Depois de toda proteção que teve de nós três.
_ Foi horrível. Não é motivo para rir. Eu li nos livros... Isso faz parte das coisas que se faz com o cara que a menina gosta. Devia ter acontecido só com você.
Quando percebi o que eu disse, já era tarde. Ele ergueu a sobrancelha, irônico.
_ Queria fazer isso comigo?_ ele perguntou segurando o riso.
_ Chega. Não quero mais falar sobre isso. É constrangedor e você ainda acha graça.
_ Estou aliviado. Podia ter sido pior. Mas, vocês mulheres não gostam de falar disso com homens não é?... Vem cá, princesa.
Ele me abraçou.
_ Eu namorei antes de você. Não me importo com isso que foi forçada a fazer. Você se importa, com minha experiência?
_ Não.
_ Então, relaxa. E prepara o próximo passo.
Ele segurou meu queixo entre o polegar e o indicador. Me deu um selinho. Abracei ele.
Saí do quarto com a sensação de tirar um peso dos ombros. Apesar de não entender muito bem a reação de Peter. O quê ele tinha imaginado que era pior do que o que houve?... "Sua cara de anjo esconde bem, seus pensamentos maliciosos"... A fala de Viktor ecoou na minha mente. Será mesmo, que a mente de Peter era perversa como a de Drogo? Se fosse, eu devia tentar outra abordagem para atrair sua atenção.
Quando as garotas chegaram eu reuni elas para conversar no meu quarto. Depois de contar o que aconteceu, elas ficaram me encarando coradas.
_ Todos já acham que sou pervertida, então, vou confessar. Você queimou sua mão, para não falar. E depois teve aquele drama todo do Nicolae. Eu já estava imaginando as piores coisas. Isso não é nada perto do que eu imaginei.
_ Eu também pensei outra coisa. _ disse Lívia.
Eu ergui a sobrancelha, com um olhar irônico para elas.
_ São todos pervertidos nessa casa. _ eu disse.
_ Ou é você que é muito dramática?... Assustou todo mundo. _ disse Luísa.
_ Mas, foi horrível. Como podem agir como se nem fosse nada?
_ Foi terrível você ser obrigada a fazer isso. Deve ser muito traumático. Só que podia ser pior. Não estamos diminuindo seu trauma. Ou desmerecendo o que houve.
_ Vocês teriam coragem de contar algo assim? Como se não fosse nada?
_ Não. _ elas responderam rápido.
_ Está vendo? Vocês também tem vergonha. Melhor não falar sobre esses assuntos.
Eu joguei uma almofada em Luísa e começou uma guerra de travesseiros. Um pouco mais violenta, que a dos humanos. Os meninos correram para ver o que estava acontecendo e acabaram entrando no meio. Os gêmeos davam gargalhadas, batendo palmas.
Quando todos pararam, rindo uns dos outros, o sentimento foi o mesmo. União. Aconteça o que acontecer, somos uma família. Vamos proteger uns aos outros. Vamos cuidar uns dos outros. Amar uns aos outros. E compartilhar a eternidade. Vergonha? Porquê?... Não havia julgamentos entre nós. Só a união e cumplicidade. Eu ergui a cabeça e disse...
_ Vocês todos são um bando de pervertidos.
Todos riram jogando travesseiros e almofadas em mim.
_ Você que é dramática. _ disse Drogo. _ E o Nicolae colaborando para pensarmos besteira.
Ele virou o alvo dessa vez.
_ Para nós, não era tão grave. Para ela, era. Protegi a caçula da casa. _ ele se defendeu.
O grupo se dispersou depois disso. Eu pensei no próximo passo com Peter. O presente estava pronto. Mas, eu queria fazer ainda mais uma coisa. Como eu aprendi com o Dérick, comecei a escrever uma música para ele. Chamar a atenção dele em sua área de interesse.
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Is It Love? Peter - O som do coração
FanfictionPeter foi muito apaixonado por uma humana médium. A garota foi ferida por pessoas que a consideravam uma garota possuída por demônios. Ela não queria se tornar vampira. Ele odiava ser um vampiro. Então, ele só pôde ver sua amada morrer, sem poder aj...