CAPÍTULO 11-SANTIAGO NÃO CONSEGUE ACALMAR CÉSAR

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Alguém bateu na porta. Santiago foi atender. Voltou alguns minutos depois e pigarreou antes de perguntar:

_Verônica quer saber...

_Não...diga...o...nome...dessa...mulher!_berrou César sem conseguir se conter.

_Quer saber se Miguel poderá vir olhar os livros._continuou rápido antes que ele o interrompesse novamente.

César riu com escárnio e balançou a cabeça incrédulo:

_Quer dizer que ela pensa que eu vou aceitar participar dessa farsa...aceitar que ela dê as cartas...puta ridícula!

_Já te falei...tem uma ideia melhor? A mulher está morrendo e você precisa decidir se segue os planos dela ou volta para os Estados Unidos e aí dá carta branca pra gente conduzir as coisas daqui pra frente em relação ao seu marido!

_Nunca precisaram da minha autorização...por que precisariam dela agora?_falou com escárnio.

Irritado, Santiago voltou até a porta atravessando o quarto enorme.

César talvez precisasse surrá-lo para descarregar um pouco do ódio que sentia, o assistente presumiu temeroso.

Falou com a empregada e voltou para a varanda. Cruzou os braços e desabafou:

_Ok, vamos recapitular: há dois dias você foi lá e viu o seu antigo marido, se prefere assim...parece que não o considera mais assim...e viu que ele também não.

_Não despreze o meu bom censo...não é questão dele não me considerar mais ...vi nos olhos dele...ele nunca me viu...nem imagina quem eu sou.

César parecia sentir repulsa do que acabara de dizer.

_Sabe o que é isso? Sabe o que é pensar que ele apagou tudo o que a gente viveu da vida dele como se...como se não tivesse significado nada? Como se nunca tivesse vivido algo além de uma vida ao lado daquela mulher.? Como se...

Santiago o interrompeu:

_Como se tivesse sofrido um acidente grave...tivesse detonado parte do cérebro...tivesse ficado mais de um mês em coma e hoje estar vivo por milagre! Acha isso pouco?

_Vivo? Pois pra mim ele continua morto! Porque Miguel nunca teria nos esquecido...não o meu Miguel, Santiago. Ele me reconheceria de olhos fechados no meio de uma centena de outros homens...no meio de uma multidão de clones meus, ele reconheceria o meu cheiro...aquele não é o cara com quem eu trepei por mais de um ano...não é o cara que desenhou esta casa!

César jogou o esboço do desenho que Miguel idealizara há 20 anos, cuidadosamente plastificado, na cara de Santiago. 

Ele o recolheu surpreso: não sabia que César o havia guardado. 

_O cara que escreveu este livro não existe mais!

Agora ele arremessava o caderno onde Miguel escrevera o famoso livro há 20 anos.

Santiago ficou olhando o vento agitar as folhas no chão da varanda. Não sabia se deveria se abaixar para recolhê-los naquele momento ou se deveria esperar até que César se acalmasse.

_Vocês todos estão loucos...aquele cara lá não é o arquiteto que Miguel sonhou ser...nem um escritor...nem gay ele é! Agora é um pai de família...cria filhos de outros homens...casou-se com uma mulher que fodeu com a vida dele no dia em que o traiu e levou o pai dele para impedir que ele se casasse comigo. 

Os olhos dele estavam totalmente ensandecidos e ele praticamente gritava com o assistente.

_Você se lembra disso...porque eu me lembro bem...você estava lá...ao nosso lado...festejando a nossa conquista quando ela pulou do carro acompanhada pelos nossos pais. Agora quer que eu esqueça tudo como se o cérebro detonado fosse o MEU..._ele deu um  tapa forte na lateral da própria cabeça._... e volte a me apaixonar por um hétero, casado, fabricante de chinelos...

_Chama-se T.O. ._interrompeu Santiago percebendo o desprezo dele diante de toda a luta de Miguel para chegar até ali.

_Como disse?_perguntou César.

_O serviço dele...a forma como ele se mantém...a forma como ele criou os filhos dele e como ele vive hoje...chama-se T.O.: Terapia Ocupacional. Ele aprendeu na reabilitação e abriu mão do salário que queriam pagar pela invalidez para, orgulhosamente, expandir o seu negócio como fabricante de chinelos de couro e livreiro. Ao contrário do que está insinuando, ele se orgulha da profissão e não se sente diminuído por isso.

_Sabe...eu juro que não entendo como vocês conseguiram manter contato com ele sem dar um fora comigo.

_Como disse o cara do banheiro...não se encontra o que não se procura. Você não estava exatamente tentando encontrar um cara que julgava estar morto._frisou Santiago.

César pegou um dos vasos que enfeitavam a mesa e o arremessou na parede, espatifando-o.

_Ei!_gritou Santiago._Eu amava aquele vaso!

Santiago correu até os pedaços no chão.

_Gastei um dinheirão pra comprar ele pra te dar de presente, lembra-se?

_Talvez estivesse na minha cara o tempo todo, mas não tinha como eu desconfiar que os meus supostos amigos me trairiam dessa forma...e eu não paro de pensar no que aconteceria se eu fosse lá agora mesmo, falasse tudo com ele, nosso casamento, nossas trepadas, nossos planos...bem na cara dele...

_Talvez você provocasse uma pirada básica no pobre rapaz._disse uma terceira voz entrando no quarto.

César viu os dois amigos parados na porta do quarto olhando sério para ele.

Santiago ficou imaginando se eles conseguiram sentir o ódio que o seu patrão lhes dirigiu naquele momento.


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MEU CORPO NÃO TE ESQUECE!-Armando Scoth LeeOnde histórias criam vida. Descubra agora