Trauma

347 40 0
                                    

    Era incrível, como Viktor acumulou fortuna em todos aqueles séculos de existência. Um jatinho particular nos levou até sua metrópole. Seu apartamento, na cobertura do prédio era luxuoso.
    _ Para ter controle sobre os humanos é preciso ter poder. E nada te dá mais poder, na sociedade, do que o dinheiro. Sendo bilionário ninguém questiona se eu recuso um almoço ou jantar de negócios e prefiro uma reunião no escritório. Se eu mudo de secretária com frequência, pensam que sou exigente e não perdoo nenhuma falha. Nunca vão imaginar, que matei cada uma delas. Sou o dono desse império. Ninguém questiona minhas ações.
    _ Você sai para caçar humanos, ou sempre escolhe das suas empresas?
    _ Varia bastante. Depende do meu humor.
    _ Foi aqui que transformou cada um de nós?
    Ele olhou em volta, nostálgico.
    _ Foi. Lívia foi a última. Mas, como eu disse... Vou expandir o clã. Assim, que tiver a lealdade do último que falta... Peter. Nesse momento ele deve me odiar.
     _ Eu não consegui fazer seu plano dar certo.
     _ Você ainda é muito ingênua. Funcionou muito bem. Ele está irritado com a possibilidade de você levar à sério, aquele transformado. Está tão louco com a ideia, que até apelou para tentar te convencer a desistir do sujeito. Usando a desculpa que dá a si mesmo, de que é só para te proteger. Quando na verdade está com ciúme. Mas, ainda não consegue admitir para si mesmo que gosta de você.
      _ Ele não gosta de mim. Só queria jogar na minha cara o quanto é fácil, me fazer ceder. E provar sua teoria de que não entendo nada. Confundo sentimentos e sensações.
      _ Você só vê o que ele quer que você veja. Por isso digo que é ingênua. A guerra te abalou muito. Você perdeu sua confiança em si mesma. Sua força. Sua rebeldia. Está assustada e sensível. Vou te levar para caçar e recuperar sua auto-estima.
       _ Posso matar?
       _ Não ligo se perder o controle. Pessoas somem o tempo todo nas grandes cidades. E esses humanos... São a nossa comida afinal de contas.
      E eu poderia enfim, descontar toda a frustração, raiva, decepção e medo. Os outros não aprovariam o que eu ia fazer. Mas, comigo as coisas foram diferentes. Virei vampira muito nova. Nos poucos anos que passei como humana, só tive decepções. Péssimos exemplos. Quem cuidou de mim e me deu amor foi Viktor. Minha lealdade sempre esteve com os vampiros. Eu não tinha a mesma empatia que os outros tinham. Talvez, por isso me chamassem de menina má.
      _ Não se julgue de mais. Você até tem muita compaixão para uma vampira. Se você visse como é um encontro de originais... Ficaria chocada. Eu sempre digo para seguirem o instinto. Não pense em nada, só faça.
      A aura fria e sombria dele me atingiu. Perto dele era difícil manter o controle. O instinto ficava brigando com a razão.
      _ Eu confio em você, pai.
      Ele se afastou para atender uma ligação. Observei pela parede de vidro, o dia amanhecendo. Meu telefone também tocou. Uma mensagem de Peter. " Lorie, onde você está? "... Tirei uma selfie com aquela vista maravilhosa atrás de mim. Tentei fazer meu sorriso parecer verdadeiro. E enviei para ele dizendo... " Estou curtindo muito com meu pai, Viktor. Você sabe, ele vai procurar o Dérick para mim. Não se preocupe. Da mesma forma que você considerou o beijo que eu te dei na guerra, como gratidão. Eu estou considerando o que houve ontem, como uma aula sobre sensações. Eu aprendi direitinho professor ".
     Não pude evitar essa provocação. Ele no entanto, enviou outra mensagem..." Se tivesse aprendido, não estaria correndo atrás desse cara ".
     Novamente ele ia agir como se não fosse nada de mais, o beijo. Pelo menos, longe dele era mais fácil fingir. " Eu entendi. Melhor ficar com um cara que não faz eu sentir isso, mas me quer. Do que perder tempo com um cara que me causa várias sensações e me esnoba. Você me ensinou que sentimentos são perda de tempo. O que vale são as escolhas. ". Enquanto eu ia até o quarto de hóspedes, outra resposta... " Você continua distorcendo tudo. Confundindo as coisas. Volte para casa. Não faça nenhuma besteira ".
       Deixei o celular de lado. Viktor veio ao quarto usando um terno Armani. Cinza. Seu cabelo devidamente alinhado.
      _ Nada de capas? Eu amo sua capa de vampiro tradicional.
      Ele deu um sorriso charmoso.
      _ No meu trabalho tenho que ser discreto. Eu mandei a Mia te acompanhar para você comprar alguns vestidos. Vai me acompanhar em algumas reuniões.
      Eu torci o nariz à isso. A ex de Drogo, que ele quase matou. Outra humana que queria ser vampira.
      _ Não brigue com ela. Dérick também quis se tornar vampiro. Acontece. Ele conseguiu sabe-se lá, como. Ela quase morreu quando Drogo não conseguiu parar de tomar seu sangue. Quando cheguei lá, todos estavam assustados e nervosos. Eu a transformei para evitar que Drogo ficasse com um trauma desnecessário, por matar a namorada humana. Tantas vezes avisei para não se envolverem com humanos. E ele ainda fez isso de novo. E foi ainda pior.
     _ Sim. Foi péssima a experiência deles com humanas. E eu ainda caí no jogo de Dérick.
     _ Você só usou uma estratégia para chegar no Peter. Não foi completamente inútil. Ele quer tanto te " proteger ", que está se afastando da depressão. Você virou um motivo para ele continuar vivo. Desde criança. A última tentativa dele de se matar foi quando te levei à mansão. Depois disso ele cuidou de você e esqueceu um pouco sua melancolia. Até se apaixonar pela humana. Aí afundou de novo. Mas, não tentou se matar porquê você precisava de cuidados.
       _ Esse é o problema. Ele não esquece que cuidou de mim. E mesmo me vendo crescida, ele não consegue gostar de mim. Eu devia ter ficado no grupo de Ralph ou Alexandre.
        _ Não. Ficar na mansão te ajudou a criar laços com eles. Sem isso, seu jeito mais frio e cruel teria impedido que eles gostassem de você. Acha que uma menina má seria bem vinda entre eles? Todos tem uma natureza muito benevolente. Até o rebelde do Drogo, que matou muito antes de aceitar as regras de Nicolae. Que aliás, só aceitou por sua causa. Você fez os três se unirem.
       _ Peter não vê meu lado mal como um defeito. Ele acha que sou inocente.  E que não entendo as coisas.
       _ Você é inocente naquilo que ele destaca. Ele vê seu lado mal como algo que pode ser controlado e modificado. Acha que pode te ajudar a ser uma boa menina. Por isso queria que se espelhasse em Lívia. Ele sabe que ao meu lado, você seria uma vampira implacável. Aposto que está preocupado.
      _ Ele mandou mensagem. Quer que eu volte.
      _ Você vai voltar depois que estiver pronta.
      _ Ele vai gostar dessa versão minha, que você tem em mente?
      Viktor colocou a mão na minha cabeça.
      _ O que mais fascina um homem é a capacidade das mulheres de serem ao mesmo tempo, menina e mulher. Inocente e provocante. Essa mistura é o que agrada ele, e o faz se sentir culpado. Porquê ao mesmo tempo que ele quer preservar sua inocência, ele também quer te corromper. E está morrendo de ciúme, porquê sabe que diferente dele, Dérick não hesitaria. Peter é o mais complexo dos três. Pode parecer desinteressado, depressivo e melancólico. Quase inocente. Mas, é o mais perverso. Sua cara de anjo esconde bem seus pensamentos maliciosos.
       _ Peter é o mais doce e sensível.
       Viktor deu um sorriso de provocação.
       _ Ele finge que não sabe dos seus sentimentos e você finge que não percebe que as atitudes dele não condizem com sua fala. Ele é tão bonzinho... Nunca usou seus dons em você não é?_ disse irônico.
       _ Eu não...
       _ Os dons dele também são ligados ao som. Da voz, dos instrumentos musicais...
       Viktor estava me deixando confusa e paranóica.
       _ Conheço muito bem todos vocês. Somos ligados pela transformação. Vocês pertencem à mim. Eu sei o que aconteceu com você no acampamento dos lobisomens. Eu sei o que o Klaus fez.
        Ele sabia até o nome do lobisomem. Fiquei chocada e envergonhada.
       _ Como você sabe?
       _ Eu tenho dons que vocês nem imaginam.
       A campainha tocou.
       _ Vá fazer compras com a Mia. Preciso que esteja preparada para a reunião de hoje à tarde.
       Ele deu um beijo na minha cabeça e saiu. Eu respirei fundo para me livrar daquela sensação estranha, que a aura dele provocava. Como se as sombras nos envolvessem.
       _ Vamos!
       Mia estava séria. Eu a segui sem dizer nada. O motorista abriu a porta do carro para nós.
       As ruas estavam apinhadas de gente. Que seguiam suas vidas sem acreditar que havia verdade no sobrenatural. Melhor para nós.
        Entramos na loja e Mia já foi logo escolhendo um vestido preto, com um decote em V. Bem marcado na cintura e com uma saia mais soltinha.
        _ É uma reunião importante. Não pode ser provocante de mais. Esse é perfeito para hoje. Mas, também precisamos de outros mais ousados.
        _ Porquê você abandonou o Drogo?
        Ela ergueu a sobrancelha.
        _ Eu só queria ser vampira. Não era sério nosso relacionamento. Drogo ficava com qualquer uma naquela época. Eu fui apenas a que durou mais tempo. Viktor me deu o que eu queria, já que Drogo não conseguiu concluir. Então, era justo eu retribuir.
        _ E como retribuiu?
        _ Faço o que ele precisar. Organizo reuniões, preparo festas para ele se alimentar, lido com humanos que criam problemas, dou sumiço nos corpos. Sou assistente pessoal dele.
        _ Dorme com ele?
        Ela suspirou exasperada.
        _ Todos acham que fiquei com ele, não é verdade!... Ele só satisfaz suas necessidades com humanas. Pois não corre o risco de se apaixonar. Já que tem desprezo por humanos.
         Eu peguei o vestido e fui para o provador. Aquele modelo era elegante. Combinava bem com meu cabelo rosa. Saí do provador para mostrar o resultado. Ela me entregou outros modelos.
        _ Você era uma criança irritante. Que bom que cresceu.
        Ergui a sobrancelha e entrei no provador para experimentar os outros. Havia um modelo em especial, bem provocante. Frente única. Azul turquesa. Com detalhes em renda no busto. Longo e estilo sereia. Era lindo.
        _ Agora vamos comprar umas sandálias.
        Confesso que foi divertido fazer compras. E eu já estava ansiosa para usar cada um daqueles vestidos.
        Voltamos para o apartamento de Viktor. Eu me arrumei. Ela fez minha maquiagem. E quando Viktor enviou a mensagem para ela, voltamos para o carro.   
       _ Para o escritório. _ ela disse ao motorista.
       _ O que ele espera que eu faça?
       _ Apenas use seu charme. Distraia o cara, para que ele feche negócio com o Viktor.
       Fiquei impressionada com a empresa. Viktor gostava mesmo de causar impacto.
       _ Nessa sala.
       _ Obrigada.
       _ Como Drogo está?
       _ Feliz. Luísa, esposa dele está grávida.
       _ Que bom. Eu também já estou em outra.
       Ela mostrou um anel de noivado.
       _ Fico feliz por você. _ eu disse.
       Ao entrar na sala todos os olhares se voltaram para mim. Viktor estava reunido com mais dois homens. Um era o que queria fechar o negócio. O outro era o segurança do primeiro. Os dois olharam para mim de cima à baixo. Viktor veio até mim.
        _ Venha querida. _ e sussurrou no meu ouvido. _ Venha conhecer sua presa.
        Nos aproximamos do homem e a primeira coisa que eu notei foi sua aliança de casado. Estendi a mão para cumprimentar ele.
         _ Lorie.
         Ele beijou minha mão. Me olhando sem piscar.
          _ Javier. Encantado.
         Sentei ao lado de Viktor. De frente para os dois homens.
          _ Tenho certeza que esse negócio será produtivo. Seus filhos vão adorar esse projeto. _ Viktor disse.
          _ Eu também acho que será uma grande parceria. _ ele respondeu olhando para mim.
          Aquele idiota era como meu pai. Sem se preocupar com seus filhos, estava se divertindo na rua com outras mulheres. Talvez até tivesse algum bastardo por aí. E iria destruir sua família, sem se importar com as crianças, como meu pai fez. Era o tipo de pessoa que eu mais odiava. O tipo que cria traumas em crianças, como eu. Meus pais e a maldita babá, eram o motivo para eu odiar humanos. É... Bem no fundo. Assim, como Viktor, eu os desprezava.
         _ Quando poderei matar esse otário? _ sussurrei no ouvido de Viktor.
          _ Hoje à noite. _ ele respondeu de volta.
          O homem deu risada.
          _ Ah, qual é. Também quero escutar. _ ele disse.
          _ Só estávamos marcando algo para hoje à noite. Para comemorar nosso acordo. _ Viktor respondeu.
          _ Onde eu assino?
          Não precisei fazer nada. Viktor tinha razão. As mulheres eram a fraqueza dos homens. Principalmente os cafajestes.
       
       
      
       
     
       
      
    

Is It Love? Peter - O som do coraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora