CAPÍTULO 6-CÉSAR NÃO ACREDITA EM NADA DO QUE VERÔNICA LHE CONTA

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Verônica percebeu que, finalmente, ele ficara mudo e aproveitou para falar.

_Ninguém esperava que vocês dois sobrevivessem a todos os ferimentos do acidente. Seu pai te levou embora e, na sequência, tivemos notícias de que vocês haviam saído do país, a fim de continuar seu tratamento lá fora, nos melhores hospitais do mundo. Miguel, porém, seguiu outro caminho, ficou com vários ferimentos graves pelo corpo, o mais grave na cabeça, o que o deixou em coma por 33 dias, internado por três meses e...ao contrário de você...que ao que me parece se recuperou totalmente...ele não teve a mesma sorte. Os médicos não souberam explicar o que aconteceu, mas ele parece ter apagado aqueles últimos anos da vida dele e, junto a essas memórias, ele pareceu eliminar a história de vocês, mesmo a homossexualidade dele...ou que não podia ter filhos.

_Isso é impossível!

César meneou a cabeça incrédulo.

_O que está dizendo, minha filha? Ninguém adormece gay e amanhece querendo uma mulher._disse irônico. _Invente outra, que essa não irá colar, Verônica. Ele nunca se esqueceria de nós dois...nunca!

Meneou a cabeça incrédulo. Nada fazia sentido.

_Já disse...não foi culpa dele, César. Você vai ver com os seus próprios olhos. Ele não se lembra de nada...nada!

César passou as mãos pelo rosto e tentou manter a lucidez. Estava ficando cada vez mais difícil digerir tantas informações desconexas e, especialmente, vindas daquela mulher. Mas aquelas fotos...ele não entendia...Miguel...casado com Verônica?

_Ah...e daí  ele deixou de ser gay e se apaixonou por você e vocês dois se casaram._debochou._Essa é a história mais idiota que você poderia inventar, pode ter certeza.

Jogou o álbum sobre a mesa! Sabia que aquilo tudo era mentira, mas não imaginava o que poderia ser a verdade!

_Você tinha ido embora...ele não se lembrava de nada...eu continuava apaixonada por ele...ainda te odiando por você tê-lo roubado de mim...

_Poupe os detalhes..._calou Verônica com uma expressão enojada.

_Está bem...Ele ficou na habilitação por vários anos...e eu não perdi a chance de reconquistá-lo, confesso. Era a minha chance de ter Miguel de volta e eu não pretendia perdê-la. Por isso, assim que ele melhorou, alguns meses depois, inventei toda a história de que estava grávida dele, que a gente era namorado e, claro, não esperava dele outra atitude a não ser se casar comigo...tão inseguro e confuso já se encontrava e eu me fiz um porto seguro na vida dele. Com o apoio total dos pais dele, que se sentiram abençoados por Deus ter salvado a vida do filho deles, o afastado do caminho da perdição da homossexualidade e ainda dar a eles uma nora e netos. Eles me adoravam, pode acreditar,  e a chance de ter netos os fez meus cúmplices imediatamente.

_Pare, pare, pare!

Novamente César ergueu a mão cansado de toda aquela história fantasiosa, impossível, ilógica da cabeça daquela mulher.

_E mesmo que tudo isso fosse verdade...por que você estaria me contando tudo isso agora...depois de vinte anos? Cansou do conto de fadas?

_Porque eu estou morrendo, César...e não quero que Miguel fique sozinho! Ele não pode continuar sozinho...sem mim...ele só tem a mim, agora..._a voz dela estava ruidosa.

_Os pais dele? Os irmãos?_César ergueu as sobrancelhas tentando esclarecer tudo de uma vez.

_A mãe morreu há dez anos e o pai há dois anos. Os irmãos não têm contato com ele, desde então. Não os vemos há mais de dois anos. Não posso deixar Miguel com eles...pra falar a verdade, nem sei pra onde eles se mudaram... e com os meus filhos, muito menos. São jovens, não têm cabeça para cuidar do pai.

MEU CORPO NÃO TE ESQUECE!-Armando Scoth LeeOnde histórias criam vida. Descubra agora