O que falta?

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   Criar uma música para ele não era fácil. Expressar o que eu sentia transformando em letra, provou ser uma tarefa complicada. Que consumiu várias horas. Enfim, eu tinha a letra e a melodia, mas, não sabia tocar nenhum instrumento. Reunindo coragem, fui falar com Drogo. Não confiava nele para guardar segredo. Devia pedir ajuda com cuidado.
     _ Irmão.
     _ Fala maninha.
     _ Você toca guitarra não é?
     Ele me olhou confuso.
     _ É. Eu toco guitarra. Você sabe disso.
     _ Eu sei. Por isso, vim pedir um favor.
     _ O que é? Pode falar.
     _ Preciso que crie uma cifra para uma música que estou criando.
     _ Uma música?... Assim, do nada.
     _ Pode me ajudar ou não?
     _ Posso, é claro. Mas, porquê não pediu o Peter? Você sempre foi mais próxima dele.
     _ Eu quero um ritmo mais agitado.
     Drogo riu.
     _ Tem medo dele deixar sua música depressiva?... Vou te ajudar. Vem cá, cadê a letra?
    Levou mais algum tempo, até Drogo criar a cifra. Usei meu celular para gravar ele tocando enquanto eu cantava. Até fizemos um dueto depois. Ele se divertiu.
    _ Obrigada irmão.
    Dei um beijo no rosto dele.
    _ Você costumava pedir carinho, mas, não era carinhosa. Acho que isso vem naturalmente quando a menina se apaixona.
    _ Esquece o que você sabia sobre mim. Eu cresci, amadureci. Sobrevivi à uma guerra. Superei traumas. Nenhum de nós é o mesmo. A batalha mudou todos nós. Fez Lívia perdoar o imperdoável, fez Luísa abrir mão do orgulho por você e fez eu me esforçar para conquistar o Peter. Quando eu era acostumada a ter tudo "de mão beijada". Fez você se dar outra chance de amar, fez Nicolae mudar suas regras e seu jeito de lidar com sua natureza, fez Peter lutar pela vida. Depois de tantas tentativas de suicídio. Quem éramos como humanos não existe mais. O que éramos antes da guerra, não existe mais. Nós amadurecemos e aceitamos nossa condição de vampiros. Agradecemos à Viktor por tudo que fez por nós. E criamos laços tão fortes, com todos os Bartholys... Que daríamos a vida uns pelos outros. Sem hesitar. Eu não sou mais uma menina mimada e pirracenta. Sou uma mulher forte e decidida. Com um coração cheio de amor. Então, sim. Eu tenho um lado carinhoso. Que você verá bastante.
     Ele sorriu.
     _ Você cresceu mesmo. Espero que o Peter reconheça logo. Aliás, fiquei curioso sobre as duas ocasiões em que se sentiu atraído por você.
     Eu até tinha esquecido que ele respondeu isso na brincadeira. Eu precisava saber. Isso indicaria o que funcionaria com ele.
     Eu peguei a garrafinha de cristal com meu sangue e fui para o quarto de Peter. Ele estava olhando pela janela.
     _ Peter.
     Ele se virou. Seu olhar triste. Parecendo mais melancólico que nunca.
     _ Está tudo bem?
     Ele deu um sorriso falso.
     _ Sim. Tudo bem.
     _ Acho que não é uma boa hora, volto depois.
     _ Fica. Pode dizer o que é.
     Eu me aproximei de vagar.
     _ vim dar o próximo passo.
     Entreguei a ele a garrafinha com meu sangue. Ele olhou. Tirou a tampa e cheirou.
     _ Dessa vez, estou te dando o que eu queria que você me desse. E também... Não sei fazer isso direito, mas compus uma música para você. Vou enviar para o seu celular.
      Ele colocou os fones e fechou os olhos. Quando os abriu, sua expressão não era mais tão triste. Voltou a ser divertida. E seu sorriso foi verdadeiro.
      _ Está se esforçando bastante. Eu gostei muito.
       Ele se inclinou para me dar um selinho.
      _ Drogo me lembrou de algo... Quais são as duas ocasiões em que se sentiu atraído por mim?
      Ele me olhou surpreso.
      _ Preciso saber o que funciona. Não sei se estou chegando ao seu coração. Então, gostaria de saber em que situação eu cheguei perto de fazer você olhar para mim.
       _ Não vou facilitar para você. Continue insistindo.
       _ Você não está me levando a sério. Aposto que nem está pensando em me dar uma chance.
       _ Se eu não pensasse no assunto, não lhe daria selinhos de incentivo.
       _ Você sempre negou. Disse que eu estava confundindo as coisas. 
       _ Por isso, estou agindo assim. Não lhe dei uma resposta imediata, para que ao me cortejar, fique claro para nós dois, quais são seus sentimentos. Se é mesmo amor ou só um carinho. Em retribuição ao meu cuidado.
      _ Entendi. Mas, se você sentiu atração duas vezes, é porquê tenho chance ne? Você pode vir a sentir algo por mim.
      _ Tudo é possível.
      Eu abracei ele. Que correspondeu. Me sentia tão bem em seus braços. Meu coração batia forte. Seu cheiro estava me atiçando. Eu podia ficar assim, por longos tempos. Só curtindo sua presença. Mas, veio a preocupação.
      _ E se você se interessar por outra?
      _ Você terá que me superar. Como superei. Como Drogo superou.
       _ Preciso correr então. Vou planejar o próximo passo.
       Me afastei dele e saí do quarto. Ainda estava preocupada com sua expressão triste. Ele ainda pensava na ex? Pensava na guerra? No seu passado? Fiquei preocupada. Eu precisava evitar que ele afundasse de novo na depressão.
     Busquei na internet ideias de como atrair a atenção. Alguns vídeos de dança me deram ideia. Mas, dessa vez eu teria um trabalho ainda maior. Precisava de uma roupa específica e treinar a coreografia.
      _ Lorie.
      _ Oi, Luísa.
      _ Vem comigo. Vou comprar roupinhas para o bebê.
      _ Já sabe o sexo?
      _ Pedi um exame de sangue sem o Drogo saber. Ele ficou frustrado por não ter visto na ultrassom. Quero fazer uma surpresa para ele.
      _ Eu tinha mesmo que comprar uma roupa específica. Vamos lá.
      Ela também chamou a Lívia. Nicolae ficou tomando conta dos gêmeos. Não seria a primeira vez, que os três rapazes ficavam responsáveis por cuidar de uma criança. Eles ficariam bem.
      Luísa pegou um sapatinho.
      _ O que acham?
      _ É um menino? _ dissemos juntas.
      _ Sim. Imagina, um mini-Drogo.
      Nós demos risada. Se fosse rebelde como o pai, daria muito trabalho.
      As duas estavam encantadas com tudo. Lívia acabou comprando também, para os gêmeos.
      _ E o que você tem que comprar Lorie? _ quis saber Luísa.
       Eu olhei para o outro lado da rua.
       _ Não sei se vou achar... Eu vou dançar para o Peter, então... Preciso dessa roupa.
       Mostrei uma imagem no celular. As duas ficaram surpresas.
      _ Sério? Vai mesmo?_ quis saber Lívia.
      _ Rapazes gostam não é?
      _ Lorie... O problema é o que você espera conseguir com isso. _ disse Luísa.
      _ Que ele olhe para mim.
      _ Você está disposta a receber o que o Peter puder oferecer? Já passei por isso. A verdade é que talvez, ele nunca sinta o mesmo. Você está disposta a ficar com ele, mesmo não sendo algo sério? _ disse Luísa.
       _ Isso fará ele olhar. Mas, não vai fazê-lo se apaixonar. _ disse Lívia. _ Nada vai. Essas coisas acontecem naturalmente. Mesmo pressionando ele, com o risco de você ficar com outro, ele não cedeu.
       A imagem dele de frente para a janela e o seu olhar triste, sorriso falso, vieram a minha mente.
       _ Acham que por ter sido apaixonado antes, ele nunca mais vai gostar de ninguém?
       _ Não é bem assim. Drogo foi apaixonado por Natasha. Mas, ele me ama. _ disse Luísa.
       _ Quem já gostou de alguém, sempre vai procurar um sentimento igual ou maior do que aquilo que teve. Ele não vai se abrir, se aquilo que sente é ínfimo. _ disse Lívia.
      _ E ele não vai usar você só para satisfazer uma necessidade momentânea. Ele sabe que te machucaria. Ele se importa com você. _ disse Luísa.
      _ Não foi fácil cumprir a missão do Viktor. Não perca o foco. Essa dança é uma boa opção, mas, outras coisas devem vir primeiro. Chamar ele para sair. Passar um tempo só os dois. _ disse Lívia.
       _ Não vou perder o foco. Vou me esforçar para ter o amor dele. Se não conseguir... Tenho que ver se o que ele pode oferecer é o suficiente para cumprir a missão do Viktor.
       Nós fomos procurar pela roupa e encontramos, em uma loja de fantasias. Elas também compraram. Decidiram me ajudar, dançando junto comigo. Os rapazes iam gostar.
       _ Nós vamos para a biblioteca, embalar como presente para o Drogo. Peça para ele vir esperar na sala. _ disse Lívia.
       Eu subi as escadas de vagar. Ouvia o Nicolae tentando dar banho nos filhos agitados. Pareciam estar espalhando a água toda. Dando gargalhadas. A voz de Drogo não vinha de seu quarto. Ele estava conversando com Peter. As vezes nossa audição ampliada não era um benefício. Parei no meio da escada ao perceber que o assunto era eu.
     _ Que situação. Eu também tive dificuldade em seguir em frente. Mas, foi a melhor coisa que fiz na vida. O que sinto por Luísa é muito mais forte. O que ela sente por mim, é infinitamente maior do que aquilo que Natasha sentia. Mas, no seu caso... A Clarisse te amava muito. E você também. Para vocês, foi uma história interrompida no ápice. Muito amor, planos. Minha história foi interrompida na ruína. Com mágoa, decepção. Foi mais fácil eu superar. E eu te entendo cara. Você tem saudade dela. Queria que ela estivesse aqui. É como se o fantasma dela ainda rondasse esse lugar, porquê você nunca a deixou ir de fato. Tem que dizer adeus, meu irmão. Deixe ela descansar em paz. Guarde as lembranças boas, como eu também guardo. Mas, segue em frente. Ou diga de uma vez para a Lorie, que você está preso ao passado e pare de usar desculpas fúteis... "Você é como uma irmã para mim. Te vi crescer. Cuidei de você"... Ela acredita porquê é inocente. A gente sabe que ela não é irmã. É uma mulher adulta muito atraente. Que te ama. Se esforça por você. E você instiga esse interesse, lhe dando migalhas de atenção. Não é justo. Deixe ela saber que você não pode corresponder. Para de iludir ela. Porquê se você a usar por carência. Se você tirar a inocência dela por capricho. Vai levar uma surra de mim e outra de Nicolae. Resolve suas necessidades com humanas que não se importam.
     Eu tremia. Não sabia onde me esconder, depois de ouvir isso tudo. Aquele olhar de Peter... Era ele pensando nela. Triste pela saudade dela. Porquê lá no fundo... Ele não superou de verdade. Como as meninas me alertaram, o que ele podia oferecer, não era bem o que eu queria. Agora entendia o que Viktor disse. Sobre uma parte dele querer me corromper e outra manter minha inocência. Entendi que tipo de inocência estavam falando. A dúvida de Peter, era se eu ficaria bem, mesmo que ele só me usasse. " Seu rosto de anjo esconde bem, seus pensamentos perversos". A fala de Viktor ecoando outra vez na minha mente. Palavras vazias, mentiras. " Você só vê o que ele quer que você veja". Viktor falou e eu não levei a sério. Quem era o Peter de verdade? Eu não era perfeita. Tinha muitas falhas. Mas, sempre achei que ele fosse. Afinal, me apaixonei por ele ou pela imagem que criei dele?
      Respirei fundo e continuei subindo a escada. Com um sorriso tão falso quanto o dele, eu bati na porta e a abri.
      _ Drogo, vem cá. Luísa tem uma coisa para te dizer.
      Os dois ficaram tensos na hora.
      _ O que foi? Venha logo. Quer ver também, Peter?
      Os dois se entreolharam e me seguiram para fora do quarto. Bem na hora em que as meninas voltavam para a sala.
      _ Nicolae vai ver na minha mente, depois. _ Lívia disse.
      _ Do que se trata?_ Drogo perguntou.
      Luísa entregou o embrulho para ele. Que abriu com uma expressão de curiosidade. Seus olhos se iluminaram assim que viram o que havia dentro.
      _ É sério? Como você sabe?
      _ Fiz um exame de sangue.
      Drogo abraçou Luísa, tirando ela do chão. Recebeu um abraço do Peter. E de nós duas. Suas irmãs.
      _ Eu escolho o nome. _ ele disse. Luísa não discutiu. _ Vai se chamar Draco.
       _ Sério irmão? _ eu ri.
       Luísa deu um beijo nele.
       _ É lindo, meu amor.
       E os dois já estavam no clima de novo. Hora de dispersar. Lívia foi ajudar Nicolae a dar banho nos filhos. Eu subi para o meu quarto. Peter foi atrás.
      _ O que você ouviu?
      _ Do que está falando?
      Ele se aproximou e eu recuei. Não tinha estômago para fingimentos.
      _ A partir de agora está proibido de entrar no meu quarto. Nada de selinhos. E da próxima vez que você se deitar na cama comigo, não será para dormir. Mas, é claro que isso só vai acontecer, no dia que você me respeitar e me levar à sério. Caso contrário eu serei o maior "e se...", da sua vida! E fantasma nenhum vai te atormentar mais que isso.
      Apontei a porta do quarto e ele saiu sem dizer nada. Fiquei me perguntando o que a babá tinha e eu não. O que faltava em mim, para despertar amor, nele. Porquê ela era tão especial a ponto de ainda assombrar seus pensamentos, mesmo depois de tantos anos. Precisaria exorcizar o coração dele, para ter espaço para mim?
     
     
  
     

     
     

      
    
    
    

Is It Love? Peter - O som do coraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora