Estava tudo bem. Pelo menos é o que eu queria que pensassem. Eu estava tentando disfarçar como meu coração doía toda vez que olhava para Peter e lembrava de sua rejeição. É, eu me afundei na tristeza e até compartilhei a dor com a Luísa, por um tempo. Mas ela conseguiu conquistar Drogo, bem no momento em que desistiu. No meu caso, mesmo que eu me afastasse, ele não ia olhar para mim. Era um caso mais complicado. Minha história já começou mal. Eu nasci em uma família que na aparência era perfeita. Quem cuidava de mim era a babá. Meus pais trabalhavam até tarde. Só tínhamos contato aos fins de semana. Porém, meu pai começou a chegar mais cedo do trabalho. Eu pensei que era por minha causa. Até ver ele beijando a babá. Eu não entendia porquê ele estava agindo daquele jeito. Eu só tinha seis anos. Quando mamãe chegou em casa, eu fui contar para ela.
_ Mamãe, porquê o papai beijou a babá na boca?
Mamãe ficou nervosa na hora.
_ Não diga mentiras menina.
_ É verdade. Eu vi.
Escutei toda a briga dos dois. Mamãe demitiu a babá. E manteve o casamento pelas aparências. Mas a babá ficou grávida. De um menino. Como papai sempre quis. Ele pediu divórcio e foi ficar com ela. Desde então, mamãe me culpou pelo fim de seu casamento. Por ter nascido menina. Toda vez que ela bebia, me batia para descontar a raiva. Papai viu meus machucados e resolveu pedir a guarda. Mamãe enlouqueceu.
_ Seu pai não vai tirar você de mim. Já basta o escândalo e humilhação que me fez passar.
_ Me solta mamãe. Está me machucando.
_ Prefiro você morta, do que com ele.
Ela me empurrou de propósito. Ficou olhando no alto da escada, enquanto eu caía. Meu pescoço doeu tão forte, que apaguei na hora. Pensei que fosse morrer.
Quando acordei estava nos braços de um estranho. Que por mais frio que fosse sua pele, era uma presença calorosa. Depois de tudo que passei.
_ Quem é você?
_ Eu sou seu pai.
Não era. Mas eu permitiria que fosse, se quisesse. Qualquer um seria melhor do que o verdadeiro. Que me abandonou por ser menina e foi cuidar do filho homem, que teve com a amante. Até minha mãe. No fim, me culpou por ser menina. Porquê é mais fácil achar culpados, do que admitir seus erros. Não era minha culpa. Qual o problema de ser menina? Eu não entendia. Aquele estranho me acolheu em sua casa.
_ Estou com sede.
Ele sorriu para mim e me estendeu o pulso. Fiquei olhando sem entender.
_ Vamos... É só morder.
O cheiro me atingiu. Vinha dele. E antes que eu entendesse o que fazia, já tinha mordido o pulso dele. O gosto do sangue era bom. Doce.
_ Boa menina. Eu trabalho bastante. Precisarei deixar você, com meus filhos. Eles vão cuidar de você.
_ O que fez comigo? Meu pescoço doía.
_ Cair da escada e quebrar o pescoço não é agradável. Está melhor agora, garanto. Eu serei seu pai. Estou te adotando. Entende?
_ E meus pais?
_ Já dei um jeito neles.
O homem parecia um cara mal. Mas, eu não tinha medo. Ele me ajudou a sair daquele inferno.
_ E seus outros filhos, também são adotados?
_ Sim. Todos eles. Vão cuidar de você. Mas, primeiro preciso te ensinar a controlar seus dons. O crescimento de um humano é mais rápido que de um vampiro. Para não haver um choque, vamos bloquear seu crescimento. Até o momento certo.
Eu não entendia. Mas, concordei.
Eu fiquei junto daquele estranho por alguns meses. Ele foi muito mais pai, do que o verdadeiro. Aquele estranho, Viktor, era um vampiro.
Ele me levou depois àquela cidade. Mystery Spell. Ele tinha duas mansões lá. Uma estava vazia. Na outra, tinha seus três filhos. Lembro que cheguei assustada. Eu confiava em Viktor, mas não sabia como os outros iam me tratar.
_ Não tenha medo, filha. _ disse Viktor, me pegando no colo. _ Você é a princesa do príncipe de cabelo azul. Entende o que quero dizer? Ele será seu marido quando você crescer. Seu felizes para sempre é com ele.
_ Como papai e mamãe?
_ Sim. Mas não tão trágico. Você vai ficar com ele para sempre. Terá lindos bebês. O que espero é que nunca se esqueça que eu te salvei e o ajude a me aceitar como pai.
Fiquei olhando sem entender. Viktor beijou minha testa. E entrou comigo na casa. Enorme. Parecia até um cenário, das histórias que a babá lia para mim. Ou dos desenhos que ela colocava para eu assistir, enquanto se trancava no quarto com papai. Eu não sabia porquê. O que faziam lá.
_ Tenho novidade para vocês.
O primeiro a aparecer, foi Nicolae. Ele parecia prestes a avançar sobre Viktor. Mas, mudou de expressão ao me ver.
_ O que é isso?... Você transformou uma criança?
Ele atacou Viktor. Ou tentou atacar. No meio do caminho foi travado por algo invisível e caiu no chão se retorcendo.
_ Esse é o primogênito. Nicolae.
Viktor ignorou seu sofrimento e foi até a biblioteca.
Peter estava ali. Tentando se enforcar.
_ Já disse que isso não funciona com vampiros. Desce daí. Vem conhecer minha mais nova filha.
Peter arrebentou a corda e se aproximou tossindo.
_ Você transformou uma criança? Ficou louco?
_ É ele, papai?
_ Sim. Ele.
Peter olhou para mim, confuso. Eu estendi os braços em sua direção. Eu já era bem grandinha para ficar no colo. Mas, isso me foi negado pelos meus pais. Eu queria que minha nova família fosse diferente. Peter se aproximou e me segurou. Eu reparei em seus olhos. Seu cabelo. Vendo o meu príncipe encantado.
_ Oi príncipe. Eu sou a Lorie.
Ele com certeza não entendia, porquê o chamei assim. Deu risada e respondeu...
_ Oi, princesa Lorie. Eu sou o Peter.
Logo em seguida, conheci o Drogo. Ele voltou para casa todo sujo de sangue. Sua camisa, suas mãos, sua boca e queixo.
_ Precisa ser mais discreto ao se alimentar, meu filho.
_ Você não é meu pai. Foi você que me transformou nisso...
Drogo me viu, no colo de Peter.
_ O que está acontecendo aqui?
_ Sua nova irmã. Espero que cuidem bem dela.
Ele deu um beijo em minha testa.
_ Tchau, filha. Não se esqueça do que eu disse. Eu volto. E vocês, cuidem dela.
Quando Viktor saiu, os três começaram a reclamar. Que ele não podia ter feito isso. Que seria mais difícil controlar uma criança. E eu acabei sentindo como se fosse rejeitada de novo. Afinal, eram todos garotos. Só eu de menina. Comecei a chorar e tentar descer do colo de Peter. Queria ir atrás do Viktor.
_ Papai...
_ Calma, calma. Vamos cuidar de você. _ disse Peter, me segurando firme.
_ Promete que não vai me abandonar por uma babá?
Os três se entreolharam.
_ Podemos contratar. Uma humana. Mas, antes... Ela precisa aprender a se controlar. Drogo, terá que fazer um esforço. Vamos criar regras e um ambiente familiar saudável para ela. _ disse Nicolae.
_ Viktor não é meu pai. _ Drogo disse.
_ Eu serei o pai. _ Nicolae respondeu. _ vocês serão os irmãos.
_ Agora vamos brincar de casinha?_ Peter indagou irônico.
_ Eu topo. _ respondi.
Eles riram. E assim, surgiram as regras de Nicolae. O esforço de Drogo para cumprir. Minha preferência por Peter. O esforço de Peter para se acostumar a sua nova condição. O sentimento de família. A união para tentar viver da melhor forma possível, apesar da nova realidade.
Eles me deram o carinho e amor que não tive. Tudo que eu pedia eles faziam. Sim, eu fui muito mimada por eles. Mas, considerei uma recompensa. Por ter aguentado uma família desestruturada antes. E só então, senti as vantagens de ser menina. Senti orgulho de ser uma garota. Por ser tão paparicada, por eles. A única coisa ruim era ser obrigada a beber sangue dos animais que eles caçavam. Já que não queriam que eu bebesse sangue humano. E o gosto do sangue de Viktor foi apagado de minha mente, com o tempo. Essa era à única coisa que me negavam. O sangue deles. E eu pedi muito ao Peter.
Com o passar do tempo, eles resolveram que era hora de contratar uma babá para cuidar de mim. Dizendo... " Ela vai se sentir mais confortável, se uma garota cuidar dela". Mas foi uma babá o motivo da minha família ser destruída. E o medo de ser abandonada por outra babá, começou a me deixar irritadiça. " Não faça pirraça, Lorie"... " Não seja mimada"... "Você é uma menina má"... Foram expressões que surgiram nessa época. Eu fazia de tudo para eles demitirem ela. Até tentar morde-la. A única coisa que consegui, foi ganhar um tapa, de Drogo. E todo aquele pesadelo de apanhar da minha mãe e ser empurrada da escada ressurgiu. Eu não queria apanhar, então, passei a me comportar bem, com a humana. Peter era sempre o mais próximo. Ele me pegava no colo e cantava para mim. Me colocava para ouvi-lo tocar piano e até me deixava brincar com ele. Mas tudo piorou quando eu o vi beijar a babá em seu quarto. Encostados no piano. Meu príncipe estava me trocando pela babá, como meu pai fez.
_ Para. Você é meu! Tem que esperar eu crescer. Não pode beijar ela.
Ele deu risada.
_ Você é minha irmã. Princesa. E não vai crescer. Infelizmente será criança para sempre.
Ao escutar isso, fiquei muito chateada. Viktor tinha mentido para mim? Eu não ia crescer? Ele não seria meu final feliz? A partir daquele dia, parei de chamá-lo de príncipe. Mas ainda estava chateada por ele fazer o mesmo que o meu pai. A sensação de rejeição era enorme.
A garota era uma vidente. Dizia ver espíritos. As pessoas começaram a chamá-la de amaldiçoada e endemoniada. Com isso, ela foi atacada e morreu. Ela sabia de nossa condição de vampiros. Mas não queria ser transformada. Peter também não queria fazer isso. Após enterrar ela, ele se afundou numa melancolia ainda pior do que antes de conhecê-la. Vê-lo tão mal, quase me fez querer que ele a tivesse salvado. Só para não vê-lo tão triste. Mas sem ela eu pude me aproximar de novo dele. Ficar em seu colo, ouvindo ele cantar. Enquanto escutava as batidas de seu coração.
Viktor me garantiu que eu cresceria sim, mas era segredo. Eu falei sobre a humana. Ele brigou com Peter por isso. Se envolver com humanos era proibido, segundo as regras de Viktor.
A imagem de pirracenta, mimada e má continuou me acompanhando. Então, apareceu Lívia. Uma nova irmã. Uma amiga que não tentaria roubar meu príncipe. E que sendo adulta, poderia ajudar a afastar as garotas que se aproximassem de Peter. Ela foi feita para Nicolae. Porém, ele a prendeu no porão. E não importa o quanto chorei, implorei e pirracei, ele não quis libertar ela.
_ Solta minha mãe.
Sim, ela era como uma mãe para mim. Muito melhor do que a verdadeira. E já que era a garota de Nicolae e ele assumiu o papel de pai, era justo ela ser a mãe.
_ Vou te arrumar outra babá.
_ Para. Você sabe que Viktor não gosta.
_ Eu sou o pai. Eu decido.
E Nikolae contratou Natasha. Eu já estava surtando por não ter Lívia, para afastar ela de Peter. Porém, ela se envolveu com Drogo. Eu não queria tratá-la bem. Por causa de Viktor e porquê os rapazes se esqueceram de Lívia, e chamavam Natasha de membro da família. Eu não ia deixar colocarem ela no lugar da Lívia. Tentei mostrar para ela, o que havia no porão. Tentei fazerem demiti-la. Até tentei matar ela. Só consegui outro tapa de Drogo. Foi quando odiei ainda estar presa no corpo de criança. Ninguém me levava a sério.
Para meu alívio, Natasha foi embora da mansão quando Viktor resolveu visitar. De algum jeito Lívia conseguiu chamar ele. Ter de novo minha amiga, irmã e mãe, foi maravilhoso. Com ela do meu lado, me sentia segura. E Viktor disse que eu podia liberar o bloqueio e crescer. Ouvir aquilo foi um alívio tão grande, que eu até chorei. Pensei que seria mais fácil se eu fosse adulta. Lívia, fazendo papel de mãe, me explicou tudo que eu precisava saber sobre ser uma mulher adulta. Porém, logo percebi que nada adiantava. Passei tempo de mais como criança. E mesmo agora sendo uma mulher adulta, Peter não me queria. Parecia ainda pensar... "Você é minha irmã. Nunca vai crescer".
_ Eu não sou sua irmã! E eu sou uma mulher adulta. Eu cresci. _ gritei para o espelho.
A imagem ali era de uma mulher, como qualquer outra.
Cansada de esperar o final feliz com Peter, eu resolvi tentar me livrar dos sentimentos que tinha por ele. Viktor ficaria chateado. Mas não dava para forçar Peter. Luísa fez Drogo mudar de ideia. Mas, não podia esperar que isso ocorresse de novo. Drogo só estava magoado com o que houve com a ex. Peter já havia superado, anos atrás, o que houve com a dele. Nada o impedia. Nenhum obstáculo, a não ser sua falta de vontade de ficar comigo.
Eu coloquei um vestido provocante, vermelho. Salto alto. Deixei meu cabelo rosado solto. Agora chegava até a cintura. Meus olhos cor de mel não escondiam a tristeza que eu sentia. Mas coloquei a máscara de sempre. A de menina má e atrevida. Se eu agisse como se não me importasse, talvez não tivesse que encarar os olhares de pena. Desde o início, minha vida sempre foi patética. Nem meus pais me quiseram, porquê Peter ia querer?
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Is It Love? Peter - O som do coração
FanfictionPeter foi muito apaixonado por uma humana médium. A garota foi ferida por pessoas que a consideravam uma garota possuída por demônios. Ela não queria se tornar vampira. Ele odiava ser um vampiro. Então, ele só pôde ver sua amada morrer, sem poder aj...