César ouviu alguém bater educadamente em sua porta.
─Posso entrar?
Ficou surpreso quando levantou os olhos do laptop e se deparou com Miguel na porta do seu escritório.
Ele acabara de tomar banho e vestia uma calça de moletom azul marinho e uma camiseta azul clara. César já conhecia todos os três pijamas surrados de Miguel.
Quando poderia levá-lo para um banho de loja, afinal?
─É claro, entre, por favor._disse desligando o aparelho e o colocando num canto da mesa.
─Sei que é um homem ocupado e não quero incomodar.
─Nada tão urgente assim. Sente-se._indicou um sofá confortável para que o outro se sentasse.
Contrariando os desejos de César, Miguel se posicionou na ponta do sofá, indicando que o diálogo seria breve.
─Queria, mais uma vez, lhe agradecer por tudo que está fazendo por mim...mesmo sabendo que só está atendendo a um pedido do seu namorado.
César já perdera a conta de quantas vezes quase cedera ao impulso de perguntar "que namorado". Controlou-se a tempo mais uma vez.
─Nunca poderei lhe pagar o que fez pela minha esposa, claro. Mas, infelizmente, vim lhe avisar que, a partir de semana que vem, precisarei sair às 22 horas e só poderei retornar às seis da manhã. Mas pode ficar tranquilo que isso não atrasará o meu serviço com os livros. Só achei que deveria avisar, caso perceba a minha ausência e venha a avaliar mal a minha conduta, claro.
César não conseguiu deter a próxima frase.
─Quer dizer...passar a noite fora? Como assim?
A exaltação não passou despercebida a Miguel que se apressou a esclarecer:
─Dou a minha palavra de que não será para noites de farra ou para chegar aqui bêbado no outro dia, posso lhe afiançar. É que um dos meus filhos está com dificuldades para pagar as contas da faculdade e eu, como pai, me sinto na obrigação de ajudar, claro.
César agradeceu mentalmente por Miguel não ter percebido as mãos dele se crisparem nos braços do sofá, quase os destroçando.
─Sem querer me intrometer, claro...mas Santiago me disse que você vendeu a casa e dividiu o dinheiro com os dois, sem, inclusive, guardar nada pra você. Achei que isso lhes garantiria um bom tempo de custeio das despesas, não?
─É verdade. Mas sabe como é...jovem quando vê tanto dinheiro entende que está rico e sai gastando por aí, se esquecendo até dos próprios compromissos.
César percebeu que ele parecia se envergonhar por admitir que não dera uma boa educação aos filhos.
─Pois é...ele comprou um carro, fez alguns passeios e aí me ligou dizendo que eu esqueci de depositar a mensalidade da faculdade. É isso._finalizou.
César resolveu se levantar e ficar de costas, para que ele não percebesse como estava indignado.
Não dava pra acreditar que os filhos postiços de Miguel o abandonaram assim que a mãe morreu, mas não se envergonhavam de explorar o pai daquele jeito.
Respirou fundo, antes de se virar, mais controlado, e responder:
─Entendo._pigarreou.─Sem querer me intrometer novamente, poderia me dizer que tipo de serviço pretende fazer?
─Bom, não é lá grandes coisas. O salário, na verdade, só dará pra pagar a mensalidade do Marcos, entende? Serei vigia naquele posto na saída da cidade, é isso.
─Vigia noturno num posto de gasolina durante à noite?
Será que ele perceberia como os olhos de César estavam arregalados?
─Bem...é um serviço perigoso, posso concordar com sua expressão, mas prometo tomar cuidado. O que não posso é deixar um dos meus filhos sem estudar. Já chega o pai que não tem formação nenhuma e não passa de um simples livreiro.
César não soube mais o que falar, diante do semblante do pai aflito que deu boa noite e foi dormir.
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MEU CORPO NÃO TE ESQUECE!-Armando Scoth Lee
RomanceCésar viveu 20 anos acreditando que seu marido Miguel estava morto! De repente, no banheiro de uma galeria de artes nos Estados Unidos, um homem desconhecido e sedutor sussurra no seu ouvido: "Ele está vivo!". Aquela frase mudaria a vida de César p...