Crise no relacionamento

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Saímos do alcance da gigantesca árvore de agulhas e olhamos a cidade. O rio corria até seus muros de pedra cinza clara e se bifurcava, circundando-a como um fosso.


— Estamos ficando sem luz, Kelsey. E foi um dia duro. Por que não acampamos aqui, dormimos um pouco e entramos na cidade amanhã?

— Parece bom para mim. Estou exausta.


Saí para procurar lenha. Encontrei galhos mortos perto dali. Me abaixei para recolhê-los e comecei a sentir agulhas arranhando minha pele. Mesmo os galhos mortos eram capazes de machucar, embora não tão profundamente quanto os galhos vivos das árvores.


Voltei e acendi a fogueira. Kelsey encheu uma panela com água de uma garrafa e colocou sobre o fogo. Fui buscar mais galhos enquanto Kelsey montava o acampamento.


Voltei com mais madeira e mais arranhões. Kelsey me entregou o jantar: um pacote de comida desidratada e um pouco de água fervente. Despejei a água no pacote e fiquei imaginando como seria ter uma vida normal, chegar em casa do trabalho e encontrar Kelsey preparando o jantar, um bando de crianças gordinhas pulando no meu colo... Sorri diante da ideia. Kelsey me tirou dos meus devaneios:


— Ren, você acha que aqueles kappa virão atrás de nós durante a noite?

— Não. Eles ficaram na água esse tempo todo e, se a história for precisa, eles também têm medo do fogo. Vou garantir que o fogo queime a noite toda.

— Talvez devêssemos ficar de guarda. Só por segurança.


Sorri irônico e perguntei quem ficaria com o primeiro turno. Kelsey se ofereceu e eu me diverti com a ideia:


— Ah, uma brava voluntária?


Ela me olhou com raiva, deu uma garfada na comida, depois me perguntou, com a voz pesada de quem está com raiva:


— Está zombando de mim?


Coloquei a mão no coração dramaticamente enquanto respondia:


— De jeito nenhum! Eu já sei que você é corajosa. Não precisa me provar isso.


Ficamos calados e terminamos o jantar. Eu me agachei diante da fogueira e coloquei mais lenha, enquanto pensava arrependido na brincadeira de antes.


"Acho que Kelsey se ofendeu e eu lhe devo desculpas."


Eu me levante e sentei a seu lado. Ela estava quieta observando as chamas, olhando para a frente. Eu peguei a mão dela.


— Kells, agradeço por se oferecer para montar guarda, mas quero que descanse. Esta jornada é mais dura para você do que para mim.

— É você quem está sendo todo arranhado. Eu me limito a seguir seus passos.

— Sim, mas eu me curo rápido. Além disso, não acredito que haja motivo para preocupação. Tenho uma proposta: eu cubro o primeiro turno e, se nada acontecer, nós dois dormimos. Que tal?

A Maldição do tigre - POV RenOnde histórias criam vida. Descubra agora