Sem amor.

340 41 1
                                    

   Quando o sol nasceu eu já estava me preparando para ir até a praia. Coloquei meu maiô, amarrei a saída de praia na cintura. Um chapéu e óculos escuros. Totalmente no clima e bem discreta entre os humanos.
    _ Lorie.
    Nicolae estava passeando com a família.
    _ Como vai essas fofuras?_ eu disse olhando os gêmeos.
    _ Bem. _ disse Lívia. _ Você atacou um humano, ontem?
    Peter... O novato era um fofoqueiro.
    _ Eu ia me alimentar. Mas, aquele cara apareceu. Pensei que era humano, mas é um novo Bartholy. Viktor não cansa de criar vampiros. O cara é um entrometido. Ficou me seguindo e ainda correu para me dedurar. Vou morder ele de novo.
    _ Você mordeu o Peter? _ Lívia estranhou.
    _ Ele atrapalhou meu jantar. _ me defendi. _ Eu sei do sangue doado. Mas, eu sinto falta de morder um pescoço. Serei discreta, não se preocupe.
    _ Lorie. O acordo é tomar o sangue doado. _ disse Nicolae.
    Eu fiz um beicinho e cruzei os braços.
    _ Pode deixar. Se eu sentir vontade de morder um pescoço, vou atrás do Peter. A culpa é dele.
    Os dois ficaram olhando para mim.
    _ Parece que ela só se controlava por causa dele. _ disse Lívia.
    _ Precisamos ficar de olho nela.
    _ Já disse que não vou morder humanos. Não quero ninguém atrás de mim. Vão curtir e aproveitar. Faz que nem Drogo e Luísa.
     Eu me afastei, continuando o caminho. Estendi a toalha na areia e deitei. Queria aproveitar enquanto o sol não estava forte. Porém, uma sombra me cobriu. Abri os olhos. Era o fofoqueiro.
     _ Vai me seguir até quando?
     _ Depois de ontem, vamos ter que vigiar você.
     _ Já prometi não morder humanos. Vou morder você, por ser tão fofoqueiro.
     _ Tome o sangue doado.
     _ Nem vem fingir que não gostou. Você até tomou o meu também.
     _ Compartilhar é bom. Mas, você sabe o que isso causa.
     Ergui a sobrancelha, irônica.
     _ Quer dizer, você gemendo... Eu não senti nada. Você que é um tarado. Veio me vê de maiô?
     _ Eu sou tarado? Da outra vez, você até subiu em cima de mim e me beijou. Depois de gemer muito.
     _ Que outra vez? Está delirando? Me desculpe. Você é até gatinho. Mas, não faz meu tipo. Prefiro um cara com aparência mais madura. Com barba. Mais velho.
      Ele me olhou de um jeito estranho.
     _ Se interessaria por ele, se não gostasse de mim.
     _ ele quem? E eu não gosto de você. Isso é um passeio para relaxar. Você está me estressando, novato.
      _ Estou nessa família a mais tempo que você. Vai se comportar como criança só porquê esqueceu?
      Eu me levantei.
      _ Você é muito sem noção. E não fala coisa com coisa. Eu não estou sendo infantil. Só quero curtir meu passeio e você está atrapalhando.
      Tirei a saída de praia.
      _ Como vê. Não sou criança. E isso aqui, meu bem... _ apontei para mim. _ Não é para o seu bico.
       Enquanto ele observava, eu fui caminhando em direção a água. As ondas estavam calmas. Bom para nadar.
      _ Lorie.
      De novo. Eu revirei os olhos e continuei nadando.
      _ Vem aqui.
      Meu corpo obedeceu, contra a minha vontade. O que estava acontecendo?
      _ O que fez comigo?
      _ Acha que só você tem dons? Poderes?... Pediram para eu te vigiar, porquê sou o único que você vai obedecer. Querendo ou não.
       Ele ia mesmo competir comigo, sobre quem tinha o dom mais forte?
      _ Me obrigue.
      Ele ficou me encarando.
       _ Não vá muito fundo no mar e não morda humanos.
       Eu senti sua voz reverberar em mim, em ondas.
       _ Você vai tomar o sangue doado.
       Encarei ele irritada.
        _ Você não tem esse direito.
        _ Se vai agir como criança, eu vou tratar como criança.
         _ Quando é que eu fui infantil? Qual é o seu problema? Eu cresci faz tempo. Tenho direito de tomar minhas decisões. Você não deixa. Você não é meu pai, para de mandar em mim.
        Senti meu dom explodir em ondas e atingir ele.
         _ Você não é nada meu. Não é meu pai. Não é meu irmão. Não é meu namorado. Não é meu amigo. Nada!...  Se coloque no seu lugar e não me perturbe. Ou não vai ter Viktor, que me impeça de dar um jeito em você.
          Passei por ele, indo me juntar ao grupo que chegava na praia para jogar vôlei. Os rapazes me olharam de cima à baixo. As meninas hesitaram em me deixar jogar.
       _ Acabei de brigar... _ olhei para o Peter. Sabendo que elas iam pensar que ele era meu namorado e assim, não se sentiriam ameaçadas com os delas. _ Preciso me distrair.
       As meninas olharam Peter, sorrindo.
      _ Bonito seu namorado. Resolve essa briga, antes que outra apareça. Pode jogar.
      _ Dessa vez, ele vai ter que correr atrás.
      As meninas riram. Pronto. Já eram amiguinhas. Podíamos reclamar dos caras, depois.
      Estando entre os humanos, ele me deixava em paz. E se reuniu um grupo enorme, para ver o jogo. Eu agradeci aos que me deixaram jogar e fui andando até a água. Dar um mergulho. Nem precisava olhar, para saber que tinham pessoas me seguindo.
       _ Ei, gata.
       _ Oi, linda.
       Vários caras tentando chamar minha atenção. Esse era o efeito da aura de uma vampira. Atrair vítimas. As presas, totalmente seduzidas, tentavam se aproximar. Deveria morder alguns?... Só de pensar nisso, meu corpo travou. Maldito Peter!...
     Saí da água, peguei minhas coisas e fui para o quarto. No caminho vi Drogo e Luísa. A barriga dela já estava visível. Drogo abraçava ela. Os dois rindo. Aproveitando um ao outro sem perturbar ninguém. Porquê os outros não faziam o mesmo?
     Peter estava no corredor. O olhar perdido no vazio. Ignorei ele.
     _ Você tinha razão. _ ele disse. _ Isso me perturba. Vou me sentir culpado para o resto da vida, se você não puder se tornar aquela menina carinhosa e amável. O amor muda as pessoas. Reconheço que seu sentimento era verdadeiro. Infelizmente não pude corresponder. Estava atormentado pela ideia de que eu podia ter salvado ela. Transformado ela. Viktor deixou Dérick. Deixaria ela também. Se eu sentisse na época o que sinto hoje... Esse orgulho de ser quem eu sou. Um vampiro!... Poderia convencer ela.
     _ E o que eu tenho a ver com o fracasso da sua vida amorosa? Se apaixonar por uma humana e não transformar ela, foi covardia da sua parte. Lide com isso.
     _ Está na hora de deixá-la ir de fato. Esquecer, superar, me perdoar. Respeitar a vontade dela de não querer ser vampira. Preciso encerrar esse capítulo da minha vida. Antes que eu erre com você também.
     _ Do que está falando? O que eu tenho a ver com isso?
     _ Me espere, Lorie. Eu vou ficar pronto para você.
     Um arrepio me percorreu. Ele parecia estar falando sério.
      _ Está interessado em mim?
      Ele se aproximou e me deu um selinho.
       _ hora do próximo passo.
       Ele se afastou. Caminhando com as mãos, nos bolsos da bermuda. "Próximo passo?"...
       Entrei no meu quarto para tomar um banho, tirar a areia do corpo. Meu telefone estava tocando.
       _ Alô?
       _ Desculpe eu te ligar. Sei que não agi bem com você. Devia ter falado desde o início... Está com raiva?
       _ Quem fala?
       _ Sou eu. Dérick.
       Peter mencionou esse nome. Minha mente acessou imagens vagas. Dança na boate. Cinema. Praça.
       _ A gente namorou?
       _ Só saímos algumas vezes. Não rolou nada. Não ficou brava por eu te usar para virar vampiro?
       Imagens da casa dele. Eu o deixando bem acabado.
       _ De onde você tirou o sangue para beber?
       _ Eu descobri que meus vizinhos são vampiros. Pedi o sangue em troca do meu silêncio. César e Cecília Marques.
       Isso não era bom. Se mais gente soubesse...
       _ Viktor está atrás de mim? Pretende me matar?
       _ Não. Ele resolveu ignorar. Pode ficar tranquilo. Só seja discreto. E não faça nenhuma besteira.
       _ Tudo bem. Você se acertou com o Peter?
       _ Porque me acertaria com ele?
       _ Ainda quer esquecer? Ele é um idiota por dispensar uma garota como você. Não se preocupe. Vai achar alguém que te ame de verdade. Obrigado por me transformar. Mesmo sem saber.
      _ de nada. Se cuida.
      Analisando as atitudes de Peter, as falas de Dérick, a sensação no quarto de Nicolae e Lívia, eu consegui concluir o que estava acontecendo. Eu tinha me apaixonado por aquele cara, que ainda pensava na ex, usei meu dom para esquecer ele e agora que eu estava diferente, ele queria correr atrás. Foi o mesmo com Drogo. Homens são tão previsíveis. Mas, se ele achava que ia conseguir me ter na hora que quisesse, estava enganado. Eu não sentia mais nada por ele. Diferente de Luísa. Que não pôde mudar seu coração. Seja lá o que houve. Funcionou melhor para mim. Não sabia como já tinha gostado daquele cara. Era bonito. Charmoso. Mas me tratava como criança. Isso era irritante. Talvez, o tenha conhecido já naquela época. Por isso, ele agia assim. Pois eu ia mostrar o quanto cresci, e que ele perdeu sua chance.
