Segredos

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     Cheguei em casa. Luísa estava brincando com os gêmeos. Que corriam de um lado para o outro. As diferenças por serem vampiros, eram mais visíveis.
      _ Muito trabalho com eles? Logo terá que parar por causa do seu. Eu vou trancar a faculdade e ficar com eles.
       _ Está realmente fazendo porquê quer essa profissão?
       _ Não. Nicolae mandou fazer, pelo disfarce. Que eu nem preciso mais. Viktor já banca a gente. Nem preciso fazer nada.
       _ Não. Mas, a gente faz para ter nosso disfarce e um pouco de independência.
       _ Sabe Luísa... Geralmente os filhos querem crescer, se formar e sair de casa. No meu caso, foi diferente. Eu não quero ficar sozinha. Não me importo de ser sustentada pelo Viktor. Eu só quero um pai que se preocupa comigo, cuida de mim e me ama. Eu quero ser mimada. Porquê dói de mais, ser abandonada.
        Percebi que falei de mais. Para disfarçar, fui brincar com os gêmeos.
        _ Cadê meus sobrinhos lindos?
       As crianças riam, fugindo de nós. Com uma velocidade anormal para um bebê. Normal se o bebê é vampiro.
       _ Luísa... Viktor ficou com raiva quando você esqueceu o Drogo?
       _ Foi por isso que ele quis me punir. Porquê eu desisti de cumprir a missão dele.
       _ Então, se eu desistir do Peter...
       _ Ele vai ficar muito bravo. Nós somos o ponto fraco dos meninos. Aquilo que o Viktor usa para ter a lealdade deles. É para isso que fomos criadas. Ele vê o que mais ninguém vê. Sabia que seríamos a garota certa para os rapazes. Se ele escolheu você, então, o Peter vai ceder em algum momento. Você só precisa achar como. Nicolae perdeu o controle por causa de seu desejo pela Lívia. O Drogo aceitou ficar comigo sem compromisso e acabou gostando da ideia. Precisa achar o que funciona com o Peter.
       _ E como vou saber o que funciona com um cara que fica trancado no quarto, tocando piano e lamentando estar vivo?
       _ Dê a ele um motivo para achar a vida um máximo. Cante uma música alegre para ele. Se ser entusiasmada não tirá-lo da depressão, então, se afunde nela ainda mais do que ele. Forçando ele a sair dessa melancolia para te resgatar.
       _ Isso pode funcionar. Ele disse que se preocupa comigo. Vou ser realmente má, se começar a jogar para conquistar ele.
       _ Eu joguei. E só quando perdi o jogo, foi que ganhei. O melhor xeque mate da minha vida. Questão de estratégia. Viktor te deu uma missão. Não dá para fugir, então, use as armas que tem.
       Algumas ideias começaram a surgir na minha mente.
       _ Obrigada.
       Eu saí logo em seguida. Primeira coisa... Concessionária. Finalmente eu fui para lá, com o cartão ilimitado que Viktor deu. Aliás, deu para cada um dos filhos. A vendedora se aproximou já sorrindo. Sabia que ia faturar alto de comissão.
      _ O que deseja senhorita?
      _ Algo que seja a minha cara.
      Logo vi algo que chamou minha atenção e foi a escolha certa.
      _ Quero essa Ducati.
      Até que foi mais rápido do que eu imaginava. Saí pilotando pelas ruas, me sentindo poderosa. Fui parar na faculdade. Todos estavam saindo. Me encostei na moto e esperei. Os alunos olhavam e comentavam. Ainda mais quando o professor veio falar comigo.
      _ Primeiro... Que voz linda você tem. Dormi muito bem. Tive sonhos... Agradáveis. Segundo... Essa moto combina bem com sua personalidade. Terceiro... Agora que todos estão comentando sobre nós, acha que seu pai vai ficar bravo?
     _ Vai. Mas, eu preciso falar com você...
     _ Segue meu carro.
     Montei à moto e aguardei. Ao longe eu vi os Bartholys olhando para mim. Dei um sorriso de provocação e segui o professor. Ele só estacionou quando chegou em casa. Eu parei ali também.
      _ Seja bem-vinda.
      Entrei com ele em casa, observando as fotos. Ele sempre foi bonito.
      _ Sente-se e diga, o que faremos agora?
      _ Eu sei que não começamos nada, de fato. Mas, é melhor parar. Então, quero saber o que você quer de mim. Qual é sua curiosidade? E algumas explicações sobre como compor uma música.
      Ele sorriu e foi buscar alguma coisa no quarto.
      _ Vou te explicar sobre a música, depois digo o que eu quero e fica encerrado o nosso lance.
      Passei as próximas duas horas, só tentando seguir as explicações para encaixar minhas ideias em um ritmo. Ele era um excelente professor. Eu poderia compor depois, com o que aprendi com ele.
      _ Agora diga... O que você quer?
      Ele respirou fundo, como se estivesse tomando coragem.
      _ Que você me morda.
      Fiquei chocada e aliviada ao mesmo tempo. Achei que ele pediria outra coisa. Algo como o que o lobisomem pediu.
      _ Isso é fácil. Quer dizer... Eu nunca tive muito controle. Vou tentar, mas, não garanto que não morrerá.
      _ Deixa eu tomar água primeiro, estou nervoso.
      Ele se foi. Eu dei risada. Nem todo homem era como Klaus.
      Quando ele voltou tinha cheiro de bala de menta.
       _ Relaxa. Não é tão ruim assim. Preparado?
       _ Sim. Pode vir.
       Fiz questão de mostrar a ele minhas presas e meus olhos vermelhos. Depois me aproximei de vagar. Sentia seu nervosismo. Eu sentia falta de morder um pescoço. Cravei as presas, bem fundo. E o sangue veio. O sangue salgado de humano. O impulso é sempre beber até a última gota. É difícil parar. As batidas do coração enfraquecem. Você tem poder sobre a vida da sua presa. Matar ou deixar vivo?... Com muita dificuldade eu me afastei. Quase não consegui. Ele estava muito fraco.
       _ Espero que fique bem.
       Eu saí e o deixei lá. Com um sorriso de satisfação no rosto. Se ele morresse, morreria feliz. Por satisfazer sua curiosidade.
       Montei na moto e voltei para casa bem de vagar. Aproveitando a sensação de ser uma vampira. Eu amava isso. Talvez, porquê era desde nova.
       A mansão estava silenciosa. Todos pareciam ter saído. Era melhor assim. Fui direto tomar um banho. Aproveitando a água quente.
       Ouvi um barulho no quarto. Me enrolei na toalha e fui espiar o que era.
        _ O que faz aqui?
        Peter olhou para mim e ficou vermelho.
       _ Só vim conversar. Pode... Terminar. Eu espero.
       Voltei para o banheiro para me vestir. Ele estava me esperando sentado na cama. Com um violão no colo. Dedilhando uma melodia triste.
        Eu me encostei na cômoda e cruzei os braços. Ele colocou o violão de lado.
        _ Você prometeu que não íamos cortar os laços, não importa o que acontecesse. _ ele acusou.
        _ Já passamos vários meses nos ignorando e fingindo que não aconteceu aquele beijo.
        _ E foi ruim. Eu não quero esse clima pesado entre nós. Com nenhum de nós, dessa mansão.
       _ Admite que se afastou de mim porquê te beijei.
       _ Não foi pelo beijo. Já disse que considero um gesto de gratidão. Foi porquê você está confundindo os sentimentos. Me afastei para você clarear as ideias.
        _ Todos somos gratos ao Viktor e não vejo ninguém o beijando na boca. Por gratidão, você beija o rosto.  Por respeito você beija a testa. Por desejo você beija na boca. Eu não estava grata. Estava emocionada, por ser protegida pelo meu príncipe.
         _ Faz muito tempo que parou de me chamar assim...
         _ Desde quando surgiu a babá.
         Ele deu risada.
         _ E você disse que eu era seu...
         _ " Para. Você é meu. Tem que esperar eu crescer. Não pode beijar ela ". _ eu lembrei. Triste. _ As coisas que mais doem, marcam.
        Peter ficou me encarando.
        _ Como você sabia que ia crescer?
        _ Porquê fui eu que bloqueei meu crescimento, a mando do Viktor.
        _ Então, nunca me viu como irmão... O que pensava na época?
        _ Eu era criança, não entendia. Sabia o que vi nos contos de fadas. Que as princesas encontravam os príncipes e com um beijo conseguiam ser felizes para sempre. Pura ilusão. A realidade é que com um beijo, as babás roubam os príncipes e as princesas terminam sozinhas. Abandonadas.
        _ Pensamos que se sentiria mais confortável com uma mulher cuidando de você.
        _ Uma humana cuidando de uma vampira. Foi uma ideia maravilhosa. Duas vezes ainda por cima. A sua garota e a do Drogo. _ disse irônica.
        _ Ficou com ciúmes por ter outras mulheres na casa? Queria toda nossa atenção para você?
        _ Eu reclamei quando Lívia veio? Ou quando Luísa se mudou? Não sou egocêntrica.
        _ O seu problema são as babás, então? Se achava grande de mais para ter uma?
        Ele não entendia o que eu falava. Desisti de explicar.
        _ Você é um príncipe que virou um sapo, naquele dia. Por isso, nunca mais te chamei assim. Quando me tornei mulher, Lívia explicou o que era gostar de alguém. Eu também li nos livros. E percebi que aos poucos eu ia sentindo tudo aquilo por você. Mas, você não acredita.
         _ Livros são só ficção. A realidade é outra.
         _ Chega, Peter. Eu cansei. Não quero mais laço nenhum com você. Saia do meu quarto. Vá procurar uma babá para você.
        _ Não fiquei com ela por ser babá. Não foi um fetiche. Estava apaixonado.
        Eu não queria ouvir isso. Nada disso.
       _ Vá embora.
       _ Sem pirraça, Lorie. Vamos conversar.
       Fiquei irritada e perdi o controle. A menina má apareceu de novo, quando eu o empurrei contra a cama e subi em cima dele. Minhas presas estavam expostas. Eu via vermelho. De raiva.
        _ Eu não sou criança. Não sou sua irmã. E mandei você sair do meu quarto.
        _ Calma, você está de TPM?
        Antes que eu fizesse uma besteira eu saí do quarto. Precisava extravasar a fúria em alguma coisa. Fui até a cozinha e quebrei um vaso de porcelana. Depois gritei. Só que o meu dom agiu e os vidros se espatifaram. Eu me sentei no chão. Tremia! Estava descontrolada. Porquê? Por ter mordido um humano? Por estar cansada das conversas sem sentido com Peter? Porquê a dor no meu peito não passava? Porquê ainda doía ter sido rejeitada por meus pais? Ou pelo medo de ser rejeitada de novo e no entanto, ter que enfrentar várias rejeições de Peter?
        _ Você não está bem.
        Todo meu disfarce caiu por terra. E o clima ruim que eu quis evitar na mansão, agora estava ali.
        _ Eu quero meu pai. _ eu disse.
        _ Vou ligar para o Viktor. _ Peter disse.
        Eu continuei parada ali. Entre tantos cacos. Que refletiam bem minha mente e meu coração. Ele não ousou se aproximar. Os outros se assustaram ao ver o estado da mansão, quando chegaram. Mas, também ficaram longe. Como se tivessem medo de mim. Somente quando Viktor chegou, que o clima mudou.
       _ Tive que vir de jatinho. O que houve aqui?
       _ A Lorie. _ disse Peter.
       Viktor se aproximou e se abaixou na minha frente.
       _ Você mordeu alguém?
       Eu olhei para ele surpresa.
       _ Como você sabe?
       _ Esse descontrole... Eu já vi antes. Me conta como foi.
        _ Ele pediu. Eu consegui parar com muito custo. Nunca tive muito controle. Você sabe. Deixei ele lá.
        _ Só mordeu?
        _ Só. O que mais podia fazer?
        _ O que ele fez antes da mordida?
        _ Foi beber água. Estava nervoso.
        _ E quando voltou, que cheiro tinha?
        _ Bala de menta. Coisa de humanos.
        _ Olha para mim.
        Eu olhei nos olhos dele. Tão frios.
        _ Papai.
        Eu abracei ele e chorei. Ele não me afastou. Só deu tapinhas nas minhas costas, para me confortar.
         _ Vai passar. Espera só um pouco.
        Eu parei de tremer aos poucos. Fui recuperando o controle.
         _ Agora venha comigo. Vamos resolver esse assunto.
         _ Que assunto?
         A aura dele era gélida e perturbadora.
         _ Temos que saber da onde ele pegou o sangue que bebeu.
          _ Ele bebeu sangue? De quem?
          _ Isso que você passou... Esse descontrole... É típico de quando se transforma um humano em vampiro. Se não for um original, vai ter esse efeito colateral.
           _ Eu transformei o Dérick?
          Estava chocada. O tempo todo, era isso que ele queria de mim. Por isso foi tão bonzinho e compreensivo.
         _ Vou matá-lo. _ eu disse.
         Viktor sorriu.
         _ Deixa que eu resolvo.
        
       
       
      
     
      
    

Is It Love? Peter - O som do coraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora