─Está feito._disse Santiago entrando no escritório de César mais tarde.
Conforme lhe fora ordenado, ele procurara o dono do posto de gasolina, que era novo na cidade, e não sabia da história de Miguel.
Santiago sabia que se o homem perguntasse para alguém da cidade, eles confirmariam o que ele lhe dissera: apesar de ser carismático e ter o físico perfeito para um vigia, o rapaz fazia tratamento psiquiátrico e tinha desvios de personalidade, chegando a ficar violento, às vezes.
Diante desse detalhe, que Miguel não citara na entrevista, o homem desistiu da contratação, claro.
─Tenho certeza de que o senhor perdeu uma bela chance de contar tudo a ele._disse César ao médico que estava em seu escritório.
─Não é assim que funciona e eu já expliquei ao senhor. As coisas têm que acontecer cada qual a seu tempo e não assim, aos atropelos, sob pena de causarmos mais prejuízos do que vantagens para Miguel.
Realmente, César não entendia de psicologia e podia jurar que o homem estava prevendo que seria convidado a ficar mais tempo no Brasil, recebendo mais dinheiro, hospedado em um quarto de hotel às custas de César. Ser um renomado médico americano que falava tão bem o português tinha lá as suas vantagens, claro.
Como fora ele quem dera os primeiros passos, porém, resolveu sondar o que ele pretendia fazer, dali pra frente.
Mais sessões, mais hipnose...César ouviu o homem impacientemente...blábláblá...
César sabia que Miguel já fazia análises há vinte anos e isso não servira para trazê-lo de volta à realidade. Se bem que sob os cuidados daqueles dois vigaristas contratados por Verônica, não tinha como algo ir pra frente.
─Mas a palavra final é do senhor, claro._voltou a si, retirado dos seus devaneios pela voz ansiosa do médico a sua frente.
Expressão idiota...claro que a palavra final seria de quem o estava pagando, não precisava informar aquilo a ele!, pensou o empresário impacientemente.
O que ele estava querendo mostrar? Que seria um lacaio fiel e a seu dispor a qualquer hora do dia e da noite em troca de uma pequena fortuna?
─Quanto tempo?
O médico deveria ter imaginado que ele perguntaria aquilo.
"Leigos...", pensou o especialista. "Acham que as ciências humanas fazem parte da matemática com números exatos."
─É difícil saber. Isso dependerá de como ele responderá ao processo. Poderá ser em alguns meses, anos talvez...
O médico se assustou quando César afastou a cadeira da mesa e se levantou, já passando por ele e se virando para Santiago que também se assustara com a postura dele.
─Acerte com ele e pode dispensá-lo. Não precisarei mais dos seus serviços, doutor._disse saindo da sala.
O médico ficou meio atordoado. Por aquilo ele realmente não esperava. Viu todos os seus planos ruírem ao imaginar que ficaria por um longo tempo no Brasil acompanhando o marido do rico empresário. Ao contrário disso, fora dispensado sem direito a protelar.
─Miguel está à procura de um outro emprego._avisou Santiago entrando mais tarde na sala ampla da mansão.
─Fique de olho. Você já sabe o que fazer._César declarou simplesmente, sem ao menos levantar os olhos do laptop que manuseava.
─Até quando acha que poderemos levar a situação assim , César?_reclamou Santiago.
─Até quando ele descobrir que é rico o bastante para ficar o resto da vida sem precisar trabalhar.
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MEU CORPO NÃO TE ESQUECE!-Armando Scoth Lee
RomanceCésar viveu 20 anos acreditando que seu marido Miguel estava morto! De repente, no banheiro de uma galeria de artes nos Estados Unidos, um homem desconhecido e sedutor sussurra no seu ouvido: "Ele está vivo!". Aquela frase mudaria a vida de César p...