      Coloquei um vestido leve, soltinho. Acima dos joelhos. Se o vento aumentasse, teria que segurar a saia. Eu saí do quarto para procurar por ele. O encontrei no salão de jogos. Estava jogando sinuca, com Drogo e Nicolae.
       _ Oi Lorie. As meninas estão no parquinho com as crianças. _ disse Nicolae.
       Ignorei ele e continuei avaliando os brinquedos.
       _ Oi gata. Quer brincar de tiro ao alvo?
       Eu sorri e fui para o lado dele. Os homens no recinto, se aproximaram. Como moscas atraídas para a luz.
       O rapaz me entregou os dardos.
       _ Acerta o alvo, gracinha.
       _ E o que eu ganho se eu acertar?_ perguntei.
       _ O que você quiser.
       Eles deram risada. Os Bartholy pararam de jogar, para ficar observando a cena. Nicolae cruzou os braços e olhava de cima. Bravo. Drogo estava achando divertido. Peter parecia com ciúme.
      _ Me disseram que fui rejeitada.
      _ Quem rejeitaria uma rainha como você?_ um deles falou.
      _ Deixe esse idiota para lá. Tem muitos que te querem. _ outro falou.
      _ Você é perfeita. Ele é um babaca. _ outro falou. Todos concordando.
      _ Eu pareço criança?_ disse fazendo beicinho.
      _ Não. Você é uma mulher sexy.
      _ Quem te enxergaria como criança? Olha só esse corpo.
      _ Você é uma delícia, garota.
      Eu ri. Minha aura de vampira funcionava bem em humanos.
      _ Uau, rapazes. Vão me deixar sem graça.
       Eles deram risada.
        Me virei de costas para eles e joguei os dados. Exclamações de alegria e surpresa, cada vez que atingia bem no centro do alvo.
      _ Viram só... Eu sei acertar o alvo. E agora o meu pedido.
      _ o que você quiser. _ disseram.
      Eu dei um sorriso cruel.
      _ Vamos brincar... De caça!
      Enquanto os humanos sorriam concordando, Nicolae bateu o taco de sinuca na mesa. Seu rosto era uma máscara de fúria.
     _ Esse passeio acaba aqui. Vamos voltar para a mansão. _ ele avisou.
     _ É assim que ela seria se não tivesse se apaixonado por Peter, logo que virou adulta? Isso é reflexo de como ela era quando criança. Mimada, pirrascenta e má. _ disse Drogo.
     _ Pelo visto, me amar fez com que ela controlasce seu gênio difícil e fosse capaz de se tornar uma boa garota. Ela se esforçou mais por minha causa, do que eu imaginava. _ disse Peter.
     _ Nós temos mulheres que fariam tudo por nós!... E nem sequer merecemos isso. _ disse Nicolae.
      Eu revirei os olhos para o drama deles.
      _ vamos brincar. _ convidei de novo.
      Os humanos pegaram suas coisas para me seguir.
      Nicolae foi até mim e segurou minha mão.
      _ Vamos voltar. Obedece.
      Eu queria retrucar. Mas, na ausência de Viktor, Nicolae era o pai.
      _ Estraga prazeres. Chato!
      _ Vai ficar de castigo. _ ele disse.
      _ Não tenho mais idade para ficar de castigo. _ reclamei.
      _ Você atacou humanos. Vai ficar de castigo até entender que é para tomar o sangue doado. _ ele avisou.
      _ Vou mudar para o grupo de Alexandre. Aí vou morder quem eu quiser, humanos ou vampiros.
      _ Você não pode ter tudo que quer. _ ele disse.
      _ Porquê não? Nunca me negaram nada. _ eu disse.
      Os três olharam para mim.
       _ Você usou seu dom em nós. Fez a gente mimar você. _ concluiu Drogo.
       _ Eu merecia ser cuidada direito. Pelo menos uma vez na vida.
       Nicolae me abraçou. Me surpreendeu.
       _ Sei que não foi fácil para você. Mas, preciso que confie em mim. Esse é o melhor jeito. Não podemos arriscar. Aceite o sangue doado.
      Nicolae sempre me acalmava com seu jeito paternal. Não tinha como negar um pedido dele. Foi o mesmo, quando me convenceu a tomar o sangue de animais, que colocava nas taças, para mim.
       _ Tudo bem. _ respondi.
       _ Vamos para casa.
       E todos sempre respeitavam suas decisões. Como dizem... Segue o líder!
    
     
     
     
    
      
     

Is It Love? Peter - O som do coraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora