CAPÍTULO 31-MIGUEL DESAPARECE!

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O velório foi curto e o enterro rápido.

Uma chuva torrencial impediu que muitas pessoas comparecessem ao velório de Verônica.

Filha única e tendo os pais já falecidos, apenas duas primas  e um tio vieram representar o restante da família.

Os filhos também não ficaram muito tempo e logo voltaram para a capital.

Acompanhados pelas namoradas, verteram meia dúzia de lágrimas, como manda a tradição e a postura.

Suspiraram aliviados ao saberem que não precisariam cumprimentar o pai de criação, já que foram informados que ele fora sedado e que, de comum acordo, todos decidiram que não seria seguro acordá-lo para ir ao enterro.

César não discutiu quando os amigos acharam de bom tom dar um enterro digno a ela, a título de Miguel não se irritar mais tarde devido a alguma precariedade dos serviços funerários.

O empresário se recusou terminantemente a comparecer ao cemitério a fim de posar de amigo solidário. 

Não se sentia na obrigação de fingir, por mais aquele período, que não odiava a mulher que destruíra a vida dos dois e que inconvenientemente partia em má hora, antes de ter devolvido  Miguel ao seu marido.

Ele decidiu, por conta própria,  ingerir dois comprimidos para dormir, visto que a cabeça parecia que iria explodir. Mesmo assim, teve um sono agitado.

Santiago tinha ordens de ficar de plantão no hospital para informá-lo assim que Miguel recuperasse a consciência.

Ele preferiu acreditar que o esposo já estaria mais relaxado e livre daquela postura de um homem louco.

De olhos fechados, César deixou que a água morna lhe molhasse a cabeça, os ombros e descesse pelo corpo arrastando todo o estresse que tivera nos últimos dias.

Tinha esperança de que, finalmente, pudesse relaxar um pouco e seguir com sua reconquista de Miguel, mesmo que isso significasse tirá-lo do Brasil e ir em busca dos melhores tratamentos no exterior.

Estava na mesa de café da manhã, quando Santiago chegou. Parecia exausto.

─Se você está aqui é porque ele ainda não acordou, de outra forma teria me ligado e eu já estaria a caminho do hospital._disse César tomando o seu café.

Santiago preferiu esperar que ele terminasse e ficou em silêncio. Sabia como ele ficaria irritado com a notícia que ele trazia.

─César, a gente decidiu que não havia necessidade de lhe comunicar os últimos acontecimentos, visto que você realmente não estava em condições de lidar com Miguel naquele estado. Num momento em que ele recobrou a consciência e se mostrou apto a saber toda a verdade, o médico pode explicar calmamente que a esposa realmente morrera de câncer. Quando ele voltou a se alterar em desespero, novamente foi sedado, por segurança.

César tombou a cabeça de lado e fechou os olhos, balançando a cabeça lentamente.

─Realmente, suas longas introduções me tiram do sério...

Santiago pigarreou.

─Miguel acordou e não quis ver ou falar com nenhum de nós três. Talvez ache que nós o traímos ao omitirmos a verdade sobre o estado dela. Nos ignorou totalmente. Saiu do hospital e nós entendemos que ele voltaria para casa, porque ele poderia querer reviver algumas lembranças e só estava com as roupas do corpo, afinal...mas...

César sentiu uma pontada no peito.

─Mas..._levantou o dedo em riste ainda sem olhar para a cara do funcionário.─Onde...ele...está...agora?

MEU CORPO NÃO TE ESQUECE!-Armando Scoth LeeOnde histórias criam vida. Descubra agora