CAPÍTULO 28-CÉSAR TEM QUE ADMITIR QUE ESTÁ INSEGURO

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─Você só pode estar brincando...vocês passaram a tarde inteira sozinhos e você não conseguiu avançar um passo, César?_gritou Santiago assim que ele lhe revelou o que acontecera.

Na verdade, nenhum dos três conseguira evitar correr para a casa de César à noite para ver o que ele tinha conseguido, tão perspicaz sabiam que ele era.

César soltou os braços ao longo do corpo, se mostrando derrotado na frente dos três. Repetiu todos os foras que dera, admitiu como estava nervoso, a admiração ao observar Miguel tão concentrado realizando a tarefa que fora convocado pra fazer, com tanta dedicação e concentração como se fosse um cirurgião operando o cérebro de alguém.

─Teve um momento que eu juro que ele parecia nem respirar perto do livro, apesar de usar máscara, luvas, pinça...para não danificá-lo. Ele realmente leva a sério esse lance de livros raros, gente. Estou surpreso com a dedicação dele.

─Realmente, devo concordar com você...ele aqui todo sincero, todo profissional...e você soltando aquela de Bolsa de Nova York. Se ele me perguntar se você é sempre tão esnobe e que vive ostentando, vou confirmar._riu Aro sem se conter.

Era bom ver que o todo poderoso também cometia erros e era de carne e osso, de vez em quando.

─Não, gente...ele lá todo humilde...sacola de couro surrada...bermuda jeans velhinha...aquela camisa verde que ele adora...que eu dei no Natal passado...e o futuro patrão já deixando bem claro pra ele a posição de reles empregado na casa...como se precisasse, claro. Perdi meio milhão na Bolsa de Nova York..._falou Aro com uma postura de empáfia._Cara chato você, viu?! Gosta de humilhar os outros! Fica ostentando!

─Achei que queria jogá-lo na cama e não na lama. Depois de tanto tempo só estralando os dedos para atrair um homem, dando esse vexame...está perdendo a prática, meu velho...falta de treino, gente! Já foi mais habilidoso, garanhão da cidade! Época boa..._Santiago suspirou.─Aliás, se quiser umas dicas...Miguel nos ama, já deve ter percebido.

─Vinte anos fora do país e não aprendeu nada sobre os homens? Todo aquele rompante de predador insaciável naqueles tempos áureos, pra agora ficar expulsando o único homem que quer levar pra cama. Lamentável...lamentável...

César sabia que eles iriam espezinhá-lo até se fartarem, como vingança por, novamente, ele os estar rejeitando e preferindo Miguel. Parecia um D'ejavu.

Enquanto eles faziam suas piadas, ele ficou analisando se ele sabia realmente conquistar um homem. Afinal, tinha que confessar pra si mesmo...algum dia precisara realmente conquistar um homem? Era só um olhar e, no momento seguinte, lá estava o cara aos seus pés. Eram atraídos para ele como um ímã...abelha atrás do mel.

─Confesse que perdeu o jeito!_assustou-se com a almofada que Aro jogou nele, enquanto estava perdido nesses pensamentos.

César atirou a almofada longe e se levantou irritado. Não precisava ficar ali sendo alvo dos comentários deles. Aliás, não estava a fim de ver ninguém, além de Miguel.

─Já chega! Não estou com tempo e nem com saco para ficar ouvindo as lamúrias de vocês. Aliás, vocês têm vinte anos de vantagem sobre mim e eu tenho apenas um único pedaço de dia para atraí-lo novamente.

Santiago tomou a palavra:

─Ok, agora vamos ao que interessa. O médico me disse hoje que, do jeito que a doença está evoluindo, Verônica deve ter menos de um mês. O câncer está atingindo órgãos vitais numa rapidez monstruosa e o estresse de César não conseguir atrair o marido dela está só acelerando essa invasão.

De repente, os quatro ficaram sérios. Realmente, não dava pra brincar com aquele quadro.

─E tem mais. Miguel disse que suspendeu os medicamentos que o deixam sonolento para ficar mais tempo alerta ao lado da esposa. No fundo, acho que ele finge que acredita que é só uma gastrite, mas já percebeu que é algo mais sério e tenta enganar a si mesmo. Isso significa regredir no tratamento dele e...por experiência própria, correr o risco dele surtar mais intensamente, com a morte dele. _completou Santiago.

─Se estando estabilizado, ele já vai dar um troço, imagine sem os medicamentos._Aro passou a mão no rosto.

César não conseguia controlar a velocidade com que pensamentos negativos se formavam em seu cérebro. Pensamentos  como "a cadela não pode se segurar mais? Meu Deus! Era pra eu estar aplaudindo diante da morte dela, porém, vou ter que rezar pra ela não morrer?"

─César, se prepare...você nem tem ideia do que era Miguel sem os medicamentos...nem sonha o que é aquilo ali descontrolado...teve uma mostra no estacionamento._Flávio o informou.─O pior é que ele não quer aceitar a enfermeira, que prometemos pagar pra Verônica. Ela poderia ficar lá parte do dia ou mesmo à noite, mas ele não aceita. Ele não é bobo...está vendo o estado dela. Não sabe que é câncer, mas sabe intuitivamente que é algo grave. Ninguém vai conseguir arrastá-lo dali, daqui a pouco. Mal vai em casa tomar um banho e já volta.

De repente, o telefone de Flávio tocou. Os amigos o observaram em suspense quando ele  adotou uma expressão alarmada.

─Era Miguel. Ele disse que Verônica piorou bastante. Disse que os médicos mandaram ele sair do quarto e não querem deixá-lo entrar pra vê-la. Acho melhor a gente ir pra lá. Ele está muito alterado.

César se adiantou aos outros e foi detido pela mão que Santiago colocou no seu peito, para barrá-lo.

─Acho melhor você ficar aqui. Você já esgotou o seu repertório de "foras" por hoje. Miguel não vai entender você chegando com a gente no quarto da mulher dele. Lembre-se...você acabou de conhecer os dois e o que ele pode esperar disso é um "sinto muito", quando ela se for.

César teve que concordar.

MEU CORPO NÃO TE ESQUECE!-Armando Scoth LeeOnde histórias criam vida. Descubra agora