02| when night comes

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02

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02. quando a noite chega

MAREESA DALLAS


Desde muito nova, cresci com uma imagem do céu e do inferno definidas.

Nunca tive dificuldade em saber que estar no céu era sinônimo de algo bom e libertador. Enquanto seu antagonista, o inferno, era a definição da pior coisa que o ser humano poderia viver. Eu não sabia o que aquilo significava por experiência, apenas acreditava naquela crença com unhas e dentes e fazia de tudo para ser uma pessoa digna para que, no futuro, o céu fosse um lugar para mim. Ouvi de muitos que a ideia de ir ao inferno era algo ruim, aterrorizante, apenas vivenciado por aqueles que precisavam pagar pelos seus pecados pela eternidade.

Após quatro anos e meio, sinto que estou a seis palmos abaixo do chão.

E que o verdadeiro inferno é sim um lugar de dor, medo e desespero. Sei agora, por experiência própria, que viver no inferno é uma prova de resistência, um fardo difícil de carregar. No entanto, ainda sinto-me completamente confusa quando vejo que pessoas como eu tiveram que perder tudo de forma tão dolorosa.

O inferno não é apenas para os pecadores? Para os maus feitores que usaram de sua estadia na terra para perpetuar o mal e apenas ele?

Sinto que o inferno é isto que estou vivendo. E me pergunto todos os dias porque Deus resolveu tirar tudo de bom que eu tinha para me adaptar ao perfil que o inferno precisa. Pois eu sempre fiz de tudo para ser digna do céu, e estava agora vivendo o pior pesadelo que uma pessoa poderia viver. E é desesperador e aterrorizante como me disseram. Te leva ao esgotamento e ao arrependimento.

Um lugar para pecadores, esse era o novo perfil da Terra.

E quando a noite chega você se sente abraçada por ela. O abraço da morte. Cada segundo desatento pode ser sua vida esvaindo de suas veias. Quando a noite chega, você percebe que não importa a situação, você nunca estará em paz, nem mesmo depois de morto. Pois em um mundo em que mortos andam pela terra, a morte se torna um fardo tanto quando a vida.

Eu ouço o barulho deles, arrastando seus pés enquanto procuram por qualquer coisa viva para saciar de forma momentânea aquela sede por sangue. A fome interminável deles ditava o descanso que nunca teríamos enquanto aquelas coisas dominassem a terra.

Eu já não choro quando os escuto, eu não sinto nada além de desprezo e aquele sentimento de alerta. Que nunca passa. Apoio minha cabeça no tronco da árvore em que estou. Estamos na floresta há tanto tempo que me sinto cada dia mais fraca, eu sei que precisamos descansar, parar em algum momento. Mas o medo de parar e ser pega por aquelas coisas, ou pior por um ser humano, nos mantinha caminhando e caminhando. Eu sei que tenho uma ferida em meu pé que me incomoda e também sei que meu corpo está magro, mais do que o normal.

SIX FEET UNDER → carl grimesOnde histórias criam vida. Descubra agora