CAPÍTULO 27-CÉSAR PERDE O PRIMEIRO ROUND

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"Ele sempre foi cruel", pensou Santiago. Não era muito humano, da parte de César, pressionar Miguel daquele jeito apenas para tê-lo de volta em sua cama o mais rápido possível.

Balançou a cabeça para afastar os pensamentos negativos. Tinha que se fixar nas palavras de César de que, mais do que ter alguém para lhe servir na cama, ele queria o seu marido de volta.

César quase urrara, quando descobrira que teria aquele contratempo justamente pelas exigências que fizera: queria atualizar os exames e saber qual o andamento da sequela que ficara no cérebro de Miguel.

A prova do perfume teria que ser adiada.

No dia seguinte, Flávio foi levá-lo à casa de César.

─Verônica estava com um pouco de febre ontem à noite. _Miguel esfregou os olhos.

Não tinha como dormir o suficiente se tinha que entregar as encomendas de chinelos, fazer todo o serviço de casa, ficar ao lado dela o máximo de tempo possível no hospital.

Flávio soltou uma das mãos do volante e massageou o ombro esquerdo de Miguel.

─Você está abatido, Miguel. Não parece estar muito bem. Como se sente?

─Minha esposa nunca ficou internada. Até outro dia, tinha uma saúde de ferro e nunca reclamou uma dor de cabeça comigo. Eu sou o doente sempre indo à fisioterapia, TO, psicólogos, psiquiatras...e agora, ela desse jeito. Os meninos lamentaram tanto não poderem vir me ajudar, acompanhá-la, mas eu entendo...os estudos são importantes.

"Aqueles desgraçados! Foi só saberem que Miguel não era o pai deles que eles se acharam no direito de abandonar a mãe com o padrasto problemático."Flávio pensou, olhando penalizado pra ele.

─Está tomando os remédios direitinho?

─Pode parar! Aro já me pregou um sermão como se fosse o meu pai. Só deixei de tomar o que me faz dormir, porque é óbvio que agora eu não vou querer dormir. Se Lúcio e Ângelo puderem vir ficar com ela no final de semana, prometo que tirarei o atraso no sono.

─Aliás, esses seus filhos, hein?! Deveriam te ajudar mais. _não se controlou.

─Já te falei...época de provas na faculdade._o tom de voz não dava abertura para discordar.

Talvez, depois que ela morresse, fossem rareando as visitas ao pai, até desaparecerem totalmente.

Diante da doença terminal da mãe e dos problemas mentais do pai, não se intimidaram em aceitar a vaga numa república e um emprego na capital.

─A gente cria os filhos é pra vida, meu amigo. Não esperava que eles ficassem nessa cidadezinha pequena e seguissem o ofício do pai, não é?! Os dois são muito inteligentes, puxaram a mãe e, graças a Deus, ganharam a bolsa de estudos, mas isso implica em tirar boas notas, para terem direito a ela. Sendo assim, é melhor eu me atrasar nas minhas encomendas do que eles se comprometerem com os estudos. Mantenho contato. Ligo pra eles, se algo acontecer.

─Pare de se menosprezar. Você também é muito inteligente e talentoso. O trabalho que faz com os chinelos, os livros...

─Por favor, não seja ridiculamente caridoso.O que eu faço é serviço braçal que aprendi nas oficinas de TO. Eles serão advogados. Nada a ver comigo.

─Espere aí...achei que escrevia também. Parece que ouvi Verônica elogiando um livro que você estava escrevendo nas horas vagas...

─Besteiras...papéis avulsos...só colocando umas ideias no papel que me vêm à mente. Se ainda fossem memórias daqueles anos que apaguei depois do acidente, teriam sim algum valor.

MEU CORPO NÃO TE ESQUECE!-Armando Scoth LeeOnde histórias criam vida. Descubra agora