Capítulo 16 - As chaves prateadas e os traidores de Luminous

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Ao chegar à biblioteca, viu muitos lumens com chaves que não eram suas penas transmutadas. Eles informavam títulos de livros ou autores favoritos e cuidadores subiam com esforço em escadas altas apoiadas em rodinhas de aço para retirar chaves das prateleiras de luxo. Os ajudantes empurravam as escadas com força e elas paravam exatamente na estante correta, como um carro freando numa curva. As chaves pareciam idênticas. Todas eram prateadas. Não possuíam nada que as diferenciasse. No entanto, com uma simples comparação de seus dentes, o cuidador-bibliotecário dizia o autor, o título da obra e o ano de sua publicação, como se fosse um código de barras. Os lumens confirmavam. Ele colocava a chave no bolso da roupa, que mais parecia uma armadura de couro em tom marrom e descia escorregando pelas laterais da escada. Emílio ficou maravilhado com a rapidez e a organização com que faziam isso. Sentiu falta de seu lumen-guia e um pouco de culpa por ter sido tão ríspido com ele na piscina. Imaginou que se Will estivesse ali, facilmente compreenderia como funcionava a biblioteca e para que serviam aquelas chaves. Todavia, não se deixou intimidar pelo desconhecido. Foi até a atendente e perguntou aonde os lumens iam com aquelas chaves prateadas.

- O que disse? - indagou Magnólia Sullivan, uma idosa professora, curadora da biblioteca de Luminous. Ela parecia ter problemas de audição. Deu a volta na bancada de recepção e colocou-se à disposição para ajudá-lo. Fez questão de ressaltar que há quase cinquenta anos estava ali e em poucos meses iria se aposentar. Aproximou-se pedindo que ele repetisse novamente seu nome e falasse para fora como alguém confiante e feliz, e não como um jovem aborrecido que acabara de ofender o melhor amigo e perder a namorada.

Ele não conseguiu ficar sério. Sorriu. Magnólia Sullivan tinha um dom semelhante ao seu. Só não sabia se ela havia lido as expressões de sua face ou mergulhado em seus sentimentos. Contudo, achou que aquela velhinha só podia estar fora de forma. Sua observação era um tanto exagerada. Não pelo fato de ter sido grosseiro com Will, mas de considerar que "perdera a namorada", já que ele nem a conquistara ainda.

- Emílio D'Ara, professora - respondeu com segurança.

Ela limpou os óculos para enxergá-lo melhor dizendo nunca ter ouvido falar no sobrenome de sua família, algo raro para quem conhecia bem os visitantes daquele lugar. No entanto, reconheceu Emílio e o agradeceu por ter protegido a cidade-escola dos ataques dos dragões. No teto, mesmo da biblioteca, ainda havia algumas rachaduras. Ela fez questão que Emílio olhasse e bateu em sua mão como quem diz mais de uma vez "obrigado". O queixo dela tremeu um pouco enquanto sorria. Ele ficou sem jeito e retomou a pergunta sobre as chaves.

- Ora, não seja modesto. Você é um aura dourada. Fico feliz em saber que antes de morrer conheci alguém como você. Afinal, não estarei aqui pelos próximos mil anos. Tudo o que vai ver de mim é uma estátua horrorosa que os cuidadores mandarão fazer para dizer que sentirão minha falta - sorriu descontraída.

Emílio fez uma cara como se já estivesse arrependido por sua curiosidade tê-lo levado ali. Estava adorando a companhia da simpática bibliotecária, mas não conseguia esconder que estava apressado.

Emílio e os Lumens: o Quinto Poder (Completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora