Seis horas para o tigre negro

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Meu nome é Sohan Kishan Rajaram. No passado, fui o príncipe mais jovem do império Mujulaain.


Me apaixonei perdidamente por uma mulher. Ela era a noiva do meu irmão mais velho.


Eu a amava e estava disposto a fazer qualquer coisa para ficar com ela. Por isso, fiz um acordo com o seu pai, um homem perverso que me enganou e me fez trair meu irmão.

Perdi minha família, a mulher que eu amava e minha própria humanidade.


Eu e meu irmão fomos amaldiçoados e nos tornamos tigres: ele o tigre branco e eu o tigre negro, condenados a ter apenas 24 minutos por dia como humanos.

Durante mais de 300 anos, desde a maldição, eu tenho me culpado por tudo o que aconteceu. Eu me isolei do mundo. Quando meus pais morreram, passei a viver exclusivamente como tigre, escondido em uma floresta densa e afastada da civilização, pouco frequentada por outros humanos.

Me acostumei com o tigre e não sentia falta do homem. Até que eu a encontrei.

Uma noite senti um cheiro diferente. Parecia que um predador estava rondando meu território. Segui o rastro e custei a acreditar que se tratava de Dirhen, meu irmão. Eu não podia imaginar o que ele estaria fazendo ali, já que ele havia sido capturado séculos antes e eu o julgava morto há muito tempo.

Percebi o cheiro dele por alguns dias. Ele estava me procurando.


Resolvi segui-lo e encontrei um acampamento. Ele não estava só. Havia uma mulher com ele. Eu podia sentir o cheiro irresistível da fêmea, mas eu não a vi. Saí furtivamente, mas fiquei vigiando.

Quando Ren saiu do acampamento eu me aproximei. Ela percebeu minha presença e ficou quieta, com medo. Senti uma necessidade enorme de falar com ela.


Fazia muito tempo que não encontrava outro humano e fazia muito tempo que não me transformava em um. Afastei-me dali e me transformei.


Demorei um pouco para me acostumar com aquele corpo. Caminhei lentamente em sua direção e comecei a falar com ela. Eu achei que não conseguiria, mas as palavras saíram, não sem dificuldade.

Ela não parecia surpresa em me ver, tampouco estava com medo.


Ren nos encontrou e nós dois brigamos. Foi uma luta terrível. Percebi que aquela mulher significava algo para ele. Fiquei mais curioso sobre ela.

Quando paramos de lutar, estávamos muito machucados. A mulher se aproximou chorando e começou a tratar os ferimentos de Ren. Ela não sabia que nós nos curávamos sozinhos.

Ela se aproximou de mim e tratou dos meus ferimentos. Eu poderia ter dito a ela, mas resolvi aproveitar. O toque dela era maternal e me fez sentir ternura, algo que não experimentava havia muito tempo.

Eu passei algum tempo com ela e nos tornamos amigos. Ela não me conhecia, mas se preocupou comigo. Me disse que estava ajudando meu irmão a quebrar a maldição, queria que eu fosse junto com eles, mas eu me recusei.

Estava acostumado à vida na selva. Não queria ser humano. A vida como homem havia terminado de forma trágica para mim e eu recebi uma nova chance como fera, para pagar pelos meus pecados.

Depois que eles se foram e eu voltei a ficar só, comecei a pensar nela. Kelsey.


No início ela me lembrou Yesubai, tão doce e bela como ela. Mas depois eu percebi que Kelsey era uma mulher forte e altruísta, enquanto Yesubai era totalmente dominada pelo pai cruel. Kelsey era diferente, especial. Eu sentia a falta dela e queria vê-la novamente, mas achava que nunca aconteceria.

Comecei a sentir vontade de ser homem outra vez. Passei a me transformar todos os dias.

Fui até um vilarejo e me transformei em homem. Entrei em um mercado e roubei um relógio. Depois voltei para a selva e me transformei em tigre.

Todos os dias eu me aproximava do vilarejo, me transformava em homem e ficava por ali, escondido, observando as pessoas, os hábitos. O mundo havia mudado muito. Eu comecei a aprender muitas coisas sobre este novo mundo.

Eu usava o relógio para marcar meu tempo. Quando faltavam quatro minutos, eu corria em direção à selva. Corria muito rápido para me afastar o máximo da cidade. Então me metamorfoseava e continuava correndo até estar na mata densa. Eu esperava ansiosamente até poder voltar a cidade no outro dia.

Certo dia, eu comecei a correr em direção à selva, mas não senti os tremores característicos da transformação. Cheguei ao meio da floresta e ainda estava na forma humana. Olhei para o relógio e já tinham se passado 45 minutos desde que eu me transformara em homem. Esperei pelo tigre e comecei a sentir os tremores seis horas depois.

No dia seguinte, não fui à cidade. Eu não estava entendendo o que havia acontecido. Me transformei em homem e esperei. Seis horas.

Imaginei que Ren e Kelsey de alguma forma haviam começado o que se propuseram a fazer: quebrar a maldição. Fiquei feliz e orgulhoso por ela ter conseguido.

Fui à cidade no dia seguinte. Roubei uma sandália no armazém e o calcei. Sentei-me em um banco de praça para observar as pessoas de perto.


Eu não sabia como me comportar em sociedade. Ficava ouvindo as pessoas conversarem e tentava aprender o máximo de coisas.

Algumas mulheres me olhavam. Mesmo com aquelas roupas pretas estranhas e chinelo de dedo, as mulheres ainda se interessavam por mim. Pensei em Kelsey e fiquei pensando se ela também se interessaria.

Passei a frequentar a cidade todos os dias. Conversava com as pessoas, falei com algumas mulheres. Descobri que hoje em dia, as pessoas não precisam se casar com alguém escolhido pelos pais, mas podem escolher a própria noiva.

Também descobri que as pessoas podem se relacionar com as outras antes de se casar, ou até mesmo sem este objetivo. Isto seria namorar. Vi alguns casais de namorados, andando de mãos dadas e ficava imaginado Kelsey e eu.

Algumas meninas vieram falar comigo, e me convidaram para ir a uma "boate". Me disseram que era um lugar onde as pessoas iam para dançar. Eu não era bom em dançar mas fui, só para ver como era.

Depois de alguns dias, eu já havia aprendido muito sobre o novo mundo. Mas sabia que ainda tinha muito a aprender.

Eu estava pronto para voltar pra casa.

A Maldição do tigre - POV RenOnde histórias criam vida. Descubra agora