Aqueles laços

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   Me arrumei de forma discreta dessa vez. Como uma roqueira rebelde. Era hora de colocar a máscara e ignorar a dor no meu peito.
    _ Lívia vou pegar sua moto.
    _ Divirta-se. _ ela respondeu.
    Nicolae me olhou sério.
    _ Não acho uma boa ideia você sair com um humano.
    _ Só tem humanos na cidade. Vou sair com quem?
    Ele balançou a cabeça. Drogo também não concordava. Luísa deu um sorriso triste.
    _ Já estive no seu lugar. Sei o quanto dói. Faça o que achar melhor para aliviar essa pressão no peito.
    _ Obrigada Luísa. Obrigada Lívia.
    Peter veio descendo as escadas de vagar. Até o último instante eu quis que ele me parasse. Mas, ele não fez nada. E quando uma lágrima rolou no meu rosto eu fechei os olhos com força para segurar o choro. Quase que meu disfarce se desmancha. Virei as costas e saí rápido.
     Era uma sensação incrível pilotar a moto sentindo o frescor da noite. Eu acelerei o máximo. E tentei não pensar em nada.
      Dérick estava na fila do cinema. Não tinha ninguém da faculdade ali. Eu fui até ele.
      _ Oi.
      _ Você é linda de qualquer jeito. Até rebelde.
      _ Obrigada.
      Disfarçamos até entrar na sala. Ele comprou ingressos para a última fileira. As luzes se apagaram. Ele se inclinou e sussurrou no meu ouvido... " No seu ritmo ". Segurou minha mão e entrelaçou nossos dedos. Eu só precisava de um pouco de conforto. Meu coração doía. Deitei a cabeça no ombro dele. Ele fez um carinho no meu rosto.
      Após o filme fomos caminhar pela praça. Estava vazia aquela hora. Sentamos no banco. Ele colocou o braço sobre meus ombros.
      _ Você sabe que isso é para esquecer o Peter, então posso ser sincera não é?
      _ Claro. Pode falar. Para eu te ajudar tenho que saber qual é o problema.
      _ Meu coração está doendo. Como eu faço para parar de doer?
      _ Só vai passar quando você o esquecer. Tem que focar sua mente em outras coisas. Se afastar dele. E reconhecer que não tem jeito. Enquanto houver esperança dele mudar de ideia, será impossível você esquecer.
        _ Ele não vai mudar de ideia. Vou tentar ficar longe, mas, moro com ele. É complicado. No que eu deveria focar a concentração?
       _ Eu trabalho com música. Eu foco nisso. Quer tentar?
       _ Pode ser.
       _ Vamos criar uma música para essa fase da sua vida. Essa superação.
       Eu beijei o rosto dele.
       _ Obrigada por ter paciência comigo.
       Ele sorriu e me abraçou. Aliviou um pouco meu tormento.
        Ele foi embora no carro e eu voltei de moto. Entrei em casa de vagar. Tentando não fazer barulho.
        _ Como foi?
        Eu não esperava que Peter fosse ficar sentado na escada, no escuro, me esperando. Como eu ia esquecer se ele fazia isso? Ignorei e passei por ele.
        _ O que houve? Você disse que não queria clima ruim entre nós.
        _ Estou tentando te esquecer. Se afaste de mim.
        _ Ele pediu para você fazer isso?
        Não respondi. Sentei na cama para tirar as botas. Ele não saiu do quarto.
        _ Lorie... Ele vai se aproveitar de você.
        _ Eu também estou usando ele. Ninguém está se iludindo. Estamos saindo sem compromisso, com objetivos bem claros.
        _ Nesses livros em que aprendeu sobre relacionamento ensinam sobre isso? Quando um homem propõe sem compromisso, quer dizer que é só sexo. Você disse que não sente nada por ele, vai se deitar com ele assim mesmo? O que o lobisomem te obrigou a fazer? Você se deitou com ele?
        _ Não é da sua conta.
        Tirei as bijouterias e a jaqueta de couro.
         _ Não quero um clima ruim também. Sempre falamos sobre tudo. Me conta o que está acontecendo.
         Eu respirei fundo.
         _ Como vou te esquecer se te vejo o tempo todo?
         _ Somos irmãos. Não vou me afastar.
         _ Eu cansei de dizer que não sou sua irmã. Já que não sente nada por mim, não te incomoda eu me trocar na sua frente, não é?
         Peguei a camisola e joguei na cama. Ele não se moveu.
        _ Responde o que perguntei. _ ele disse.
        _ Fecha a porta do quarto. _ pedi.
        Ele fechou e cruzou os braços.
         _ Quer saber se eu me deitei com seu professor?
         Eu tirei a blusa. Ele ficou vermelho e desviou os olhos.
         _ Ainda não. Quer saber se me deitei com o lobisomem?
         Tirei a calça. Ele olhou para mim e notei uma ligeira mudança na respiração dele.
         _ Ele me obrigou a fazer uma coisa. Que não tenho coragem de contar.
          _ Conta.
          Sua voz saiu baixa e rouca. Virei de costas e vesti a camisola.
          _ Diga, Lorie.
          Sua voz estava estranha. Eu sentei na cama sem olhar para ele.
           _ Não vou te culpar. Ele te forçou não é? _ sua voz saiu mais firme.
            _ Sim. Eles levaram eu e a Lívia... Eles cortaram o pulso dela para tirar seu sangue. Ela ficou muito fraca. Eu também fui enfraquecendo. Ele então, me ameaçou. Disse que a parte dela foi paga, mas a minha não. Queriam o sangue dela e...
       _ Seu corpo.
       Ele tinha uma boa memória.
       _ Sim.
       _ Então... O que ele pediu?
       _ Porquê quer saber? Ele está morto.
       _ Suas atitudes podem ser consequência de um trauma.
       _ Que atitudes? Me declarar a você? Te beijar? Sair com seu professor sem compromisso? Não são pelo trauma. São pelos sentimentos que você insiste em ignorar.
        Me levantei e fui até ele.
        _ Você não sente nada então, tudo bem se eu contar bem baixinho no seu ouvido, não é? Não quero que os outros ouçam.
        _ Fale.
        Eu abracei seus ombros, fiquei na ponta dos pés e me pressionei contra ele, para sussurrar em seu ouvido...
        _ Ameaçou matar a Lívia, ou fazê-la perder os bebês, se eu não...
        Era algo muito difícil de se dizer. Ele ficaria com nojo de mim. Entendi o que Dérick disse... Eu ainda tinha esperança e por isso não queria contar o que aconteceu. Eu me afastei e virei de costas.
       _ Saia. Eu não consigo contar.
       Ele veio e me abraçou por trás.
        _ Só estou preocupado com você. Venha, vou te colocar para dormir, como fazia antes.
        Eu odiava quando ele me tratava como criança. Mas, não tinha forças para reclamar. Deitei na cama. Ele se deitou atrás de mim, fazendo um carinho no meu cabelo. E começou a cantar. Como sempre, a voz calma dele me fez relaxar e o sono veio forte.
      _ Não importa o que aconteça. Não vamos perder nossos laços. Promete?_ ele perguntou.
      _ Prometo. _ eu disse já adormecendo.

Is It Love? Peter - O som do coraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora